Um belo filme dinamarquês é a melhor estréia da semana
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de janeiro de 1991
Mais uma semana de mínimas estréias. Em compensação, chega (Cine Luz, 5 sessões) um candidato (já) para a listagem dos 10 melhores do ano e que tem chances de conquistar o público: o surpreendente "Dançando pela Vida" (Waltizing Ragtime), nova mostra do talentoso cinema escandinavo. Indicado ao Oscar no ano passado como melhor filme estrangeiro (perdeu, naturalmente, para "Cinema Paradiso") esta fita de Kaspar Rostrup teve um lançamento obscuro no Brasil.
Trata-se, entretanto, daqueles filmes-poesia, com um tema universal: a vida de um casal - Regine (Ghita Norby) e Karl Age (Fritz Helmuth) ao longo de várias décadas. O filme começa e termina numa deliciosa festa familiar - durante a qual, em flash back, é recordada a vida da família Age. Com mão leve, Kaspar Rostrup fez um filme delicioso, com excelente elenco, belíssima trilha sonora e uma fotografia de Claus Loof que valoriza tantos interiores como exteriores. Não foi sem razão que "Dançando pela Vida" obteve várias premiações na Dinamarca e outros festivais. Com sua exibição, prossegue um "ciclo" de filmes rejuvenescedores vindos da Escandinávia - como os igualmente dinamarqueses "A Festa de Babete" (1987, de Gabriel Axel) e "Pelle, o Conquistador" (1988, de Bille August) e o sueco "Minha Vida de Cachorro" (Suécia, 1988, de Lasse Halstrom). Estes filmes - aos quais se junta "Dançando pela Vida" - tem além do excelente nível artístico, a comunicabilidade e sensibilidade - mostrando que o velho Leon Tolstoi tinha toda a razão quando ensinava há quase 100 anos: "se queres ser universal, cante a sua aldeia".
A outra estréia da semana coloca-se em posição inversa: traz o terror explícito: "Brinquedo Assassino 2" (Cine Condor, 5 sessões).
A primeira parte, produção de 1988, chegou a ter alguns defensores de uma idéia que já havia sido inclusive adaptada para a TV num episódio da série "Sexta-feira 13". "Brinquedo Assassino" é um representante da safra do cinema infantil ("Poltergeist", "Gremlins", ambos produzidos por Steven Spielberg). Uma espécie de Pinocchio assassino, herdeiro bastardo de um mundo de fábulas negras, o boneco de "Brinquedo Assassino" surgiu de uma série de livros infantis criados por David Kirschner, que começou sua carreira em 1986, justamente quando uma de suas histórias sobre um rato imigrante virou um desenho de Spielberg ("Fievel, um Conto Americano"). Tom Holland, o diretor de "Brinquedo Assassino", é um campeão de bilheteria na área do terror explícito - sendo o diretor de "A Hora do Espanto", no qual Chris Sarandon vivia um vampiro moderno. O mesmo Sarandon (revelado por Sidney Lumet em "Um Dia de Cão"), foi o ator principal de "Brinquedo Assassino", embora fosse Chucky, o pinhocchio-maléfico, o "dono" do pedaço visual com todas as suas maldades. A aceitação de filmes como "Child's Play" - agora em segunda parte - é motivo para reflexões sobre a escalada da violência com símbolos que, durante muitos anos identificavam o mundo mágico das crianças, transformando-se em sinônimos de sangue e terror. Se continuar assim, o que virá para "assustar" (sic) as platéias do ano 2000?
Embora já em exibição há uma semana, "Alta Tensão" (Bird on a Wire), de John Badham, vale a pena conferir (agora no Lido II): com um ritmo dinâmico - uma prova de que o cinema industrial americano é imbatível em termos de estruturar uma boa história, com muitos exteriores e um final rodado num zoo numa pequena cidade americana (Racine) que dá a sensação da África, esta aventura estrelada por Mel Gibson (ótimo) e Goldie Hawn pode ser vista por quem busca apenas a diversão. Que, afinal, é o que produz o público ao cinema, haja visto que "Ghost, o Outro Lado da Vida" continua lotando o Lido I - agora em 13ª semana.
LEGENDA FOTO - "Dançando com a Vida", com Ghita Norby e Fritz Helmuth - indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro-90 - é a melhor estréia da semana. No Cine Luz.
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