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Aramis

"Pecados de Guerra", mais uma denúncia da guerra do Vietnã

Continua atraente a temporada cinematográfica. Afora os (excelentes) filmes que permanecem em exibição, catipultados pelo Oscar - "Conduzindo Miss Daisy" (Lido II e agora no Itália), "Sociedade dos Poetas Mortos" (Bristol) e "Nascido a 4 de Julho" (Condor / Lido I), teremos, no próximo dia 12, a estréia nacional de "Meu Pé Esquerdo", de Jim Sheridan, que valeu os Oscars de melhor ator (Daniel Day Lewis) e atriz coadjuvante (Brenda Fricker), no Cine Astor (pré-estréia, em benefício da Legião Brasileira de Assistência, dia 11). Também no dia 12, no Plaza, estréia "Tempo de Glória" (Glory), de Edward Zwick, que teve várias nominations e deu a Denzel Washington a chance de ser o quarto ator negro a receber o Oscar - o segundo como melhor coadjuvante (a primeira negra premiada, como coadjuvante, foi Hattie McDaniel, a "Mammy" de "E o Vento Levou..." em 1939). Como os dois filmes de lambada fracassaram em Curitiba, a carreira de "Lambada, a Dança Proibida" foi cortada na última segunda-feira, quando, inesperadamente, estreou no Plaza o interessante "Pecados de Guerra", de Brian de Palma - que fez uma boa dobradinha com "Born at 4 of July", para (re)apreciação da estupidez que foi a guerra do Vietnã. Já "Botando Fogo na Noite", de Joel Silberg, completa hoje sua segunda semana no São João - e a partir de segunda-feira entra em programa duplo no Morgenau. Com todo o vigor, coragem e sinceridade, "Mentiras, Sexo e Videotape", de Steven Sordeberg, continua no Cine Ritz. Já no Luz, graças EXCLUSIVAMENTE as Fundações Japão / Cinemateca Brasileira, realiza-se uma importante mostra, com filmes do cineasta japonês Yasujiro Oju (1903-1963), cultuadíssimo pelos que apreciam o cinema japonês - mas totalmente ignorado para o grande público. Carlos Augusto Calil, um dos mais sérios executivos cinematográficos, diretor da Cinemateca Brasileira, organizou esta mostra com muito cuidado, que, generosamente, cedeu para ser apresentada em Curitiba. Mais uma (entre muitas) dívidas que a Fucucu passa a ter com a Fundação Cinemateca Brasileira, que constantemente está salvando a nossa precaríssima programação cinematográfica. Finalmente, o Cine Groff fechou para reformas. Segundo releases oba-oba distribuídos pela Fucucu, nada menos que 250 mil cruzeiros serão gastos para a reforma daquela sala, inaugurada em 1981 e que foi sendo deteriorada devido a falta de cuidados (o mesmo acontecendo aliás, com outras salas do circuito oficial, incluindo a Cinemateca, precaríssima, banheiros imundos e quebrados, etc.). Vamos ver se após consumir tanto dinheiro em sua reforma, o Groff será melhor conservado, e, principalmente, melhora a programação - nos últimos tempos apenas com cansativos (e dispensáveis) reprises de filmes que se encontram a disposição em vídeo. Panorama Yasujiro Oju - Infelizmente o cinema japonês é praticamente desconhecido em Curitiba. Como a colônia nipônica entre nós sempre foi pequena e de tímida atuação cultural, aqui nunca existiram salas para divulgar o importante cinema daquele país - ao contrário do que acontecia em São Paulo e várias cidades do Norte (Londrina, Maringá e, especialmente, Assaí e Uraí). José Augusto Iwersen, o bravo pioneiro do cinema de arte, há 20 anos, no Riviera, tentou fazer alguns ciclos, mas a resposta comercial sempre foi pequena. Na Sociedade Glória, da comunidade nissei, aconteciam projeções, mas que não eram divulgadas fora da colônia. Por isto, só mesmo Akira Kurosawa é o nome famoso do cinema japonês - embora haja pelo menos 10 outros importantes realizadores. É o caso de Yasujiro Oju, tão notável que o alemão Wim Wenders, em 1985, lhe dedicou um documentário: "Tokio-Ga 86", inédito no Brasil. Um pouco do melhor dos 53 filmes que Oju realizou entre 1927/1963 foi selecionado por Carlos Augusto Calil para esta mostra iniciada ontem e que com dois filmes por dia, prosseguirá até a próxima quarta-feira. Hoje, sexta-feira, serão apresentados "Filho Único" (1936, p&b, legendas em português, 14 e 20 horas) e "Eu Vivi, mas..." (1938, cor, legendas em inglês, 16 e 22 horas). Amanhã, "O Sabor do Chá Verde Sobre o Arroz" (1952, p&b, legendas em inglês) e "A Flor do Equinócio" (1958, legendas em espanhol). No domingo, "Ervas Flutuantes" (1959) e "Fim de Verão" (1961). Na segunda-feira, somente um filme, devido a ter metragem maior: "Era uma Vez em Tóquio" (1953, p&b, legendas em português, 15 e 20 horas). Um festival para o público específico, interessado em conhecer a obra de Oju, que com atraso de 27 anos sobre a sua morte, finalmente começa a ter um reconhecimento no Brasil. "Pecados de Guerra", a exemplo de "Nascido a 4 de Julho", foi baseado em fatos reais. Relatando um fato que chocou a opinião pública americana, ao ser denunciado pela revista "The New Yorker" em 18 de outubro de 1969, "Casualties of War" relata a ação de um grupo de militares americanos que seqüestram, violentam e assassinam uma jovem vietnamita, Oahn (Thuy Thu Le). O único soldado que não participou do crime, Erikson (Michael J. Fox, mostrando que não é apenas o babaca ator da série "De Volta para o Futuro") entra em crise, pois entre a violência praticada pelos seus quatro companheiros - liderados pelo sargento Meserve (Sean Penn), que havia salvo sua vida, e a necessidade de denunciar o crime, opta pela necessidade de buscar justiça. Dividindo a crítica - e não tendo obtido nenhuma indicação ao Oscar - "Pecados de Guerra" é, entretanto, um filme vigoroso, com um roteiro enxuto de David Rabe, baseado no livro de Daniel Lang, fotografia de Stephen Burun e ótima trilha sonora de Ennio Morricone. De Palma ("Os Intocáveis") sabe conduzir as cenas e extrai interpretações vigorosas de Fox, Penn e os outros atores - todos new faces, como Don Haervey (que apareceu em "Eight Men Out", de John Sayles, inédito no Brasil, abordando a história dos jogadores de beiseball que em 1919 foram acusados de corrupção, tema de "O Campo dos Sonhos"), John C. Reilley (vindo do teatro, está no elenco de "Não Somos Anjos", próximo lançamento no Lido I) e John Leguizando, visto em alguns episódios da série "Miami Vice". A única atriz é a vietnamita Thuy Thu Le, em sua primeira experiência cinematográfica. "Uma Criança por Testemunha" em exibição no Astor, lembra, em alguns aspectos, a história de excelente "A Testemunha", de Peter Weir. Travis (Harley Cross), 9 anos, está escondido com seus pais em Oklahoma enquanto espera para testemunhar contra alguns criminosos. Para fugir de atentados, a família foi isolada numa fazenda, protegida por agentes do FBI. Cohen (Roy) e Tate (Adam Baldwin), dois assassinos profissionais, chegam a fazenda, eliminam os pais do garoto e os agentes do FBI e seqüestram Travis. Mas o pai do garoto sobrevive e ao saber disto, o garoto tenta fugir. Bem, o resto a gente não conta, pois sendo um thrilling, tem que ser visto na tela. Roy Scheider é o único ator conhecido do elenco: apareceu em "Klute", "Operação França" e "Tubarão", mas foi "All That Jazz / O Show Deve Continuar", de Bob Fosse, que se tornou um astro, ganhando uma indicação ao Oscar em 1979, perdendo para Dustin Hoffmann ("Kramer vs. Kramer"). Adam Baldwin, que interpreta Tate, o outro criminoso, começou aos 15 anos em "Cuidado com meu Guarda-Costas", comédia juvenil de Tony Bill e posteriormente fez "Gente como a Gente" e "Nascido para Matar", entre outros. "Cohen & Tate" marca a estréia na direção de Eric Red, que vem de uma boa carreira como roteirista ("The Hitcher", "Quando Chega a Escuridão") e que anteriormente havia realizado apenas um curta-metragem, "Gunman's Blues", naturalmente inédito fora dos Estados Unidos. Outras opções - Afora os filmes que disputaram o Oscar nas categorias principais, a recomendação vai para "Sexo, Mentiras e Videotape", realmente uma obra inovadora, corajosa e profunda - para audiências especiais. No São João, retorna "O Vingador dos Punhos de Ouro", de Joe Roth, com Klaus Maria Brandauer, cuja carreira havia sido cortada há duas semanas pela estréia de "Botando Fogo na Noite - Lambada / O Original". No Guarani, retornou "Laranja Mecânica" (Clockwork Orange), 1971, de Stanley Kubrick, do romance de Anthony Burgess, um clássico. No Palace Itália, estréia uma nova fita importada pela Paris Filmes, na linha de terror explícito, que deve permanecer várias semanas em cartas: "Hellraiser - Renascido do Inferno", de Clive Barker, com Andrew Robinson, Claire Higgins e Ashley Laurence. Um programa para competir com o novo Stallone - "Tango & Crash - Os Vingadores", de Andrei Konchalovsky, que a Warner lança no próximo dia 12 no Bristol, em substituição a "Sociedade dos Poetas Mortos". LEGENDA FOTO - Harley Cross, um novo astro infantil, está em "Uma Criança por Testemunha", no Cine Astor.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
06/04/1990

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