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Tempo de biografias de Braga a Sinatra

O jornalista Dario Macedo, do "Correio Brasiliense" tem vindo regularmente a Curitiba. São passagens discretas, nas quais procura apenas uma pessoa: o ex-ministro Ney Braga. Razão: está trabalhando organizadamente num livro sobre o atual presidente da Itaipu Binacional, focalizando sua presença na política brasileira. Um projeto que outros jornalistas - como Gilberto Larssem, hoje assessor-chefe de comunicação da RFFSA, no Rio de Janeiro - já pensaram em desenvolver e que, por razões diversas, não conseguiram levar adiante. O editor Roberto Gomes, espelhado no exemplo da série "Esses Gaúchos", que a Tchê criou há dois anos, com volumes de bolso, biografando todos os gaúchos que se destacaram em diferentes campos, pensou também em fazer algo semelhante no Paraná. Mas, até agora, não encontrou autores dispostos a mergulharem no campo da biografia. Salvo edições com mais toques familiares/pessoais do que visão ensaísta e informativa, a biografia é ainda um gênero reduzidíssimo entre nós. Mesmo uma personalidade da dimensão do ex-governador Bento Munhoz da Rocha Neto não tem um estudo biográfico imparcial. Sobre outro ex-governador, Moyses Lupion, 81 anos, já se pensou fazer algum trabalho - inclusive por parte do jornalista Samuel Guimarães da Costa (que acompanhou sua trajetória política desde o início dos anos 40), mas as tentativas frustraram-se. A única obra sobre Lupion, escrita por seu amigo e advogado Raul Vaz, tem, obviamente, uma visão bem apaixonada - e corre-se o risco do homem que governou, por duas vezes, eleito pelo povo, deixar o mundo sem ter prestado um grande e importante depoimento - que hoje, com a tranqüilidade do tempo poderia ter novos enfoques sobre um dos períodos mais importantes do Paraná. xxx A biografia é um gênero tão importante quanto difícil, variando do enfoque que se dê a obra. E o público interessado cresce cada vez mais - desde os livros sobre nomes do show bussiness até os depoimentos pessoais de políticos ou empresários, o que explica o sucesso de livros de Lee Iacocca e Akio Morita ("Made in Japan"), ambos editados pela Cultura Editora e que permanecem entre os mais vendidos. De todas as biografias colocadas no mercado, recentemente, a mais polêmica é a de Frank Sinatra ("His Way", Record, 560 páginas, tradução de Pinheiro Lemos). Pelo próprio fato de ser uma "biografia não autorizada" - e que sofreu ameaças de processo por parte de The Voice, a autora, Kitty Kelley, deitou e rolou sobre o lado menos simpático do cantor-ator mais conhecido do mundo. Ao contrário de obras que endeusam Sinatra - como "O Romântico do Século XX", de Arnold Shaw (1969, editado no Brasil pela Mundo Musical, com prefácio de Roberto Carlos, 425 páginas), "His Way" procurou mostrar, com o maior rigor, o lado agressivo de Sinatra, seus relacionamentos com mafiosos, suas terríveis brigas com a imprensa, suas manias pessoais, suas relações difíceis com todos que o cercam. Kitty Kelley não se preocupou, em momento algum, em trazer informações do lado artístico, citando ocasionalmente gravações e filmes apenas como pano de fundo de sua vida complicada. Em compensação, temendo justamente o processo (que acabou não acontecendo, apesar das ameaças iniciais), documentou-se de forma extraordinária, relacionando ao final, em 21 páginas, todas as fontes em que se baseou para fazer as denúncias e afirmações contidas no livro. Denúncias, aliás, que fazem com que este livro, desde o lançamento nos EUA, permaneça entre os mais vendidos. Afinal, o mito de Sinatra é grande e questione-se ou não o direito de desmistificá-lo, em seu lado humano, a leitura desta obra é fascinante e atraente. Autora de dois outros livros biográficos - "Elizabeth Taylor, a Última Estrela" (já editado no Brasil pela Francisco Alves) e "Jackie Oh!" (sobre Jacqueline Kennedy), Kelley não deixa, entretanto, de reconhecer alguns pontos simpáticos e positivos de Sinatra, especialmente atitudes humanas. Mas, a rigor, é inclemente para com o ídolo. xxx Se uma "biografia não autorizada" traz sempre o lado que o biografado obviamente não prefere, a opção para quem se torna figura pública é oferecer sua própria versão dos fatos de sua vida. Quem escreve bem, não tem dificuldades de transformar autobiografias em obras atraentes. Assim fez há 3 anos o cineasta polonês Roman Polanski em "Roman" (edição no Brasil da Record, 390 páginas) ou há 7 anos, John Huston ("An Open Book"), cuja tradução para o português (de Milton Persson), editado pela L & PM (468 páginas), saiu ironicamente, apenas três meses antes de sua morte, ocorrida em 28 de agosto último. Candice Berger, com apenas 41 anos, achou que já poderia contar a sua vida, fazendo-o num livro simpático que em tradução de Áurea Weissberg saiu há pouco pela Francisco Alves (384 páginas, Cz$ 380,00) na coleção "Presença", a qual se acrescentou, há um mês, outra importante biografia: "Uma Mulher Fabulosa", esta de Anne Edwards sobre a atriz Katherine Hepburn. Na Europa e EUA, raro o mês em que não aparecem novos livros biográficos. Ainda agora, no final de agosto, saíram novos livros sobre Marilyn Monroe ("Marilyn Inconnue", de Gloria Steinem / George Barnis), Charlotte Rampling e uma biografia de Luchino Visconti, de autoria de Laurence Schifano. xxx No lado musical, também sucedem-se biografias: depois de "Eu, Tina", na qual a cantora Tina Turner contou sua vida ao jornalista Kurt Loder (tradução de Alfredo Barcellos, 261 páginas, Rocco), temos uma biografia de Little Richard, sem contar que a lavagem da roupa suja de Priscila Presley (também editada pela Rocco) continua vendendo bastante. Afinal, dez anos após a morte de Elvis, seu público continua imenso. LEGENDA FOTO 1 - Ney Braga: biografia em andamento. LEGENDA FOTO 2 - Candice: memórias aos 41 anos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
15/09/1987

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