E a emoção de Miss Daisy ganhou na festa do Oscar
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de março de 1990
O sentimentalismo venceu a política na conservadoramente equilibrada distribuição dos 23 Oscars na noite de segunda-feira, 26. Se "Nascido a 4 de Julho", politicamente o mais importante dos filmes indicados neste ano, ficou apenas com dois troféus - montagem (Davis Bremer e Joe Butshing) e direção (Oliver Stone), "Conduzindo Miss Daisy" levou 4 dos 9 Oscars para os quais havia recebido nominations: filme, atriz (Jessica Tandy, 81 anos), roteiro adaptado (Alfred Uhry, autor também da peça original) e maquiagem (Manlio Rochetti, Lyn Barber e Ken Harvey). Ao receber o prêmio, Jessica fez questão de salientar o nome do diretor Bruce Berensford, excluído dos indicados em sua categoria.
Antes, Kim Bassinger, belíssima como sempre, fez o único e tênue protesto da noite: o fato de "Faça a Coisa Certa" só ter merecido a indicação a ator coadjuvante (Danny Aiello) e roteiro original. Em fevereiro, quando foram anunciados os filme concorrentes, três fatos mereceram críticas: "Do The Right Thing" de Spike Lee e "Sexo, Mentiras e Videotape" de Steven Sondenberg só terem ganho indicações como roteiro originais (quando, por seus sentidos políticos-inovadores, mereceriam maiores destaques) e o contundente documentário "Roger and me" de Michael Moore" (uma denúncia sobre a indústria automobilística americana) não ter sido incluído entre os documentários longa-metragens concorrentes.
Oliver Stone, 44 anos, que já ganhou Oscars como roteirista ("O Expresso da Meia Noite", 1978) e diretor ("Platoon", 1986, que ganhou também os prêmios de melhor filme, montagem e som) embora saindo com seu segundo Oscar de direção, merecia mais: "Born at Fourth of July" (cines Condor e Lido I) é um filme tão atual e vigoroso que deveria ter maiores premiações.
O otimismo francapreano do praticamente estreante Phil Alden Robinson em "O Campo dos Sonhos" não sensibilizou os quase 5 mil membros da Academia: com 3 indicações - inclusive de melhor filme - saiu sem nenhum prêmio. Aliás, uma coincidência: por duas vezes, durante a festa, houve referências a nova dança-modismo - a lambada, e, em Curitiba, a carreira de "Field of Dreams", no cine Plaza, foi estupidamente cortada para a exibição de "Lambada - a dança proibida" (estreou, inesperadamente, no sábado no cine Plaza) - candidato a relação dos piores filmes do ano, mas que obteve prioridade neste seu lançamento nacional.
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A internacionalização na festa, com transmissões ao vivo de cinco partes do mundo, foi uma atração extra para um evento que hoje se constitui no que atinge o maior público via televisão. Em Moscou, brilhante como sempre, Jack Lemmon ao lado da sex symbol do novo cinema soviético, Natalie Negoda, anunciou uma das mais justas escolhas, o Oscar de melhor filme estrangeiro para "Cinema Paradiso". Pena que no Dorothy Chandler Pavillion, o produtor Franco Cristaldi tenha gasto os 45' para falar um monte de bobagem, tirando assim a chance do diretor-roteirista do filme premiado, Giuseppe Tornatore, aparecer no vídeo.
Para evitar que os discursos estourassem o tempo (assim mesmo houve 35 minutos a mais), os agradecimentos foram fixados em 45 segundos - e manteve-se a tradição: agradecimentos a mamãe pautaram pelo menos os discursos de 10 dos oscarizados durante a noite. Em Buenos Aires, Charlton Heston e a atriz argentina Norma Aleandro ("A História Oficial", "Gaby") anunciaram os vencedores na categoria de documentários - os quais, infelizmente, nunca são exibidos no Brasil. Em Sidney, Austrália, os trapalhões Raquel Ward e Bryan Brown - já na hora do almoço - anunciaram categorias técnicas de som - edição de feitos sonoros ("Indiana Jones e a Última Cruzada") e som ("Tempo de Glória", um dos três Oscars levados por este filme que teve 5 nominations e ainda não estreou no Brasil). "Meu Pé Esquerdo", produção irlandesa sobre um artista plástico paralítico, acabou valendo prêmios de interpretação para a desconhecida Brenda Fricker como melhor coadjuvante e Daniel Day Lewis "Uma Janela para o Amor", "A Insustentável Leveza do Ser") como ator principal - no dificílimo páreo em que venceu o favorito Tom Cruise.
O inglês Keneth Branagh, que com "Henry V" (também sem data de lançamento no Brasil) já é considerado uma reedição de Laurence Olivier, concorrendo em três categorias, perdeu como ator/diretor, mas o filme valeu na categoria de figurinos.
Woody Allen, a quem a Academia não perdoa desde que em 1978 se recusou a trocar sua jam-session no Michael's Pub, em Nova York, para receber o Oscar de melhor filme e direção ("Annie Hall/Noivo Neurótico, Noiva Nervosa") foi escamoteado mais uma vez: com três indicações - ator coadjuvante (Martin Balsan), direção e roteiro - ficou sem nenhuma prêmio. O que pouco deve ter preocupado o genial cineasta: assim como Marlon não compareceu (era candidato a melhor coadjuvante, categoria em que foi premiado o jovem ator negro Denzel Washington, de "Glory"), Woody novamente preferiu ficar na Big Apple tocando jazz do que ir a Califórnia.
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