Login do usuário

Aramis

Nenhuma estréia mas voltam muitos filmes de qualidade

Início de ano, programação cinematográfica tranqüila. Permanecem em cartaz os lançamentos de maior apelo popular feitos no Natal e voltam muitas reprises. Partindo do raciocínio de que todos estão em férias, os exibidores não se arriscam com grandes novidades, preferindo programas de censura livre. Só que desenhos e filmes ingênuos não funcionam nos horários da noite e assim temos programações duplas. O Lido II, por exemplo (que está uma sauna, devido à falta de ar condicionado) exibe nas sessões da tarde o desenho de longa-metragem "As Peripécias de um Ratinho Detetive" e, à noite, reprisa - sempre com bom público - "De Volta para o Futuro", de Robert Zemeckis - que esteve entre os preferidos do público em 1986 e ganhou várias indicações nas listagens dos melhores do ano. Também no São João, o mesmo esquema foi adotado pelo jovial e simpático executivo da Fama Filmes, João Aracheski: às 14, 16 e 18 horas reprisa "O Cangaceiro Trapalhão", com a turma de Renato Aragão e, à noite, continua em cartaz o aterrorizante "A volta dos mortos-vivos", um filme de terror na linha brega. MORREM OS CINEMAS - Como os cinemas estão desaparecendo - vide nosso comentário na coluna "Tablóide", sobre o fechamento do Vitória no próximo dia 29 e a brutal atitude da Fundação Cultural de Curitiba em exigir de volta o cine Rui Barbosa, diminuem as opções de lançamento. O Vitória vive seus últimos dias, pois no dia 29 de janeiro cerra definitivamente as portas. "Short Circuit - o incrível robô", de John Badham, que ali estava em exibição, passou para o Cinema I, enquanto retornou na sala "Inimigo meu", de Wolfgang Petersen. "Short Circuit", do mesmo diretor de "Jogos de guerra" - com uma história que lembra "Herbie" e "E.T.", deveria fazer melhor carreira. O tema é fascinante, Badham é competente e o elenco é de jovens e simpáticos intérpretes da nova geração: Ally Sheedy, Steve Futtenberg, Fischer Stevens e Austin Pendleton. Entretanto não rendeu o suficiente para permanecer no Vitória, transferindo-se assim para o cinema da Rua Saldanha Marinho. "Inimigo meu" (Enemy mine), uma superprodução de Stephen Friedman, veio credenciado pela competência de Wolfgang Petersen, o cineasta alemão revelado (ao menos no Brasil) por "Das Boot", que há 4 anos lhe valeu indicações ao Oscar de melhor diretor e roteiro adaptado. Posteriormente, Petersen dirigiu outro grande sucesso - "A história sem fim", o mais belo filme destinado à infância nestes últimos anos. De um romance de Barry Longycar, realizou em 1985 o profundo "Inimigo meu", que mais do que uma ficção científica, é uma obra em que emoções elementares - como o amor e ódio, fraternidade e honra - vêm à tona quando dois pilotos espaciais inimigos se encontram num distante sistema solar. Davidge (Dennis Quaid Jr.), um terráqueo embrutecido pelas batalhas e Jeriba Shigan (Lois Gosset, Jr.), um Drac do planeta Dracon - na verdade um ser complexo, de aspecto físico estranho aos olhos humanos e orgulhoso herdeiro de uma cultura ancestral, são inimigos que estão em guerra quando suas naves caem num planeta hostil, Fyrine IV, o qual é constantemente bombardeado por chuvas de meteoros e habitado por seres extremamente carnívoros. Desenvolve-se entre os dois sobreviventes uma relação estranha com uma profunda lição de humanismo. Um belo filme, com excelentes efeitos especiais, produção esmerada e bela trilha sonora de Maurice Jarre. BOAS REPRISES - Francisco Alves dos Santos foi previdente. Sentindo que "A história oficial", de Luiz Penzo, estaria entre os dez melhores filmes do ano não teve dúvidas: conseguiu junto à Paris Filmes a reserva desta obra-prima do cinema argentino contemporâneo para reprisá-lo na segunda semana de janeiro e, desde ontem, o político filme está sendo apresentado no Groff. embora esteja também à disposição em vídeo, a emoção de rever "A história oficial" na tela ampla é muito maior. Premiado com o Oscar de melhor filme estrangeiro-1986, "A história oficial" situa-se ao lado do aguardado "Tangos - o exílio de Gardel", de Fernando Solanas (que o João Aracheski promete trazer em breve para o novo Bristol) entre as melhores realizações do renascido cinema argentino. "A história oficial" é documento de um passado recente da Argentina: a época da ditadura militar, dos "desaparecidos", da violação dos direitos humanos. Luiz Puenzo retrata, sutilmente, esta época - um pesadelo que o Brasil também conheceu e que ainda aflige ao menos dois países da América do Sul - Bolívia e Paraguai. Isto faz com que a empatia deste filme seja intensa e o tem feito receber dezenas de prêmios em vários festivais, inclusive o Oscar. Norma Aleandro, que já era uma consagrada atriz argentina antes de seu exílio, de volta à Argentina em 1982, é a atriz principal de "A história oficial". Ao seu lado, outro ator notável - Hector Alterior, que, também exilado por alguns anos, na Europa atuou em dois filmes marcantes - "Cria Cuervos", de Carlos Saura e "Quarteto Basileus", que esteve entre os melhores de 1984. No elenco também Chunchuna Villafane, Hugo Arana, Patricio Contreras e Guillermo Battaglia. Fotografia de Felix Monti e música de Atilio Stampono com canções de Maria Elena Walsh - extraordinária cantora e compositora argentina, imerecidamente esquecida no Brasil. "A história oficial" é, sem favor, o melhor programa desta temporada. Merece ser visto e revisto quantas vezes for possível. Outra excelente reprise é de "Crimes de Paixão" (Crimes of Passion), do inglês Ken Russell. Dando a Anthony Perkins oportunidade de ter o seu melhor papel desde "Psicose" (o original, 1960, de Alfred Hitchcock), este drama dark, com cenas pesadas, é um profundo estudo psicológico que merece atenção. Kathleen Turner, uma das novas sensações do cinema, mostra que não é apenas uma sensual atriz e tem interpretação das mais fortes e, no elenco central, John Laughlin também se destaca. Uma fotografia marcante. Reprise no Ritz (onde o filme foi lançado, meses atrás ali permanecendo quatro semanas em cartaz). Outra reprise marcante: "Gandhi", de Richard Attenborough. Superprodução sobre a vida do líder pacifista da Índia, com Ben Kingsley no personagem-título, mereceu muitas indicações e várias premiações ao Oscar. Um grande elenco - no qual se destacam Candice Bergen, Edward Fox, John Gielgud, (já falecido) e Trevor Howard - recursos extremos de produção, fotografia caprichada, ótima trilha sonora (editada no Brasil pela RCA), fazem desta reprise um programa recomendável. Devido a ser um longa-metragem, obedece a horários especiais: 13h30min, 17 e 20h30min. OUTROS PROGRAMAS - Mesmo sem conseguir o público que esperava - repetindo-se aqui o que aconteceu nos Estados Unidos - "Howard, o super-herói" permanece em exibição no Condor. Apesar da experiência do produtor George Lucas, esta comédia com toques de ficção-científica é decepcionante. Por sua ingenuidade não satisfaz nem o público adolescente e irrita os adultos. Há alguns diálogos interessantes mas o roteiro é convencional - e não soube aproveitar a malícia dos personagens em quadrinhos de Steve Gerber, bastante populares nos Estados Unidos mas desconhecidos no Brasil. No elenco também não há destaques e é difícil entender por que foram necessários sete diferentes intérpretes para o personagem-título. Só se a fantasia do pato foi asfixiante demais. Enfim, este pato Howard não deixará saudades para ninguém... Em compensação, no Lido I, está em exibição uma comédia das mais criativas e imaginosas: "Um vagabundo na alta roda" (Down and out in Beverly Hills). Fazendo rir o competente Paul Mazursky tem sabido criticar o american way of life ("Bob & Carol & Ted & Alice", "Greenwich Village: Next Stop/Próxima parada: bairro boêmio", "A tempestade", etc.) e agora, refilmando uma peça de René Fauchois ("Boudou sauvé des eaux"), que já havia sido levado à tela por Jean Renoir, Mazursky cria uma espécie de "Teorema" com a sofisticação de Beverly Hills. É uma comédia deliciosa mas daquelas que faz o espectador refletir. Um bom elenco - Bette Midler (excelente comediante), Richard Dreyfuss, Nick Nolte, o veterano Little Richards, Tracy Nelson e o próprio Mazursky numa ponta - e mais a inspirada trilha sonora de Andy Summers, ambientes requintados fazem deste programa merecedor de atenção. Espera-se, apenas, que continue em cartaz por mais uma semana. Também permanece em cartaz "Labirinto - a magia do tempo", e "Aliens - o resgate". "Labirinth", de Jim Henson - o mesmo realizador de Os Muppets e "O cristal mágico" - tem uma grande atração para os adolescentes: o cantor-ator David Bowie. Ao seu lado, uma ninfeta que está despedaçando corações infanto-juvenis: a suave Jennifer Conelly. A trilha sonora do próprio David já foi editada pela EMI-Odeon. Bowie, aliás, interpreta cinco canções originais. A fotografia (de Alex Thompson) é esmerada, muitos efeitos especiais e uma história que possibilita dupla leitura: mais do que as aventuras e perigos que uma garota, Sarah (Jennifer Connely) enfrenta para resgatar seu irmãozinho, que havia sido seqüestrado por duendes e seu poderoso líder, Jareth (David Bowie), o filme capta os sonhos e os sentimentos de uma menina prestes a atingir a feminilidade e a autoconsciência. "Aliens - o resgate", seqüência de James Cameron ao cult-movie que Ridley Scott realizou em 1979, também tem elementos de atração - a começar pela bela Sigourney Weaver, atriz que admiramos desde aquela época e só agora começa a entrar para o território das superstars, do novo cinema americano. Uma história um tanto complicada tem, para compensar, um desenvolvimento linear e, como em todos os filmes desta última safra, requintes especiais. A Cinemateca continua fechada e as sessões extras estão suspensas. Para o próximo dia 15, o Itália promete um lançamento especial: em substituição à comédia australiana "Bici Voadoras", de Brian Trenchard-Smith, o inédito "Camorra", de Lina Wertmuller. Afinal, um filme adulto e importante nesta época de reprises e continuações. LEGENDA FOTO 1 - Dennis Quaid e Louis Gosset Jr. em "Inimigo Meu", um science-fiction de mensagem humana e pacifista. Em exibição no Vitória, que fecha definitivamente no dia 29 de janeiro. LEGENDA FOTO 2 - A bela Jennifer Connelly em "Labirinto - A Magia do Tempo", de Jim Henson. Um filme com toques mágicos em exibição no Cinema I. LEGENDA FOTO 3 - "Gandhi", superprodução de Richard Attenborough, premiada com vários Oscars, volta a exibição. Agora no Cine Luz. LEGENDA FOTO 4 - Richard Dreyffus em atuação marcante na comédia "Um Vagabundo na Alta Roda", de Paul Mazursky. Em exibição no Lido I.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Cinema
11
09/10/1987

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br