Autorizadas ou não, biografias para quem gosta da vida alheia
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 09 de novembro de 1991
Enquanto Katharine Hepburn aos 83 anos, prefere confessar sua vida em "My: Stories of my Life", autobiografia que lançada nos Estados Unidos em agosto último lhe rendeu, antecipadamente, US$ 4,3 milhões, biografias não autorizadas de gente famosa continuam a aparecer nas livrarias brasileiras, alcançando vendagens impressionantes para um gênero que até há pouco era visto com restrições pelos diretores.
Depois de Marilyn Monroe, Marlon Brando, Frank Sinatra, Jane Fonda, Ingrid Bergman entre outros terem suas desautorizadas biografias editadas entre nós, chega a vez de Greta Garbo (1905-1990), o mito maior do cinema americano dos anos 30 - no qual, em 484 páginas, um escritor fascinado por sua vida e charme procurou revelar aquilo que a estrela de "A Dama das Camélias" sempre protegeu como seu maior tesouro: sua privacidade.
"Leave me alone" - reclamava a atriz sueca que Mauritz Stiller (1883-1928) revelou ao cinema e que em Hollywood faria clássicos como "Anna Christina", "Grande Hotel" e "Ninotchka" - e que apesar de, há 50 anos exatamente, após "Duas Vezes Meu" (Two Face Woman, 41, de George Cukor) ter renunciado a fulgurante carreira cinematográfica, foi perseguida pela imprensa até a sua morte.
O poeta e escritor polonês Antônio Gronowicz, que durante 20 anos foi confidente de Greta Gustaffson - seu verdadeiro nome - só após a sua morte publicou esta biografia não autorizada (Record, tradução de Raul de Sá Barbosa, 484 páginas, ilustrado com 100 fotos), que obviamente não deixa de abordar a vida sexual da estrela - ela que teve em Atiller o seu pigmaleão e a grande paixão de sua vida, mas que nem por isto deixou de ter muitos outros amores - com homens e mulheres.
"My: Stories of my Life", de Katherine Hepburn está ainda inédito no Brasil, assim como as três biografias - não autorizadas e muito incendiárias - da cantora Madona que há um mês saíram simultaneamente nos Estados Unidos. Em compensação, a Marco Zero após ter editado as "Memórias de um Amante Desastrado", livro de reminiscências de Groucho Marx (Julius Henry Marx, 1890-1977), publicou "Groucho e Eu", a autobiografia do mais famoso dos irmãos Marx - uma família de comediantes que tem expressiva bibliografia, como "Life with Groucho" (1952) e "Son of Groucho" (1972), escritas por seu filho Arthur; "Hello I Must Be Going" (1978), de Charlotte Chandler e " Groucho" (1979), de Hector Arce. Há ainda o livro das cartas de Groucho, que talvez futuramente também aqui seja editado.
A L&PM com a segurança que Pinheiro Machado faz lançamentos certos, após ter esgotado a primeira edição da autobiografia (consentida) de Ava Gardner (1922-1990), volta-se para biografias literárias e artes plásticas. Assim é que a quem se interessa pela vida dos grandes mestres da pintura, uma obra indispensável é "Paul Gaugin", de Pierre Daix (tradução de Antônio Carlos Viana, 352 páginas).
A vida dramática de Gaugin (1848-1903) - recentemente focalizado no filme "O Lobo atrás da Porta" - que com o holandês Vincent van Gogh e o francês Paul Cezáne formou o núcleo de criação de uma arte que desde 1910 é chamada de pós-impressionismo, tem na biografia de Daix uma visão profunda. Seus sucessos e muitos fracassos, suas principais idéias, as aproximações entre episódios vividos por ele e a criação de diversas de suas obras são analisadas neste livro de primeira grandeza.
A Civilização Brasileira - que nos anos 50/60, quando já dirigida por Enio Silveira fez as primeiras edições de roteiros, ensaios e biografias de artistas do cinema, continua numa linha editorial em que oferece obras informativas com perfis de personalidades contemporâneas. Depois de biografias de Kirk Douglas ("O Filho do Trapeiro") e Marlon Brando, chega a vez do mundo dos punks, através de "Sid & Nancy", em que Gerald Cole reconstitui a trágica - e fugaz carreira de Sic Vicious (John Simon Ritchie, Londres, 10/05/1957 - Nova Iorque, 23/02/1979), integrando do grupo "Sex Pistols", formado por Johnny Rooten (John Lydon, Londres, 1956) em 1975, chegou literalmente ao fundo do poço, suicidando-se num apartamento do Hotel Chelesea, junto com sua amante, Nancy Spungen, uma tiete americana ansiosa por emoção e notoriedade.
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Nem só de inconfidências e escândalos em torno de artistas mortos vive o mercado editorial. Assim, uma nova editora - a Arte Plural - adquiriu da Pergaminho, de Lisboa, os direitos para colocar no Brasil uma série de biografias sobre artistas contemporâneos, dento da série "Estrelas em Destaque".
Com excelente apresentação e preços convenientes, a coleção inicia com os livros dedicados a Mickey Rourke (por Philippe Durant, tradução de Alexandra Salgueiral) e Tom Cruise (de Nadine Schmidt, tradução de Rui Moura). Dois astros que se projetaram nos anos 80 - Rourke a partir de "O Selvagem da Motocicleta" (Rumble Fish), Cruise impulsionado por "Ases Indomáveis", "A Cor do Dinheiro" e "Rain Man", são dois exemplos de uma nova geração de atores de consumo da indústria americana. Programados para a mesma coleção, nos próximos meses, volumes dedicados a Dustin Hoffman, Sean Connery, Michael Douglas, Harrison Ford e Jack Nicholson - este, num estudo de Philip Durant - e que será um complemento à sua autobiografia recentemente lançada no Brasil pela Nórdica, cujo editor Jaime Bernardes, também tem estado antenado com biografias de gente famosa.
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