Semana de poucas estréias
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de janeiro de 1991
Nesta terceira semana do ano as estréias ainda são raras. Afinal, os exibidores não querem desperdiçar os bons títulos em época de férias e muita gente (ainda) viajando. O lançamento mais importante é "Coração Selvagem" de David Byrne (Ritz, 5 sessões), premiado em Cannes no ano passado - e aqui registrado por Tiomkin, da equipe que passa a escrever sobre cinema em "O Estado". Uma comédia com muita ação estreou na semana passada no Condor e permanece em cartaz: "Alta Tensão" (Bird on a Wire), de John Badham ("Os Embalos de Sábado à Noite"). Dois nomes famosos na cabeça do elenco - Mel Gibson e a deliciosa Goldie Hawn, mais David Carradine e Bill Duke embalados por boa trilha sonora de Hans Zimmer, lançada em elepê no Brasil pela Polygram. No Lido II, continua "Rocky V", de John G. Avidsen, surpreendente em seu roteiro (do próprio Stallone) e bem superior aos filmes anteriores da série. No Lido I, "Ghost, o Outro Lado da Vida", repete aqui o que conseguiu em todas as cidades em que foi lançado: emocionar o público e ficar entre as maiores bilheterias dos últimos anos.
Uma fantasia musical - Leopold Stokowsky (1882-1977) foi um famoso maestro inglês que se tornou conhecido no Brasil especialmente por dois fatos. Em 1947, viajando pela América do Sul, a bordo do transatlântico "Uruguay" e dentro da política de "boa vizinhança" do governo Roosevelt, durante os dias em que o navio ficou ancorado no Rio de Janeiro pediu ao seu amigo Heitor Villa-Lobos para levar a bordo um grupo de "autênticos sambistas" para gravar "músicas exóticas" com os modernos (para a época) equipamentos que trazia. Villa pediu a Pixinguinha que convidasse o que havia de melhor no samba e assim Donga, Pixinguinha, João da Baiana, Zé com Fome e Cartola, entre outros, deixaram gravados para o maestro alguns dos mais belos sambas e ritmos afro (inclusive percussionistas anônimos participaram da sessão). O material acabou sendo lançado num álbum de cinco discos 78 rpm, pela CBS americana, e foi durante mais de 30 anos o maior collector's iten dos colecionadores de MPB até que o Museu Villa-Lobos conseguiu os direitos para reeditar, em elepê, esta histórica gravação de MPB que Stokowsky produziu.
A segunda razão porque Leopold Stokowsky é nome popular - ou ao menos foi nos anos 40/50 - é que Walt Disney (1901-1966) em momento de inspiração, decidiu, um ano antes (1940) da viagem do maestro ao Brasil, confiar-lhe um projeto fascinante: coordenar temas de mestres de música ligeira para terem imagens de desenhos animados com seus personagens já famosos. Uma espécie de vídeo-clip de longa-metragem (135') em cores. Resultado: "Fantasia", é a obra prima das dezenas de produções de Disney, com uma equipe de geniais desenhistas coordenados por Joe Grant e Dick Huemer dando vida, cores e beleza a Tocata e Fuga de Bach, ao Quebra-Nozes de Tchaikowsky, a Pastoral de Beethoven, a Sagração de Primavera de Stravinsky, a Dança das Horas de Ponchielli, "Ave Maria" de Franz Schubert e ao "Aprendiz de Feiticeiro" - com Mickey numa "Aparição" inesquecível. Reconhecido como o melhor filme de animação de todos os tempos e um clássico musical para todas as idades, "Fantasia" retorna agora na tela ampla, em exibição no Bristol.
Afinal, uma opção inteligente e didática para que as nossas crianças não se imbecilizem totalmente com os Xuxas e Sérgios Malandros da vida!
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