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Aramis

Ava Gardner de corpo e alma a toda elegância de Visconti

Entre os títulos mais interessantes na área cinematográfica editados este ano no Brasil estão "Ava - Minha História", autobiografia de Ava Gardner, falecida aos 68 anos em 25 de janeiro de 1990 e "Visconti - O fogo da Paixão" de Laurence Schifano. Autobiografia de Ava Gardner (LP&M, 331 páginas, tradução de Celso Loureiro Chaves) é daqueles livros que atingem várias faixas de leitores que gostam de memórias cinematográficas: os simples fãs da atriz morena e sensual que nos anos 50 enlouquecia os sonhos eróticos de adolescentes fascinados por sua beleza - enquanto Frank Sinatra sofria com suas traições espanholas, encontrarão no relato de Ava momentos de grande prazer. Para quem acompanha o cinema de uma forma mais profunda não deixa de ser curiosa a descrição de bastidores do star system, com (não muitas) indiscretas revelações de detalhes que cercaram cada filme. Em sua autobiografia Ava se propôs a "contar a verdade a respeito dos três homens que amei e com quem casei: Mickey Rooney, Arite Shaw e Frank Sinatra. Quero escrever sobre a Hollywood que conheci no início dos anos 40, recém chegada das plantações de algodão e tabaco da Carolina do Norte. Quero falar dos filmes que fiz, muitos deles em cenários exóticos que freqüentemente eram mais espetaculares do que os próprios filmes". Mas Ava também lembrou seus tempos de madrugadas, de bebedeiras, de festas incrementadas, de viagens - com direito a uma bravíssima menção a sua passagem pelo rio de Janeiro e a famosa noite do quebra-quebra em sua suite no Copacabana Palace. Sincero, emotivo, confessional, completado em sua narração (Ava gravou muitas horas de fitas, transcritas e redigidas por um ghost-writer , obviamente completado poucos meses antes de morrer. "Minha vida" é um livro dos mais interessantes, indispensável para se conhecer melhor uma das últimas deusas do star system dos anos 40/50. Se "Minha Vida" é uma narrativa pessoal, quase como uma conversa viva com uma das atrizes mais famosas de Hollywood - mas que nunca recebeu um Oscar em sua carreira - "Visconti - O fogo da Paixão" de Laurence Schifano (Editora Nova Fronteira, tradução de Maria Helena Martins, 470 páginas) transcende a simples biografia. Publicada na França há 4 anos, "Luchino Visconti Les Feux de La Passion" ganhou prêmios da Academia Francesa em 1988 como biografia pela profundidade com que Laurence Schifano, uma especialista em história do cinema e seus grandes realizadores, desenvolveu o livro. Uma obra tão sofisticada e elegante como foi o próprio biografado, filho de uma das mais nobres famílias de Milão, criado em ambientes requintadíssimos, homem riquíssimo mas que foi também comunista consciente. Durante os nove anos em que residiu em Nápoles, como professora do Instituto Francês, Laurence pode aprofundar os estudos para fazer uma biografia definitiva de Luchino Visconti (1906-1976), um dos mais requintados cineastas de nossa época que de "Ossessione" (1942) a "O Inocente" (1976), realizou filmes dos mais criativos e requintados, como "Sedução da Carne" (Senso, 54), "Rocco e seus irmãos" (60), "O Leopardo" (63), "Os Deuses Malditos" (69), "Morte em Veneza"(70) e, sua última obra-prima, "Violência e Paixão" (74), sempre voltado a compreensão do ser humano. Múltiplo talento - além do cinema foi consagrado encenador de óperas, peças de teatro, etc. - Luchino Visconti tem neste livro um biografia a altura de sua dimensão de homem e artista.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
16/06/1991

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