Sinfônicas com o melhor clássico
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 08 de junho de 1986
A disputa continua. Para alegria de quem sabe apreciar a melhor música clássica. De um lado, a Polygran, que com importantes representações - especialmente a Philips e Deutsch Grammophon, mensalmente colocando na praça uma dezena de lançamentos excepcionais. De outro, a CBS, com seu catálogo maravilhoso. De leve, entrando nesta faixa de público de alto poder aquisitivo - mas exigente em termos de qualidade - a EMI/Odeon, que também dispõe de catálogo excelente.
Ainda agora, a CBS dá seqüência a série Masterworks Digitals, com mais duas gravações sinfônicas - "Also Sprach Zarathustra" de Strauss e a Sinfonia nº 5 de Shostakovich, com a Filarmônica de Nova Iorque, sob regência de Zubin Mehta e Leonardo Bernstein, respectivamente.
Temos ainda as Danças Eslavas de Dvorak, com a Clevelan Orchestra, sob regência de George Szell e, aos que apreciam solistas de piano - um trabalho excelente: o canadense Glenn Gould, que 4 anos após a sua morte vem sendo reverenciado no Brasil, interpretando uma Sonata de Grig e um noturno de Bizet. A este pacote acrescenta-se ainda um dos maiores violinistas deste século, Jascha Jeifetz, em gravação que reúne duas importantes Sonatas para violino e piano do final do século passado: a Sonata de lá maior, de Cesar Frank, obra de grande expressão romântica e a Sonata em mi bemol maior, Opus 18, que Richard Strauss compôs com 24 anos de idade. Jascha Heifetz é acompanhada em ambas as Sonatas por Brooks Smith ao piano.
A Sinfônica de Nova Iorque é hoje uma das orquestras com maior discografia no Brasil. Acrescenta-se agora dois álbuns excelentes, com regentes diferentes. Em primeiro lugar o "Assim Falava Zarathustra" de Richard Strauss - que muitos chamam de "a música de "2001" - referindo-se a sua utilização genial no filme de Stanley Kubrick. Com quatro poemas sinfônicos do final do século passado, Richard Strauss (1864-1949) exibiu extraordinária invenção temática e uma virtuosidade orquestral sem paralelo. No entanto, depois de ouvir "Assim Falou Zarathustra", o compositor Hugo Wolf declarou em Viena que se tratava de um sucesso como uma grande piada. E críticos americanos de Boston e Nova Iorque, em 1907, reagiram de forma mais feroz: "Zarathustra gritou, sussurrou, rosnou e rugiu, fez tudo menos falar... A mente de Strauss parece ser um absoluto deserto no que concerne a pensamentos musicais tangíveis; o que ele inventa são novas cacofonias".
Romain Rolland, o grande romancista, extremamente versado musicalmente, assim se expressou, referindo-se a esta obra inspirada em Nietzche:
- "Strauss não se perde em pormenores insignificantes pictóricos ou anedóticos, mas em vez disso, esboça a composição em poucas expressões e majestosos impactos".
O tempo apenas confirmou a grandiosidade desta obra, que com a New York Philarmonic, sob regência de Zubin Mehta, tem agora uma nova gravação.
Bernstein, embora aposentado da Filarmônica de Nova Iorque, volta sempre a regê-la como maestro convidado. Foi o que fez para a gravação de uma nova edição da Sinfonia nº 5, Opus 47, em Ré menor, De Demitri Shostakovitch, lançada no mercado brasileiro. A gravação foi feita em Tóquio durante a excursão do maestro e a orquestra do Japão em 1979 e a gravação usa a tecnologia digital da CBS para a criação de um produto cultural e artístico da mais alta qualidade.
A sinfonia nº 5 de Shostakovitch (1906-1975) representou um marco da mais absoluta grandeza na carreira do criador de mais de uma dezena de obras do gênero. Em linguagem orquestral absolutamente vigorosa, Shostakovitch reflete anseios, angústias e sentidas esperanças da alma humana. Foi composta em apenas três meses, entre abril e julho de 1937, quando se adensavam sobre a Europa as sombras da II Guerra Mundial.
Recentemente, tivemos uma edição da Polygran com as Danças Eslavas de Antonin Dvorak (1841-1904). Agora, em edição digital da CBS, a mesma obra pode ser apreciada com George Szell e a Orquestra de Cleveland. Em excelente gravação feita na Severance Hall, em Cleveland, podemos nos deliciar com a seqüência das dezesseis Danças compostas em duas séries, Opus 46 e Opus 72, no auge da floração da música romântica européia de caráter nacional. Uma obra de fácil comunicação, vibrante e inesquecível.
Glenn Gould, virtuose do piano, canadense, tem mais um esplêndido álbum editado na série Masterworks Protaits, da CBS. Desta vez, Gould interpreta a Sonata em Mi Menor, Opus 7, de Edvard Grieg (1843-1907), em quatro movimentos e duas peças de Georges Bizet (1838-1875): "Premier Nocturne" e "Variations Chromatiques".
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