"Nascido para Matar", a melhor estréia da semana
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 21 de janeiro de 1988
Não há o que discutir: o melhor lançamento da temporada - e a primeira grande estréia do ano - é "Full Metal Jacket / Nascido para Matar", de Stanley Kubrick (Cines São João e Itália, desde ontem, em lançamento nacional).
Às vésperas de completar 60 anos, 37 de cinema - seu primeiro filme, "Day of Fright" é de 1951 (e só em 1953 faria o primeira longa, "Fear and Desire", nunca exibido no Brasil), Kubrick está na categoria dos mais importantes diretores do cinema mundial. É lento na realização de seus filmes, mas em todos os gêneros tem apresentado obras-primas - seja no policial ("A Morte Passou por Perto", "O Grande Golpe"), histórico ("Spartacus" e "Barry Lyndon"), comédia ("Dr. Fantástico"), ficção científica ("2.001") e na crítica profunda da guerra - que fez há 31 anos no demolidor "Glória Feita de Sangue" (Paths of Glory) e que retoma agora, naquele que já vem sendo definido como o mais profundo e sério filme sobre a guerra do Vietnã.
Desde suas primeiras exibições, em outubro do ano passado, muito já se escreveu em torno de "Nascido para Matar" - e muito ainda se falará deste filme seco, duro - que praticamente divide-se em dois. Na primeira parte, o treinamento num quartel no qual um sargento cruel (Lee Ermey, que por sinal foi realmente militar no Vietnã), transforma ingênuos jovens em máquinas de matar. Na segunda parte, que coincide com a chegada do Tet - o ano novo vietnamita - a ação se passa para o campo de batalha. "Full Metal Jacket" é um filme denso, que pega o espectador da primeira a última cena e o faz ficar preso à tela.
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Para muitos fãs de Carlos Saura, que se deslumbraram com "Bodas de Sangue" e, especialmente, "Carmen", o terceiro filme de sua trilogia da dança - "Amor Bruxo" (Cine Ritz, terceira semana), decepciona. Amargo, duro, esta coreografia desenvolvida a partir da música de Manuel de Falla não tem a leveza e o encanto das obras inspiradas em Lorca e Bizet - pontos de partida para os filmes-dança anteriores. Entretanto, não chega a ser um filme menor na obra de Saura, ao contrário. Há um completo domínio de câmera e o filme tem um ritmo marcante. Se mesmo numa época de esvaziamento da cidade devido às férias - e sem aquela faixa fiel de estudantes de academias de dança a renda de "Amor Bruxo" está sendo razoável, imagine-se o quanto o filme iria faturar se tivesse sido lançado a partir de março. Pelo visto, a 20th Century Fox, que distribuiu o filme, e o bom Chico Alves, bobearam ao programar este filme nesta época.
A propósito, o bom Chico, o homem que conseguiu passar a perna no Aleixo Zonari (derrubando sua intenção de reprisar "Radio Days") está agora com o compromisso moral de reprisar no Luz os bons filmes que passaram em 1987 sem maior repercussão. Tanto é que programou para substituir "A Era do Rádio", o enternecedor "Conte Comigo" (Stand by Me), que Rob Reiner (filho do diretor Carl Reiner) realizou com base num conto de Stephen King. Mas não se trata de um filme de terror! É uma crônica emocionante sobre um episódio na vida de quatro amigos nos anos 50. Um filme terno, belíssimo, com envolvente trilha sonora que merece ficar no mínimo duas semanas em cartaz. E há outros ótimos filmes que o bom Chico deve programar para o Luz: "Deserto em Flor", "Lucas - A Inocência do Primeiro Amor", "O Romance de Murphy" - sem falar em "O Exército Inútil", de Robert Altman, cujo relançamento, numa das salas da Fundação, há muito já deveria ter acontecido.
"Chico Rei", de Walter Lima Júnior - um bem intencionado painel histórico em torno de um personagem lendário - continua em cartaz no Cine Groff. Apesar de ter sido uma produção tumultuada, com muitas dificuldades em sua finalização, Waltinho conseguiu um resultado expressivo. O ponto alto é a trilha sonora, costurada por Wagner Tiso e que reúne, entre outros, Milton Nascimento, o grupo Vissungo e a grande Clementina de Jesus (1898-1987), em suas últimas gravações. A sound track de "Chico Rei" foi lançada em elepê pela Sigla/Som Livre, que, consta, estaria disposta a investir firme na produção de boas trilhas do cinema brasileiro.
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"S.O.S. - Tem um Louco Solto no Espaço", nova irreverência de Mel Brooks - desta vez satirizando "Guerra nas Estrelas", "O Planeta dos Macacos", a série "Jornada nas Estrelas" e "Alien" - estreou inesperadamente, na semana passada, no Condor. Apesar de inferior aos outros filmes de Brooks, tem elementos de diversão e no elenco estão o próprio Mel Brooks, John Candy, Rick Moranis, Bill Pullman, Daphne Zuniga e Dick Van Patten. Continua em exibição.
"Um Hóspede do Barulho" passou para o Lido II, nas sessões da noite (à tarde, continua "Os Fantasmas Trapalhões"), enquanto que "Viagem Insólita" está em exibição agora no Cinema I. No Lido I, estréia hoje uma comédia sem maiores referências: "Alguém muito Especial" (Some Kind of Wonderful), de Howard Euchs, com Eric Stoltz e Lea Thompson. "King Kong 2" continua no Palace Itália, enquanto a reprise de "O Exterminador do Futuro" também emplacou: permanece em exibição no Plaza.
No Groff, amanhã à meia noite e domingo às 10h30min, mais um filme de Woody Allen: o delicioso "Broadway Danny Rose". No domingo, no Luz, reprise novamente de "A Dança dos Bonecos", de Helvécio Ratton.
LEGENDA FOTO - Meg Ryan, esta loirinha deliciosa é a jornalista Lydia Maxwell em "Viagem Insólita", que continua em cartaz. Agora no Cinema I.
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