"Cobra" ataca também os piratas do vídeo
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de agosto de 1986
O primeiro aviso veio no domingo, nas páginas do "Jornal do Brasil" e "O Globo". Hoje, em todas as cidades onde acontece o lançamento nacional de "Stallone - Cobra", a Warner Brothers/União Brasileira de Vídeo, repete o alerta: cada uma das 60 cópias a serem exibidas portará um código de identificação que irá possibilitar-se imediatamente a reprodução ilegal em vídeo-cassetes.
Repete-se, assim, no Brasil, o mesmo esquema que a Warner Bros. adotou nos Estados Unidos há 3 meses, quando este novo filme estrelado por Sylvester Stallone teve seu superlançamento. Várias fontes de pirataria foram identificadas em diferentes partes do mundo, de forma que o sistema aqui será aplicado - com todo o rigor, para levar quem se atrever a produzir cópias piratas à cadeia.
"Stallone-Cobra" não tem, nem mesmo nos EUA, ainda reprodução em vídeo. Assim, se aparecer alguma cópia só poderá ter sido feita ilegalmente e por isto a marcação, codificada eletronicamente e em série - o que não é facilmente visível - é, no entanto, perceptível em todas as cópias piratas do filme para vídeo, e subsequente transferência de vídeo para vídeo, inclusive nas cópias tiradas das telas de cinemas com uma câmera de vídeo, permitindo portanto, que se descubra, desde logo, quais as cópias do filme original que foram usadas para a pirataria.
George Roupp, gerente de publicidade da Serviços de Distribuição de Filmes - que representa no Brasil a Columbia Pictures e Warner Bros., garante que, "identificada a procedência da cópia, o cinema que o exibe será responsabilizado - através da gerência, operadores - enfim, todos que têm acesso à cópia". Em São Paulo, supõe-se, podem ocorrer piratarias diretamente do cinema - já que em Curitiba o risco é mínimo, pela falta, inclusive, de estrutura tecnológica que exige a reprodução direta de uma sala de exibição.
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Determinada a proteger todos os seus direitos e a integridade no lançamento de "Stallone-Cobra" - filme de previsão para render mais de Cz$ 5 bilhões nas primeiras semanas - a Warner processará judicialmente todos os envolvidos na reprodução clandestina, distribuição comercial ou em atividades públicas "sem fins lucrativos", bem como na exibição ilegal de cópias fraudulentas. Até o estímulo ao dedorismo está sendo oferecido: em conjunto com a União Brasileira de Vídeo, a empresa oferece um prêmio de Cz$ 5 mil por informação referente a "Stallone-Cobra", que permita processar-se qualquer pessoa ou pessoas incriminadas nas atividades ilegais. Haverá ainda um prêmio de Cz$ 1.000,00 para cada uma das 15 primeiras cópias piratas de "Stallone-Cobra" recebidas até 15 de setembro. E é garantido sigilo absoluto.
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Depois de personificar em "Rocky" a saga do rosto anônimo que chega ao ápice do sucesso - meso tendo que dar murros em meio mundo - combater os vietcongs nas selvas do Vietnã como o sargento Rambo, Stallone - cujo próximo filme, "Top of the World", lhe dará nada menos que US$ 12 milhões de pagamento - é agora, em "Cobra" o superagente da polícia nova-iorquina - e cuja oportunidade a Warner decidiu também utilizar no combate aos piratas do vídeo-cassete, que causam milhões de prejuízos às empresas de cinema.
Um mercado próspero mas em crescimento totalmente descontrolado, a locação de vídeo-cassetes vem sendo estimulada em 90% com cópias piratas. Em Curitiba, em menos de dois anos, apareceram nada menos do que 40 locadoras, muitas delas improvisadas em garagens, antigas lojas e até em sebos de livros e discos, como uma instalada por um argentino na Praça Osório.
Como o mercado de fitas legalizadas, com selo da Embrafilmes, ainda é pequeno - e o público que se busca é limitado culturalmente, exigindo apenas os filmes de sucesso do momento, sem interesse pelos de qualidade artística ou antigos, acontece a rapinagem de tudo que pode ser chamado de up to date em matéria de lançamentos. Além disto, os próprios vídeos legendados, comercializados legalmente ao redor de Cz$ 1.000,00 a unidade, são reproduzidos em quase todas as locadoras, para assim poder atender a demanda dos mais populares, como "O Beijo da Mulher Aranha" e "Eu Sei que Vou te Amar". Só uma locadora, instalada há poucos meses, fez uma dezena de cópias do filme de Arnaldo Jabor, em vídeo, para atender a demanda de seu público.
Pioneiro na área do vídeo em Curitiba - (em 1979 já montava o seu vídeo-clube), o empresário Luis Renato Ribas, presidente da Associação Paranaense de Empresas e Entidades de Vídeo e Comunicação, preocupa-se com a presença de tantas locadoras-piratas na praça. Defendendo a retirada de todos os tapes ilegais, uma disciplina da área, Luiz Renato terá, ainda esta semana, novo contato com Gustavo Dahl, presidente da Concine, para debater questões relacionadas a aplicação de normas rígidas em relação à comercialização dos vídeos cassetes. Somando-se a isto, as empresas que operam na área - especialmente multinacionais como a UIP - estão também dispostas a jogar duro, levando à cadeia os que se aproveitam da situação. E muita gente de Curitiba, aliás, está na mira para sofrer processos rigorosos. Quem viver, verá!
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