Login do usuário

Aramis

O gênio Hemingway retorna com a Civilização de Enio

Sem nunca ter escrito um livro, Enio Silveira é, com toda razão, admirado como uma das mais importantes personalidades de nossa vida literária. É simples! Ao longo destes últimos 40 anos, Silveira, tem sido o mais coerente, corajoso e importante editor brasileiro - na mesma linha de outro pioneiro, este já falecido, José Olympio - exemplos para uma nova geração que hoje lidera a vida editorial brasileira. Através da Civilização Brasileira, da metade dos anos 50 até 1965, Enio criou coleções marcantes - "Biblioteca do Leitor Moderno", "Cadernos do Povo Brasileiro", "Violão de Rua", entre tantas - ao lado de revistas políticas-sociais ("Revista da Civilização Brasileira", "Argumento"), que fizeram, literalmente, a cabeça de mais de uma geração. A independência e coragem de Enio em publicar livros de assuntos político-sociais lhe custou caro: inquéritos policiais-militares, detenções e praticamente o fechamento da Civilização Brasileira, após o golpe de 1º de abril de 1964. Mas o arbítrio passa e a inteligência sobrevive: a Editora Civilização Brasileira não morreu. Embora vendida para outro grupo, parece que a antiga marca - com o logotipo que o genial Eugênio Hirsch (o melhor capital que o Brasil teve nos anos 60) criou, está reaparecendo agora em lançamentos da mesma qualidade dos tempos em que Enio e o poeta e editor Mário da Silva Brito comandavam aquela empresa. Tanto na ficção, como na área de ensaios a Civilização Brasileira começa a trazer títulos dos mais importantes, sem esquecer outros gêneros - como a biografia, inclusive de stars ligados ao cinema ("Brando", "O Filho do Trapeiro", de Kirk Douglas). De Ernest Hemingway (1899-1961, autor que teve suas principais obras lançadas no Brasil por Enio, saiu agora "Verão Perigoso" (tradução de Ana Zelma Campos, 256 páginas, Cr$ 5.400,00) que foi escrito inicialmente como uma série de três artigos para a revista Life. Neles, Hemingway deveria usar o máximo de dez mil palavras para contar um pouco da sua própria vida. Porém, ele, volta ao passado e principalmente às praças de touros espanholas num verão, quando Dominguín e Ordoñez passaram a temporada se batendo em duelos memoráveis, era o que mais amava. "Papa" escreveu 100 mil palavras sobre o que viu na arena e viveu nas arquibancadas e nos bares à noite. Resultado: a versão final teve que ser lapidada por outro redator, assim mesmo ficando com 45 mil palavras que a Life publicou. Estes textos - que ao lado de "Morte ao Cair da Tarde" (1932) é considerado um clássico sobre uma das maiores paixões de "Papa" Hemingway - a touromaquia - referem-se ao retorno de "Don Ernesto" - como era chamado pelos latinos - à Espanha, em 1959, e do seu contato com os dois maiores toureiros de todos os tempos - Dominguín e Ordoñez. Embora já fosse um escritor consagrado - prêmio Nobel de Literatura em 1964 com sua obra prima "O Velho e o Mar" - a paixão de Hemingway pelas touradas lhe valeram críticas dos que nunca aceitaram a barbaridade deste duelo sangrento entre o homem e o animal. Já tendo em seu catálogo, livros como "A Quinta Coluna" (uma de suas poucas peças teatrais), "O Sol Também se Levanta", "O Velho e o Mar", "Paris é uma Festa" e "Ernest Hemingway: Repórter", a Civilização Brasileira programou mais dois ainda inéditos - o segundo volume de "Contos" e o romance "Quem Perde Ganha". Enio Silveira, que sempre assinou as inteligentes notas de orelhas dos livros que editou. (Muitos acham que só estes textos valeriam uma edição em livro) - acentua que Hemingway era muy macho y mui sensible - designação que serve ao tema deste "O Verão Perigoso" - a paixão que Papa sempre dedicou às belas e bravas características da Espanha (cuja guerra civil, da qual participou, resultou em outra de suas obras-primas, "Por quem os sinos dobram", 1940). LEGENDA FOTO - Ernest Hemingway: um clássico livro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
23
31/08/1991
Parabéns. Muito bom seu trabalho. Ao ler a matéria sobre o lançamento de Verão Perigoso pela Civilização Brasileira, fiquei na dúvida se Hemingway ganhou o Nobel de Literatuta em 1964 mesmo. Não seria 1954? À parte, a matéria é excelente, trazendo informações que eu, por exemplo, não tinha. GERALDO J. COSTA JR. Rio Claro - SP - Brasil

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br