Login do usuário

Aramis

Apesar da Copa, cinco estréias interessantes

Em pleno início da copa, quando o Brasil (ainda) está em campo, cinco estréias não deixa de ser um record. Normalmente, distribuidores e exibidores temem qualquer lançamento neste período em que as atenções se voltam para a televisão mas, após meses de inanição cinematográfica, os circuitos não tiveram outro remédio que renovar suas programações. Assim, após faturar quase Cz$ 2 milhões, "Entre Dois Amores", de Sidney Pollack e "O Enigma da Pirâmide", de Barry Levinson, deixaram sexta-feira o cartaz e foram substituídos por dois filmes que talvez não façam o mesmo sucesso - mas que se constituem em obras das mais interessantes: "Minha Terra, Minha Vida", de Richard Pearce e "Marcas do Destino", de Peter Bogdanovitch. No Condor, também com boa renda - mais de Cz$ 400 mil em 5 semanas - "Mulher Nota 1.000" foi substituído por "Posições Comprometedoras" de Frank Perry. No circuito da Fama, duas estréias: "A Hora do Espanto" de Tom Holland no Cine Vitória e "Ritmo Quente" de Sidney Poitier no Cinema I. No mais, sem novidades: hoje, "O Amigo Americano" (Der Amerikanische Freund), 1977, baseado na novela de Patrícia Hinghsmith (edição em português da Brasiliense) encerra a retrospectiva Wim Wenders, que trouxe seis filmes do diretor de "Paris Texas" (Cinemateca, 20:30 horas). Nos cinemas da Fundação, continuam em cartaz - ao menos até quarta-feira - três dos melhores filmes destes últimos anos: "E La Nave Va" de Federico Fellini (Groff); "A Rosa Púrpura do Cairo", de Woody Allen (Ritz) e "Casanova e a Revolução" de Ettore Scolla (Cine Luz). Para a próxima quinta-feira deverá haver mudanças, mas até sexta-feira o bom Chico Alves não sabia o que iria programar. "Eu Sei Que Vou Te Amar", de Arnaldo Jabor, catipultuado [catapultado] ainda mais com a premiação de Fernandinha Torres (melhor atriz, Cannes-86) está com casas cheias. Uma prova de que o público curitibano se amarra é em prêmios: "Out of Africa", com 7 Oscars, resistiu 11 semanas em cartaz. "Eu Sei..." deve permanecer ao menos por mais três em exibição. Em compensação, filmes maravilhosos - mas que não são premiados - acabam ficando poucos dias em cartaz. Outra prova de que a premiação sempre ajuda: o magnífico "A História Oficial", de Luiz Puenzo - Oscar de melhor filme estrangeiro-86 - resistiu até hoje, enquanto que no Palace-Itália, a comediota "O Último americano Virgem" tem também público para garantir mais algumas semanas - só que a partir de amanhã estará no Cine Itália. O mesmo acontece com "Guerreiros de Fogo" (Red Sonja), de Richard Fleischer, com Arnold Schwarzenegger exibindo toda sua musculatura e Brigit Nielsen (Sra. Silvester Stallone) é a heroína (Plaza, 4ª semana). Sem dúvida, um merece o outro! Pena que nesta brincadeira, comprometa-se o outrora respeitável Richard Fleischer, 72 anos, exatamente 40 de direção (estreou em 1946, com "Filhos do Divórcio") e que já fez obras marcantes em vários gêneros como "Viagem Fantástica", "O Homem que Odiava as Mulheres", sem contar "Estranha Compulsão" (1959), tão bom que dizem que Orson Welles dirigiu algumas seqüências nas quais aparecia como o criminoso Clarence Darrow. OS SEM-TERRAS AMERICANOS Problemas dos agricultores não são "privilégios" de países do terceiro mundo. Em 1984, três filmes abordavam esta temática - "Um Lugar no Coração" (A Place in the Heart), "The River" (inédito no Brasil, mas à disposição em vídeo em alguns clubes) e "Minha Terra, Minha Vida" (Country), que finalmente chega agora a Curitiba (Lido I). Se Sally Fields foi premiada com o Oscar de melhor atriz por "A Place In The Heart" a ótima Jessica Lange, que em 1983 já havia concorrido duplamente ao troféu melhor atriz por "Francis" e coadjuvante por "Tootsie", que lhe valeu a estatueta) também teve uma nomination pela interpretação da corajosa Jewell Ivy, uma mulher de fibra, trabalhadora, religiosa, casada com um fazendeiro do meio oeste americano, que enfrenta tragédias no seu dia a dia. Como a personagem que Sally Field interpretou no filme de Robert Benton, Jewell não se deixa abater com as tragédias da natureza - um tornado que destrói a plantação de milho em sua fazenda - ou a ganância dos bancos, que levam a leilão as suas terras. A história de William D. Wittliff sobre o drama dos agricultores encantou tanto Jessica Lange que ela co-produziu (com o roteirista William Wittliff) este filme, co-estrelado por Sam Shepard - seu marido na vida real. Shepard é hoje o golden boy do teatro e cinema americano. Autor de inúmeras peças e muitos roteiros - inclusive "Paris Texas" - está em evidência como ator e autor de "Fool For Love", o último filme de Robert Altmann, produção da Connan, que concorreu em Cannes há um mês. Como ator, já havia contracenado com Jessica em "Francis", um filme belíssimo, sobre a atriz Francis Farmer (1910-1970), que bem que a UIP poderia reprisar aproveitando a evidência de Jessica - que este ano voltou a concorrer ao Oscar de Melhor atriz por sua interpretação como a cantora Patsy Cline (1920-1956) em "Um Sonho, uma lenda" ("Sweet Dreams", 1985, de Karel Reisz) em exibição no Rio de Janeiro. "Minha Terra, Minha Vida" pela temática que aborda, pela seriedade de Jessica e Shepard e cuidados de produção - fotografia de David Walsh, música de Charles Gross - merece ser visto. E rapidamente, pois não ficará muito tempo em cartaz. Afinal, embora indicado a e Oscars em 1984, não ganhou nenhuma estatueta. E assim a "culta" platéia curitibana não vai se interessar pelo mesmo... MARCAS DO DESTINO Consagrado no início dos anos 70 como seu terceiro filme - o premiadíssimo "A Última Sessão de Cinema" (1971), Peter Bogdanovich foi vítima de sua auto-suficiência: apesar de alguns êxitos - a comédia "Esta Pequena é uma Parada" (72), o nostálgico "Lua de Papel" (73, que lançou Tatum O'Neal, premiada com o Oscar de melhor coadjuvante), a partir de "Daisy Miller" sua carreira degringolou, tanto é que o musical "Amor, Eterno Amor" - uma crônica sobre a Hollywood dos anos 30 - só foi vista na televisão. Por ter entrado em eclipse, a estréia de Bogdanovich, hoje com 47 anos, precisava de algo forte para voltar a brilhar. E isto aconteceu no ano passado, quando baseado na trágica história de um rapaz deformado - uma espécie de "Homem Elefante" americano - realizou o pungente "Marcas do Destino" (Mask), que levado ao Festival de Cannes valeu a Cher, ex-cantora, mas hoje atriz respeitada (remember sua participação em "Silkwood"), o prêmio de melhor atriz - que este ano foi dado a Fernandinha Torres. Em Cannes, no ano passado, Bogdanovich brigou bastante, lavando inclusive roupas sujas da produção do filme (tanto é que Cher e o produtor Martin Starger não falavam com ele), mas a crítica elogiou o filme. É um drama pungente, baseado na história de um rapaz que devido a uma deformação no rosto é obrigado a usar uma máscara. Sua mãe (Cher) é motoqueira, ligada a hippies e drogas. Embora inteligente, Rocky, o garoto (Eric Stoltz) não pode ter uma vida normal. Encontra, entretanto uma jovem cega, Diana (Laura Dern) por quem se apaixona. Mas a família de Diana é contra. Enfim, vários elementos melodramáticos numa história bem desenvolvida, com um elenco de nomes desconhecidos afora Cher. A trilha sonora é movimentada, com muito rock dos anos 60/70. No Cine Lido II, de visão obrigatória nesta semana. O DENTISTA SEDUTOR A exemplo de Bogdanovich, também Frank Perry, 53 anos, é um cineasta que já teve sua fase de brilho. Vindo do Actor's Studio, trabalhando com suas esposas, Eleonor, como co-roteirista, estreou com um cult movie ("David and Lisa", 62), citado em antologias mas nunca exibido no Brasil. Em compensação, "Enigma de Uma Vida" (The Swimmer, 68), "O Último Verão" (The Last Summer, 69) e "Quando Nem Um Amante Resolve" (Diary of a Mad Housewife, 70) formam uma trilogia sobre o american way of life desglamorizado. Filmes-ensaios sobre o outro lado da sociedade americana que, em nosso entender, estiveram entre os melhores momentos do cinema no final dos anos 60. Perry tentou também desmistificar o heroísmo lendário de Wyatt Earp (1848-1929) e Doc Holliday (1852-1887) - em "Massacre de Pistoleiros" (Doc, 71), mas o filme não funcionou - assim como suas fitas seguintes, todas sem a força da fase inicial de sua carreira. Agora, após um longo intervalo (seu último filme foi "Mamãezinha Querida", de 1980), reaparece com um misto de policial e comédia, "Posições Comprometedoras" (Cine Condor), no qual Judith Singer (Susan Sarandon), uma ex-repórter que largou o trabalho há 7 anos, quando se casou com o advogado Bob Singer, decide voltar a seus tempos de jornalistas e investigar a morte do seu dentista, Bruce Fleckstein (Joe Mantegna), um tremendo Don Juan é assassinado em situações misteriosas. Raul Julia - o astro de "O Beijo da Mulher Aranha" - é o policial David Suarez que entra na história. Para quem gosta de filmes misturando personagens comuns a intrigas policiais, este "Compromising Positions" é recomendável. Susan Sarandon, para quem não se lembra, é aquela atriz que afora alguns filmes americanos apareceu no magnífico "Montenegro" ou "Pérolas de Porcos". VAMPIRO - 86 Se "A Prometida", mesmo tendo duas atrações pop no elenco - o cantor Sting e a dançarina Jennifer Beals (de "Flash Dance") não emplacou mais do que 4 magros dias de exibição no Cinema I, mostrando assim que a garotada não está se ligando ao personagem criado por Mary Shelley, é de se temer que em Curitiba, ao contrário do que vem acontecendo no Rio e São Paulo, A HORA DO ESPANTO (Cine Vitória, desde quinta-feira) passe despercebido. O que será pena, pois este "Fright Night" está se transformando também num cult movie, especialmente pela criatividade do diretor Tom Holland em conseguir fazer uma história de vampiros e monstros num tranqüilo bairro residencial americano. Chris Sarandon - que apareceu em "Um Dia de Cão" (75, de Sidney Lumet), vivendo o homossexual, amante de Al Pacino - e que já foi casado com Susan Sarandon (a atriz de "Posições Comprometedoras") é o intérprete central de "A Hora do Espanto", que traz também o veterano Roddy McDowall, ao lado de gente nova como Amanda Searse, até agora conhecida apenas dos telespectadores americanos por sua participação em "First-Affair" na CBS-TV. No elenco, ainda estão William Ragsdale, e Stephen Geoffreys. O diretor, Tom Holland, é estreante - mas, a julgar pelas referências, saiu-se bem nesta modernização do vampirismo. Uma explicação que talvez ajude a entender a tentativa de colocar um vampiro nos EUA, em 1985 - ao invés de buscar os castelos da Transilvânia: - "Tenho uma velha amizade pelas histórias de vampiros. Uma das razões que levaram o gênero a um certo declínio foi que tais filmes foram enquadrados, vamos dizer, em 1950, e ninguém parecia poder senti-los contemporâneos. Determinei-me a respeitar todas as convenções da tradicional história de vampiros - caixões, camas assustadoras, bizarros espelhos etc. - mas colocar tudo em um contexto contemporâneo". O RITMO DE POITIER Em 1945, aos 21 anos, ao fazer seu terceiro filme - que o lançaria internacionalmente como ator ("Sementes da Violência/Blackboard Jungle", de Richard Brooks), Sidney Poitier aparecia como líder de uma turma da pesada numa high scholl que fazia o máximo de maldade do professor branco (Glenn Ford), quebrando sua coleção de discos de jazz. Clássico da chamada "rebeldia jovem", "Blackboard Jungle" foi o filme que internacionalizou o primeiro rock - "Rock Around The Clock" com Bill Halley (1925-1980) e seus Cometas, gravação que já havia sido feita dois anos antes. Hoje, aos 62 anos, aparecendo pouco como ator e já tendo dirigido várias fitas, Poitier busca a selva da juventude fazendo um musical jovem, com muita dança - ao estilo "Fama" e que pode ter bom público: "Ritmo Quente" (Fast Forwald). No elenco, garotada nova, de muita energia: John Scott, Don Franklin, Tamara Mark, Tracy Silver etc. A coreografia é de Rick Atwell e a história é sobre oito adolescentes de Sandusky, Ohio, em busca do espaço ao sol num concurso de danças em Nova Iorque. A trilha sonora é de Quincy Jones, com participação de Tom Scott e Jack Hayes. Especialmente recomendável aos alunos das dezenas de academias de dança da cidade. No Cinema I, desde quinta-feira. LEGENDA FOTO 1 - Jessica Lange e Sam Shepard na melhor estréia da semana: "Minha Terra, Minha Vida", de Richard Pearce. No Lido I. LEGENDA FOTO 2 - Vampiros ao estilo 85: "A Hora do Medo" no Vitória. LEGENDA FOTO 3 - Susan Sarandon e Joe Mantegna em "Posições Comprometedoras". No Condor.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Seção de Cinema
7
08/06/1986

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br