O gênio Hemingway retorna com a Civilização de Enio
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 31 de agosto de 1991
Sem nunca ter escrito um livro, Enio Silveira é, com toda razão, admirado como uma das mais importantes personalidades de nossa vida literária. É simples! Ao longo destes últimos 40 anos, Silveira, tem sido o mais coerente, corajoso e importante editor brasileiro - na mesma linha de outro pioneiro, este já falecido, José Olympio - exemplos para uma nova geração que hoje lidera a vida editorial brasileira.
Através da Civilização Brasileira, da metade dos anos 50 até 1965, Enio criou coleções marcantes - "Biblioteca do Leitor Moderno", "Cadernos do Povo Brasileiro", "Violão de Rua", entre tantas - ao lado de revistas políticas-sociais ("Revista da Civilização Brasileira", "Argumento"), que fizeram, literalmente, a cabeça de mais de uma geração. A independência e coragem de Enio em publicar livros de assuntos político-sociais lhe custou caro: inquéritos policiais-militares, detenções e praticamente o fechamento da Civilização Brasileira, após o golpe de 1º de abril de 1964. Mas o arbítrio passa e a inteligência sobrevive: a Editora Civilização Brasileira não morreu.
Embora vendida para outro grupo, parece que a antiga marca - com o logotipo que o genial Eugênio Hirsch (o melhor capital que o Brasil teve nos anos 60) criou, está reaparecendo agora em lançamentos da mesma qualidade dos tempos em que Enio e o poeta e editor Mário da Silva Brito comandavam aquela empresa.
Tanto na ficção, como na área de ensaios a Civilização Brasileira começa a trazer títulos dos mais importantes, sem esquecer outros gêneros - como a biografia, inclusive de stars ligados ao cinema ("Brando", "O Filho do Trapeiro", de Kirk Douglas).
De Ernest Hemingway (1899-1961, autor que teve suas principais obras lançadas no Brasil por Enio, saiu agora "Verão Perigoso" (tradução de Ana Zelma Campos, 256 páginas, Cr$ 5.400,00) que foi escrito inicialmente como uma série de três artigos para a revista Life.
Neles, Hemingway deveria usar o máximo de dez mil palavras para contar um pouco da sua própria vida. Porém, ele, volta ao passado e principalmente às praças de touros espanholas num verão, quando Dominguín e Ordoñez passaram a temporada se batendo em duelos memoráveis, era o que mais amava. "Papa" escreveu 100 mil palavras sobre o que viu na arena e viveu nas arquibancadas e nos bares à noite. Resultado: a versão final teve que ser lapidada por outro redator, assim mesmo ficando com 45 mil palavras que a Life publicou.
Estes textos - que ao lado de "Morte ao Cair da Tarde" (1932) é considerado um clássico sobre uma das maiores paixões de "Papa" Hemingway - a touromaquia - referem-se ao retorno de "Don Ernesto" - como era chamado pelos latinos - à Espanha, em 1959, e do seu contato com os dois maiores toureiros de todos os tempos - Dominguín e Ordoñez.
Embora já fosse um escritor consagrado - prêmio Nobel de Literatura em 1964 com sua obra prima "O Velho e o Mar" - a paixão de Hemingway pelas touradas lhe valeram críticas dos que nunca aceitaram a barbaridade deste duelo sangrento entre o homem e o animal.
Já tendo em seu catálogo, livros como "A Quinta Coluna" (uma de suas poucas peças teatrais), "O Sol Também se Levanta", "O Velho e o Mar", "Paris é uma Festa" e "Ernest Hemingway: Repórter", a Civilização Brasileira programou mais dois ainda inéditos - o segundo volume de "Contos" e o romance "Quem Perde Ganha". Enio Silveira, que sempre assinou as inteligentes notas de orelhas dos livros que editou. (Muitos acham que só estes textos valeriam uma edição em livro) - acentua que Hemingway era muy macho y mui sensible - designação que serve ao tema deste "O Verão Perigoso" - a paixão que Papa sempre dedicou às belas e bravas características da Espanha (cuja guerra civil, da qual participou, resultou em outra de suas obras-primas, "Por quem os sinos dobram", 1940).
LEGENDA FOTO - Ernest Hemingway: um clássico livro.
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