Pirataria prejudicou filme de Woody Allen
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 20 de setembro de 1987
Parece que agora é para valer: algumas milhares de cópias piratas (que alguns chamam de alternativas) já foram apreendidas pelo CONCINE e a campanha vai continuar - com sanções ainda mais rigorosas aos gananciosos proprietários de locadoras que não se ajustarem à legislação. Tempo não faltou para que o mercado fosse suprido de fitas seladas e a quantidade de lançamentos que vem ocorrendo por mês prova que opções existem. Só que entre pagar Cz$ 2.500,00 à Cz$ 3.000,00 por vídeo legal a continuar a usar cópias piratas a Cz$ 900,00, faz com que a segunda opção ainda permaneça para muitos. A estes, paciência, mas a lei tem que ser cumprida...
Também tem que acabar o comodismo dos consumidores em exigir filmes up-to-date, produções do ano, ainda inéditos em circuito comercial, junto às locadoras. Que os filmes realmente inéditos, que não terão distribuição comercial nos circuitos de 35mm, sejam comercializados via vídeo até se pode aceitar - pois isto inclui muitas obras de qualidade, mas com poucas chances de bilheteria. Entretanto, filmes que terão lançamento próximo - ou já estreados no eixo Rio-São Paulo - não podem ser estimulados em ditas cópias "alternativas".
Aquela teoria de que o vídeo não concorre com o cinema é discutível. Woody Allen, 51 anos, hoje um dos mais criativos cineastas do mundo, tem combatido tanto a "colorização" dos velhos filmes em preto-e-branco (esteve até em Washington, falando no Senado) como é exigente em termos da venda de seus filmes para vídeo. Assim, como se explica que as próprias locadoras, inclusive algumas de Curitiba, façam o maior carnaval, anunciando como dos mais procurados, filmes como "A Rosa Púrpura do Cairo", "Hannah e suas Irmãs" e, há 3 meses, "A Era do Rádio?"
Aleixo Zonari, 47 anos, diretor da Vitória Cinematográfica, admite que "não entende o que aconteceu" em termos de bilheteria de "Radio Days", que após duas magras semanas de exibição foi retirado de cartaz. No ano passado, "Hannah e suas Irmãs" permaneceu semanas em projeção e não só foi considerado o melhor filme do ano segundo a crítica, como esteve entre as melhores bilheterias. "Radio Days", em duas semanas (primeiro no Astor, depois no Cinema I) rendeu ao redor de Cz$ 300 mil, insuficiente para justificar sua permanência em cartaz. Alfredo Prim, representante local da 20th Century Fox, também admite que a concorrência do tape foi fatal:
- "Woody Allen atinge o público classe "A". Justamente o que possui videocassete. É claro que havendo cópia em vídeo, prefere o conforto do vídeo. Se fosse um "Rambo", a concorrência não seria tão grande..."
A questão do vídeo é ampla e há interesses imensos na "defesa" das chamadas cópias alternativas. Uma faca de dois gumes, que se proporciona a chance de se conhecer filmes que permaneceriam inéditos, de outro, estimula uma concorrência - com cópias mal feitas, legendas escuras e que, afinal, tiram o encanto da tela ampla.
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