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Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de junho de 1986
As conseqüências do erotismo de Lewis Carroll, autor do mundialmente famoso "Alice no País das Maravilhas", na vida de sua pequena musa inspirada Alice Liddell, é o tema de "Alice aos 80" (Alice at 80, tradução de Aulyde Soares Rodrigues, 256 páginas, Cz$ 97,30, Editora Rocco), Carroll era pedófilo, tendência que disfarçava com o hábito de fotografar suas amiguinhas, doces e meigas meninas de 7 a 10 anos, entre as quais Alice que, assim como Carroll, tornou-se inteiramente cérebre - mas que lhe causou sérios problemas em sua vida particular. Neste livro, a narrativa começa quando, aos 80 anos, Alice recebe o título de doutor honoris causa, concedido por uma universidade americana como parte das comemorações de nascimento de Carroll. A partir daí, combinando realidade e ficção, Slavitt mostra os efeitos que aquele remoto relacionamento poderia ter exercido sobre a vida de Alice, de seu marido, seu filho e duas outras antigas modelo-mirins do reverendo e matemático, uma das quais tornou-se atriz e a outra, dona de um bordel.
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Na coleção "Como Fazer", a Vozes lança um livro prático, que muitos candidatos populistas deveriam ler: "Como se faz a Luta de Bairros" de José Rezende (em depoimento a Neusa Miranda), líder da Federação das Associações de Moradores do Estado do Rio de Janeiro. No livro, Jó fala de sua experiência que está dando certo.
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Outro livro importante, editado pela Vozes: "Fome, Catástrofe Provocada Pelo Homem?". Trata-se de parte de um relatório que constitui um processo de investigação e reflexão em curso por uma comissão sobre questões internacionais, relacionado com a situação trágica que se vive em muitas partes da África, conseqüência de uma fome generalizada. Assim como "Geografia da Fome" de Josué de Castro, há 30 anos passados emocionava (e revoltava), a leitura deste relatório mostra que o homem ainda não resolveu o primeiro dos problemas de sobrevivência: a alimentação. Um documento estarrecedor.
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"Casa Forte" (tradução de Geni Hirata, 418 páginas, Cz$ 127,90) é o 13º livro de Danielle Steel publicado no Brasil. Uma prova de que a autoria de "Anel de Noivado" caiu no agrado dos leitores. Seus romances atingem grandes tiragens e são editados em vários países. Típico best-seller, com tramas intrincadas, para delícia dos leitores em busca de passa-tempo.
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Jó Sanz, a maior autoridade no Brasil em ficção científica, volta a dirigir a coleção Asteróide, da José Olímpyo. E temos o romance "A Orbita em Ziguezague", do inglês John Brunner (tradução de Ruy Jungman, 322 páginas, Cz$ 102,00). Inglês de Osfordshire, aos 52 anos, fascinado pela obra de H. G. Wells, Brunner publicou este romance em 1969 e teve excelente aceitação, sendo chamado de "James Joyce dos anos 60" (?). Satírico, crítico, um bom romance de SF.
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Não é só o radialista Mário Celso que fatura em cima da crendice popular, lendo simpatias e receitas mágicas em "A Simpatia Está no Ar" na Rádio Independência. Uma senhora astuta, Nezinha Machado Salles, já conhecida por obras ingênuas mas simpáticas como "Sebastiana Quebra-Galho" e "Maria Melado" pesquisou, coletou e colocou de forma acessível as mais diversas simpatias, destinadas a resolver vários problemas de saúde e a oferecer ao leitor a solução prática para os problemas do dia-a-dia. O resultado é "Simpatias da Eufrázia" (150 páginas, Cz$ 55,00, Civilização Brasileira, capa de Eugênio Hirsch). Definido pela autora como "uma contribuição à felicidade de cada um", não deixa de ser um livro curioso, inclusive de interesse aos folcloristas.
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Aos românticos de plantão: sucesso na Europa, "Enamoramento e Amor" de Francesco Alberoni saiu agora em português (tradução de Ary Gonzales Galvão, Rocco, 106 páginas). Ao contrário dos ensaios clássicos sobre o relacionamento emocional entre duas pessoas, este livro centraliza a sua atenção não no amor e na paixão, mas na fase que precede esses sentimentos: o enamoramento. Os paralelos e aproximações entre estes dois estados de espírito são, evidentemente grandes. Mesmo assim, cada um deles guarda suas características próprias, tem a sua individualidade e, por assim, a dizer suas leis. Aspectos que Alberoni desenvolve dentro de um ponto de vista mais amplo do que o habitualmente adotado pelos psicólogos, sociólogos e mesmo na literatura - e que o leva a comparar o enamoramento com os grandes movimentos coletivos.
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Ex-reitor da Universidade de Campinas, José Aristodemo Pinotti é um professor e intelectual de idéias e posições muito definidas. A favor da democracia, que integra, mas contra o democratismo que imobiliza, Pinotti combina o intelectual e o executivo. Em "Ação e Reflexão - Política, Educação e Saúde" (Papirus/Editora da Unicamp, 220 páginas) coloca suas idéias sobre política da saúde, política educacional e política em geral. Uma obra de interesse, no mínimo, aos professores e pesquisadores que desejam conhecer as idéias de um nome conhecido dentro dos circulos universitários de São Paulo.
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Aproveitando o marketing promocional no lançamento de "A Honra do Poderoso Prizzi" - várias indicações ao Oscar-86 e premiação a Anjelica Huston, como melhor atriz coadjuvante - a Record edita o romance de Richard Condon que baseou este elogiadíssimo filme do veterano (80 anos) John Huston, sobre a Máfia. Uma história envolvente - para muitos superior ao "Poderoso Chefão" de Mário Puzz - e com toques de humor. O filme de Huston vem recebendo aplausos em todo o mundo e agora a oportunidade de conhecer o texto de Condon, escrito há 4 anos passados - uma narrativa eletrizante e empolgante do princípio ao fim (tradução de Maria Livia Resende Costa, 272 páginas, Cz$ 79,90).
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