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Aramis

Renasce a Cinelândia. Renasce? (III)

Ismail Macedo, 61 anos, há 15 na presidência do Sindicato dos Exibidores do Paraná e Santa Catarina, telefonou já no domingo para acrescentar novos 0 e importantes - dados com relação à Cinelândia, da qual ele foi um dos responsáveis em seus anos de glória. Castrense apaixonado - tanto é que além de presidir o centro dos filhos do município das margens do Iapó, ainda edita um jornal mensal, para falar da sua terra natal, Ismail começou a trabalhar com David carneiro em 1932 e esteve ligado às suas empresas até o final dos anos 50, Em 1951, Ismail assumiu a gerência do Cine Ópera e, cinco anos depois junto com três outros sócios - Jorge Daux, Caetano Figueiredo e Otávio Woellner, mais a participação de dois filhos do professor David - o arquiteto Fernando e o economista David Jr., fundariam o Orcopa - Organização Comercial Paraná Santa Catarina, que viria desenvolver o circuito de exibição, com cinemas em bairros (Guarani, Flórida e Marajó) e centrais (São João, Plaza e Vitória), os quais, só em 1965 - já então com a empresa com muitas transformações - seriam vendidos ao exibidor Jorge Aziz, de Ponta Grossa, que, logo a seguir o transferiria para o grupo de Arnaldo Zonari, que o mantém até hoje. *** Assim, Ismail lembra o nome do exibidor ponta-grossense que se associou a David Carneiro << quando o edifício Heloísa ainda estava em construção >>, para a instalação do Ópera: Leônicio Aranoski, falecido há poucos anos. E Leônico, diz Ismail, << não chegou a falir>.. realmente, a situação financeira estava tensa, mas por sugestão de Jorge Rinaldi, que gerenciava o Ópera, e com assessoria jurídica de Dálio Zippin - um dos mais conhecidos (e estimados) advogado do Paraná, David carneiro, que havia construído o prédio, ficou com o cinema, mantendo-se seu único proprietário até a formação da Orcopa.. As referências aos cinemas, cada vez que se fala na Avenida Luiz Xavier, ou a << Cinelândia >>, são indispensável. Pois se, hoje, assiste-se o seu esvaziamento, que tem até no fechamento no último dos cafés que ali existia (o << Damasco >>, na loja térrea do Heloísa), um dado importante, nunca é demais lembrar os anos em que a pequena avenida, era, o centro elegante e ponto de encontro da população. Como escrevemos há mais de um ano (O ESTADO, 15.1.1979), nas décadas de 40 e 50, quando os grandes estúdios americanos, mandavam e desmandavam na programação cinematográfica de todo o mundo (de certa forma, isto continua acontecer, embora de outras maneiras) as produtoras-distribuidoras tinham cinemas praticamente fixos para exibição de suas fitas. A Warner Brothers, no início, foi atraído pelo Ópera, mas depois se voltaria aos cinemas do pioneiro Henrique Oliva (1901-1965). As produções dos estúdios dos irmãos Warner estreavam sempre às quinta-feiras no Palácio (que teria uma de suas reformas em 1950, reabrindo com uma produção italiana, << Fabiola >>) ou no Luz (1939-1961), que na Praça Zacarias, foi durante 22 anos, uma das casas confortáveis da cidade, ao prédio construído pelo empresário Teófilo G. Vidal (1891-1950), e que só acabou devido ao incêndio, a 26/4/61, quando exibia << O Homem do Sputnik, >> 60, de Carlos Manga - onde Iscarito contracenava com Norma Benguell (imitando Brigite Bardot), numa de suas primeiras experiências cinematográficas. O Ópera se firmaria, entretanto, como o lançador dos filmes da Metro Goldwyn mayer, fundada em 1924 e que sobre vive até hoje, embora associada a outras corporações. Já a 20th Century Fox, em compensação, após 1947, passou a lançar suas produções no Cine Avenida, casa que teve vários arrendatários, até ser assumida por Paulo Sá Pinto, da Empresa Sul, que a manteve até 1965, quando também vendeu seus cinemas de Curitiba (além do Avenida, aqui possuía a Marabá - hoje Bristol; Rivoli, o Glória, afora os já desaparecidos Ritz, America, entre outros). A Paramount, fundada em 1914 e que teve em Adolph Zukor (1873-1976) o seu principal Tycoon, assim como a Columbia Pictures (fundada em 1924, pelos irmãos Harry e Jack Cohn) também trabalhavam quase que exclusivamente com os cinemas do velho Oliva. A RKO, United e outras promotoras nunca chegaram a se fixar em apenas uma rede, pois a política cinematográfica - no passado, como hoje, sempre obedeceu a critérios imprevisíveis, num terreno movediço e perigoso e que condenou tantos empresários menos habilidosos ao fracasso. Que o diga, João Deckmann, que investindo milhões de cruzeiros no Ribalda, no bairro do Bacacheri, sofre até hoje pela falta de filmes inéditos, acumulando prejuízos que o levam a estudar o fechamento de sua casa altamente deficitária - embora a Secretária da Cultura, através da Fundação Teatro Guaíra, tenha, desde o último dia do ano passado, um projeto para transformá-lo num necessário cine-teatro. *** Hoje, afora ao ribalta, de Deckmann, os cinemas de Curitiba estão distribuído entre a Fama Filmes, a Sul (o Plaza, inaugurado há 16 anos, por iniciativa da Orcopa, em terreno pertencente a Associação dos Servidores Públicos do estado, na Praça Osório) e a CIC. Aliás, essa sigla corresponde a Cinema Internacional Corporation, que representa, fora dos EUA e Canadá, os interesses da Bueno Vista (de Walt Disney Inc.), MG, Paramount e Universal (fundada em 1912, por Carl Laemlle), em todo o mundo. No Brasil, em outubro de 1976, a CIC adquiriu o circuito da Condor Filmes, da família Verde matinez, que incluía em Curitiba o Cine Condor (inaugurado a 7/2/1971, com << O Passageiro da Chuva >>, 1969, de René Clement) e o Lido (inaugurado por Henrique Oliva em 17/9/59, com << Guerra e Paz >>, 1956, de King Vidor). O Lido havia sido vendido à Condor em 1973, por Homero Oliva, por apenas Cr$ 3 milhões, quando hoje, só o prédio na Rua Ermelino de Leão, vale mais de Cr$ 30 milhões. Aliás, por todo o circuito da Condor - cinemas em vários Estados - a CIC pagou US$ 6 milhões, uma fortuna para a época. *** Fã do cinema - só perde um bom filme quando seus compromissos oficiais são inadiáveis - Jaime Lerner sonha em rever a Avenida Luiz Xavier e Rua XV de Novembro, ocupada por casas de exibição. O projeto da Confeitaria Schaffer (aliás, ninguém mais falou de data de reinauguração, após todo o oba-oba feito a respeito) foi modificado para um (discutível) cinema de pouco mais de 100 lugares. Na Praça Ruy Barbosa, fala-se em reservar espaço para minicinemas - inclusive um destinado ao Morgenau, dos irmãos Santos, no Capanema, o mais antigo da cidade, e ameaçado, há meses, de despejo. Mas isso já é outra estória, que fica para ocasião oportuna. O fato é que o renascimento da Finlândia e importante, mas difícil, Jesus Cristo só veio à Terra uma vez...
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Claudio
Tablóide
1
15/07/1980

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