"A História Oficial" chega a Curitiba
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 27 de abril de 1986
Oscar de melhor filme estrangeiro-1986, prêmio de melhor atriz para Norma Aleandro no Festival de Cannes-1985, "A História Oficial" de Luís Puenzo é o mais importante filme argentino dos últimos anos. Corajoso, humano, profundamente político e atual, já levantou mais de 30 prêmios em festivais internacionais, está em cartaz há 4 meses em Nova Iorque e há 60 dias em mais de 30 cidades americanas - o mesmo acontecendo em Londres e Paris. Em todos os locais onde tem estreado o êxito é o mesmo: consagração da crítica e entusiasmo de público. Esta semana, o filme chega a Curitiba (estréia dia 1º no Palace Itália).
De certa forma, "A História Oficial" é tão importante para a cinematografia argentina, como o sucesso internacional de "O Beijo da Mulher Aranha" é para o Brasil. Uma curiosidade: tanto Puenzo como Babenco são cineastas vindos do cinema publicitário. Babenco já em seu quarto longa-metragem. Luís Puenzo, 40 anos - completados dia 19 de fevereiro último, começou a se interessar por cinema aos 6 anos, quando ganhou um projetor de presente dos pais. Aos 19 anos já era um profissional. Começou como roteirista, foi montador, câmera, produtor e, finalmente, chegou ao longa-metragem com "A História Oficial", uma obra-denúncia do regime militar argentino, realizada sem panfletarismo - mas em cortantes e emocionantes imagens.
DESAPARECIDOS
Alícia (Norma Aleandro) é a tranquila professora de história de um colégio de Buenos Aires. Bem casada com um próspero executivo, Roberto (Hector Alterio), vive em seu mundo à parte, com a filha de 5 anos, Gaby (Analia Castro), adotada pelo casal que não podia ter seus próprios filhos. Logo na primeira seqüência do filme, Alícia mostra sua formação pequeno-burguesa, sua alienação política da Argentina que insistia em não ver de perto - ao se mostrar intolerante com os alunos.
Entretanto, a volta de uma amiga do exílio, Ana (Chunchuna Villafane), com quem tem um longo encontro, começa a lhe fazer refletir. Alícia fica sabendo como Ana foi torturada e obrigada a fugir do país por causa de um relacionamento com um amante politicamente suspeito. Ana fala também a Alícia das mulheres "desaparecidas" que, presas quando estavam grávidas, tiveram seus filhos vendidos a famílias a que não se comprometiam a não fazer perguntas, ou eram criadas por funcionários públicos ou policiais. Alícia começa a suspeitar que sua amada Gaby pode ser uma dessas crianças.
Nasce a dúvida e Alícia já não tem certezas absolutas. Começa a fazer perguntas e estabelecer relações entre a prosperidade de seu marido com amigos do poder militar. Enfim, nasce todo um conflito na conscientização daquilo que ela nunca antes havia pensado ou admitido.
Este mergulho na realidade de uma Argentina terrivelmente castigada pela ditadura militar faz com que "A História Oficial" atinja, com tanta emoção, platéia de todo o mundo. Um filme sobre os desaparecidos - contado através de um único drama, sem panfletarismo, nem maniqueísmo - mas num roteiro perfeito (Puenzo e Ainda Bortnik), num filme com belíssima fotografia de Felix Monti e marcante trilha sonora de Atilio Stampone com canções de Maria Elena Walsh, uma das mais importantes compositoras e intérpretes argentinas, injustamente até hoje esquecida e desconhecida no Brasil.
PREMIAÇÕES
Chega a ser exaustiva a relação de todas as premiações, festivais e indicações no qual "A História Oficial" esteve presente. Em Cannes, no ano passado, além do prêmio de melhor atriz para Norma Aleandro, foi ainda escolhido o melhor filme pelo júri ecumênico. Posteriormente foi aos festivais de Cartagena (prêmio especial do júri; melhor atriz; Norma); Festival dos Festivais, em Toronto (melhor filme); festival de Chicago (melhor filme, atriz coadjuvante - Chunchuna Villafane; menções a Norma Aleandro e Hector Alterio); festival da Quito (melhor filme); festival de Havana (prêmios ao filme e roteiro; filme mais popular). Em Nova Iorque, em 17 de janeiro de 1986, conquistou os prêmios de direção, roteiro e produção. A Associação dos Críticos de Nova Iorque considerou Norma Aleandro como a melhor atriz, indicação esta referendada pelo Círculo de Críticos de Nova Iorque. Já a Associação dos Críticos de Los Angeles o elegeu melhor filme estrangeiro.
Incluído entre os 10 melhores filmes de 1985, exibidos nos EUA e participado, hors concours, nos festivais de San Sebastian, D'Urban, Outono (paris), Casablanca, Locarno, Munique e Montreal, finalmente, na noite de 24 de março, recebeu o Oscar de melhor filme estrangeiro.
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