"Eu", uma grande vida da atriz Katherine Hepburn
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 05 de junho de 1992
Sete anos após a jornalista Anne Edwards ter esmiuçado a vida de Katherine Hepburn em "A remarkable woman" (edição no Brasil da Francisco Alves Editora, "Uma mulher fabulosa", 498 páginas, tradução de Roberto de Cleto), chegou a vez da própria atriz contar a sua vida. E o fez num dos best-sellers de 1991, "Me: stories of my life", que agora chega na tradução de Beth Vieira ("Eu: histórias de minha vida", 384 páginas, Siciliano).
Entre a detalhadíssima reportagem-pesquisa de Anne Edwards - no Brasil incluída na coleção Presença, pela qual a Francisco Alves trazia excelentes biografias, a este pessoal "Eu" vai uma grande distância. Aproximando-se de seus 83 anos - a serem completados em 9 de novembro, mas ainda mantém uma notável vitalidade - como tem demonstrado em alguns tv-movies feitos nos últimos anos, Katherine decidiu falar livre e descontraidamente de sua riquíssima vida. Como Anne Edwards - entre outras biógrafas, já havia cuidado de revelar os mínimos detalhes, datas e nomes não só de sua vida pessoal, mas principalmente de uma carreira de 60 anos no cinema - e outro tanto em teatro, Katherine não se preocupa em "Eu" com detalhes. Mas fala de uma forma espontânea, como se ao vivo, com sua inimitável voz, espiritual, inteligente, sincera, apaixonada, premente - estivesse num palco lembrando histórias de sua vida ("e quando digo histórias, desconfio de que esteja falando, de um modo bastante precioso, de certos momentos, e não de outras coisa.."), levando-nos de volta à sua infância, à sua vida em família, aos seus primeiros tempos em Hollywood e Nova York.
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60 anos de cinema, considerando sua estreia como a personagem Sidney Fairfield em "Vítimas do divórcio" (A bill of divorcement, 1932, de Geoge Cukor), da peça de Clemence Dane, ao lado de John Barrymore. De teatro, são 64 anos, a partir de suas primeiras participações em montagens na companhia de Edwin Knopf, em Baltimore, em 1928. E desde então, nunca mais parou: fez filmes grandiosos, outros nem tanto, mas sempre deixou sua marca de grande atriz. Não é sem razão que é a atriz com maior número de indicações e premiações ao Oscar.
O primeiro deles conquistou em 1933, por "Manhã de glória" (Morning glory, 32, de Lowel Sherman), seu terceiro filme. Seguiram-se indicações em 1935 por "A mulher que soube amar" (perdeu para Bette Davis por "Perigosa/Dangerous"); 1940 por "Núpcias de escândalo/The Philadelphia story" (perdendo para Ginger Rogers por "Kitty Foyle"); 1942 por "A mulher do dia" (perdendo para Greer Garson por "Rosa da esperança"); 1951 por "Uma aventura na África" (perdendo para Vivian Leigh por "Uma rua chamada pecado"); 1955 por "Quando o coração floresce" (perdendo para Anna Magnani por "A rosa tatuada"); 1956 por "Lágrimas do céu" (The rainmaker"), perdendo para Ingrid Bergman por "Anastácia, a princesa esquecida"; 1959 por "De repente no verão passado" (perdendo para Simone Signoret por "Almas em leilão"); 1962 por "Longa jornada noite a dentro" (perdendo para Anne Bancroft por "O milagre de Anne Sullivan"). Em 1967, o segundo Oscar de melhor atriz por "Adivinhe quem vem para o jantar?" e, no ano seguinte, 1968, nova premiação, então por "O leão no inverno" (embora dividido com Barbra Streisand por "Funny girl, a garota genial"). Em 1981, finalmente a quarta estatueta, por "Num lago dourado" (On golden pond), o último filme de Henry Fonda, da peça de Ernest Thompson - ainda recentemente apresentada em Curitiba.
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Katherine Hepburn fala com espontaneidade sobre os seus principais filmes. Por exemplo, em alguns fazendo maiores observações, de outros reduzindo-os apenas a 4 ou 5 linhas - falha de memória ou desinteresse pelos mesmos?
O discretíssimo romance que manteve durante quase toda sua vida com o ator Spencer Tracy (que era católico e casado, e por isto nunca se divorciou), é abordado por Katherine com toda a ternura (o ator morreu em 10 de junho de 1967). Especialmente tocante é o texto "Querido Spencer", na qual lembra a longa relação que tiveram - e que no cinema ficou em meia dúzia de filmes memoráveis, o último dos quais foi o "Adivinhe quem vem para jantar?", no qual estrearia sua sobrinha, Katherine Houghton - que, não chegou a fazer carreira.
LEGENDA FOTO - Katherine Hepburn, 83 anos, em "Eu: Histórias de Minha Vida", lembra sua vida, a paixão por Spencer Tracy e seus filmes, como "Adivinhe Quem Vem Para Jantar?" que fez em 1967, com Tracy (pouco antes de sua morte) e sua sobrinha Katharine Houghton, com a qual aparece nesta foto feita nos estúdios em 2/11/67. Katharine já recebeu Oscars como melhor atriz e ainda continua em atividade.
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