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Aramis

A biografia que revela Woody de corpo inteiro

Uma das mais completas biografias já feitas sobre um cineasta contemporâneo foi a que Eric Lax publicou no ano passado nos Estados Unidos sobre Woody Allen e que, menos de 7 meses após ter saído naquele País teve sua tradução brasileira lançada pela Companhia das Letras ("Woody Allen - Uma Biografia", 387 páginas, tradução de Giovanni Mafra Silva). Ao contrário de grande número de biografias sobre personalidades contemporâneas que tem sido escritas, "sem autorização", este estudo de Lax teve apenas uma restrição: é uma obra tão respeitosa e fiel ao diretor de "Hannah e suas [irmãs]" - que a aprovou inteiramente - que alguns críticos mais severos chegaram a criticá-lo pelo quase endeusamento que o autor faz do ator-roteirista-diretor que nos últimos 20 anos tem sido o criador de maior voltagem do cinema americano. Trabalhando rapidamente - e sempre na maior discrição - Allen chega a fazer até dois filmes por ano, sobre os quais não permite a menor divulgação prévia. Agora, enquanto conclui um novo projeto, rodado num famoso colégio americano, surpreendeu a todos ao fazer, em 12 de fevereiro último, a estréia mundial de seu 22.º filme em Paris: "Sombras e Neblina". Rodado em preto e branco, este filme - segundo o jornalista João Baptista Magalhães, um dos primeiros a assisti-lo em sua estréia parisiense, "retrata o pesadelo kafkaniano de um burocrata (o próprio Allen) que é arrancado de sua vida cotidiano e lançado no [redemoinho] de uma perseguição a um estripador". Os cenários reproduzem uma cidade da Europa Central no período entre as duas guerras, e evocam o expressionismo alemão dos anos 20. Produção mais cara de Allen (US$ 20 milhões), usa muitos personagens: sua esposa - e atriz do últimos filmes - Mia Farrow, interpreta uma acrobata de circo que abandona seu amante, o palhaço John Malkovitch, porque ele tentou seduzir a companheira do halterofilista (Madonna). Donald Pleasance é um médico obcecado pela idéia de prender o estripador para extrair de seu cérebro seus instintos assassinos. Enquanto não consegue, freqüenta prostitutas (entre elas Jodie Foster). Apesar de lançar o filme na França - numa homenagem ao público parisiense que sempre o valorizou mais do que nos EUA, Allen, 56 anos, nem por isto deixou Nova York, onde passou o mês de fevereiro finalizando seu novo filme. xxx A carreira de Woody Allen (na verdade Stewart Konisberg, nascido no Bronx, Nova York, em 1 de dezembro de 1935) é fascinante e isto é que fez com que Eric Lax, 48 anos, nascido ma Columbia Britânica, formado pelo Hobart College, como jornalista se entusiasmasse pelo cineasta ao conhecê-lo em 1971. A primeira entrevista foi quase onomatopaica, mas assim mesmo 4 anos depois Lax publicava um livro - "On being funny": Woody Allen and comedy". Passou mais 15 anos rastreando a vida de Allen, entrevistando centena de pessoas que com ele conviveram em diferentes fases de sua vida e, naturalmente, conquistando sua confiança para longas entrevistas-depoimentos. O resultado é um livro que só não pode ser considerado definitivo porque, felizmente, Allen continua a ser esta notável usina de criatividade como mostra em cada novo filme. Eric Lax, colaborador [regula] de publicações como "The Atlantic", "The New York Times Magazine", "Life" e "Esquire" , mostra que para se biografar uma personalidade há que se trabalhar muito - e não fazer um texto na base de informações de segunda ou terceira mão. Assim é que passou os últimos 20 anos acompanhando de perto a vida e a carreira de Allen. Como acentua o editor Luiz Schwartz, na "orelha da edição brasileira, Lax esteve nos bastidores, nas salas de edição, observou filmagens, desvendou as origens e o processo de elaboração de já consagradas personagens e histórias. O resultado é um livro que vale também como uma deliciosa viagem pelo passado recente de Nova York e de Hollywood, pela história do cinema e do showbusiness norte-americano. Allen, do cineasta com um humor muito próprio mas que tem se revelado um notável analista da alma e sentimentos mais profundos (como em "Interiores", "A Outra" e "Crimes e Pecados"), o solitário que detesta badalações mas que nas noites de segunda-feira é o assíduo [clarinetista] do Michael's Pub, em Nova York (onde vários curitibanos, inclusive este repórter, já foram assisti-lo), é um ser humano fascinante em seus vários aspectos. Assim, para quem, especialmente, curte o cinema - e tem uma informação mais ampla de pessoas, filmes e locais citados - esta obra adquire ainda maior interesse. Lax fala das relações amorosas de Allen - inclusive sobre a lenda de que, aos 20 anos, quando se casou pela primeira vez (com Harlene Rosen) era ainda virgem, naturalmente o texto se demora nos relacionamentos com Diane Keaton e Mia Farrow - que, respectivamente, ao seu lado estiveram nos filmes mais importantes que realizou nestes últimos 15 anos. Woody e Diane se conheceram durante os ensaios da [peça] "Play it aqain, Sam", na Broadway - que viria a ser filmado com eles, naturalmente e que no Brasil se chamou "Sonhos de um Sedutor" (disponível em vídeo). Apesar de ter desde 1978 uma vida regular com Farrow, (e com ela teve, aos 50 anos, o seu primeiro filho Satchel) Woody continua a viver sozinho em seu imenso apartamento defronte o Central Park, enquanto, bem próximo, Mia vive com seus nove filhos - cinco dos quais adotados, e os mais velhos de seu casamento com o maestro André Previn (com quem foi casada após ter sido mulher de Frank Sinatra). Editando "Wood Allen - Uma Biografia", a Companhia das Letras colocou ao alcance dos brasileiros que aprenderam a admirar Allen um livro tão fascinante e importante como os filmes do biografado. Um lançamento de primeira categoria. LEGENDA FOTO: Eric Lax, 20 anos nos pés de Woody Allen para escrever a grande biografia sobre o diretor de "A Rosa Púrpura do Cairo".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
15/03/1992

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