O Continuismo de Macedo faz a guerra nos cinemas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 01 de outubro de 1981
Há alguns anos, quando a oposição venceu as eleições no Santa Mônica Clube de Campo e Sociedade Thalia, derrotando os grupos liderados por Leonel Amaral e José Vieira Sibut (1914-1979), respectivamente, que vinham se perpetuando no poder, o castrense Ismail Macedo, há 15 anos na presidência do Sindicato dos Exibidores dos Estados do Paraná e Santa Catarina, com seu tradicional humor, ironizou:
- "Agora só resto eu da velha geração dos presidentes perpétuos!" Pelo visto, Ismail corre também o risco de perder a invencibilidade nas eleições. Afinal, a oposição nos meios cinematográficos é crescente e embora, por comodismo, os que discordam de seus métodos tenham, até hoje, evitado um confronto nas urnas, agora apareceu uma voz oposicionista mais vigorosa: Alfredo Prim, 48 anos, o atlético representante da Unibrás - União dos Exibidores Sul Brasil S/A, apresentou no último dia 26, um protesto formal junto ao sr. Alaor Dellatre, presidente da assembléia eleitoral do Sindicato das Empresas Exibidoras Cinematográficas dos Estados do Paraná e São Paulo. Com apoio de Isidoro Lassalvia, diretor da Distribuidora Arco Iris e também da Empresa Lageana de Cinema e Teatro, o documento requer a anulação das eleições realizadas recentemente, onde, mais uma vez, houve chapa única - naturalmente liderada por Ismail Macedo. Alegam Prim e Lassalvia que tanto Ismail como outros membros da chapa, não preenchem as condições de sindicalização e representatividade. Ismail, segundo Prim, não é exibidor, já que "a empresa de que participava, explorava o cinema de Antonina entretanto mantinha-o "arrendado" a terceiro que o explorava efetivamente em nome da empresa cinematográfica Capelista, e que a 4/12/1979 encerrou suas atividades".
Em 1947, quando começou a trabalhar como contador da empresa Cinematográfica David Carneiro - então explorando apenas o cine Ópera, inaugurado seis anos antes, que Ismail se integrou a cinematografia paranaense. Ativo e habilidoso, expandiu o circuito com a inauguração do cine Arlequim, que em julho de 1955 (aberto com o filme "Sem Barreiras no Céu"), cresceu para os bairros - Guarani (Portão), Marajó (Seminário), Flórida (Marechal Floriano), e, em associações com outros empresários (nestas alturas, David Carneiro e seus filhos já haviam deixado a organização), inaugurou os cines São João (em setembro de 1960, com "A Volta ao Mundo em 80 Dias", de Michael Anderson) e Vitória (em 1963, com "Taras Bulba", de J. Lee Thompson). O São João foi construído em associação com herdeiros da família Bettega, proprietários da área, e o Vitória, com os herdeiros da família Johnscher. Até 1965, a Orcopa dominava metade dos cinemas de Curitiba - enquanto outros (Avenida, Rivoli, Marabá, e os hoje desaparecidos América e Ritz) pertenciam [à] Empresa Cinematográfica Sul, de Paulo Sá Pinto, e o pioneiro Homero Oliva tinha os hoje desaparecidos Palácio e Luz, e mais o Lido (inaugurado em 1959, com "Guerra e Paz"). Há 16 anos acontecia uma reviravolta nos negócios, com a sucessiva venda dos cinemas da Orcopa ao exibidor ponta-grossense Miguel Ajuz, que, numa operação estranhíssima, ficou de posse dos cinemas por apenas alguns dias, passando-os em seguida ao grupo Verde Martinez - que já havia adquirido as casas da Empresa Sul, Verde Martinez, passado alguns meses, acabou vendendo todos ou seus cinemas para Arnaldo Zonari (1917-1979), da Fama Filmes, que desde então tem a hegemonia da exibição em Curitiba.
Ismail Macedo, desde 1965 deixou o controle dos cinemas de Curitiba, mas não se afastou da presidência do Sindicato. Com sua raposice política, tem participado de congressos de exibidores, influído em decisões nacionais e se mantido no domínio do órgão representativo da classe. Várias vezes se ensaiaram chapas de oposição mas, sempre, na última hora, acabaram sendo retiradas - para a sua tranqüilidade.
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O mercado cinematográfico, tanto de exibição como de distribuição, é cheio de surpresas. Acordos são rompidos e velhos rivais se recompõem ao sabor dos lançamentos, não havendo nada de definitivo - dependendo sempre das perspectivas comerciais. Hoje, em Curitiba, a Fama Filmes, que tem o experiente João Aracheski Filho como executivo, possui os cines Astor, Vitória, Rivoli (que fecha em princípios de janeiro), Bristol (ex-Marabá, que está fechado há quase um ano e só reabrirá como "sala especial", para exibição de filmes pornográficos), Scala, Glória e São João - em reforma há 2 meses, com reabertura dia 9 de outubro, com "Estado de Sítio", França, 1973, de Costa Gravas.
Associado a Paris Filmes, cujo diretor Alex Adamiu esteve na cidade no início da semana, a Fama tem os três cinemas do Shoping Center Pinhais, nos quais foram investidos perto de Cr$ 100 milhões.
O grupo Paulo Sá Pinto (Unibrás, da qual Alfredo Prim é representante) tem o cine Plaza, enquanto a CIC é proprietária do Lido e Condor. Independentemente, pertencente [à] Fundação Cultural, o recém-inaugurado cine Groff, pode se dar ao luxo de lançar filmes de arte, de mínima rentabilidade - como "Nazarim", México, 58, de Luis Bunuel (na sessão de terça-feira à noite, 22 horas, 6 espectadores), já que o déficit é coberto pelo município. Lassalve, experiente exibidor, acredita entretanto que este minicinema pode, se for bem programado, ter uma boa renda mensal.
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Na terça-feira, 29, o grupo de Isidoro Lassalve/Mário Pintado, que já possui mais de 180 cinemas no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, incorporou mais uma casa exibidora em sua rede: o Imperial, de Toledo, que pertencia ao sr. Lourival Mendes. Apesar de rendas pequenas em muitos casos, que tem levado a desativação de dezenas de casas exibidoras mensalmente, há ainda grupos organizados que procuram dar sustentação ao cinema - um entretenimento que desde o início dos anos 60 vem sofrendo, no Brasil, a concorrência da televisão que, nos Estados Unidos, uma década antes, esvaziou as casas exibidoras.
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Surpresas sempre existem: "O Fotógrafo", produção paulista dirigida por Jean Garret, na qual o ponta-grossense Isidoro Lassalvia investiu Cr$ 1.500.000,00, fracassou nas bilheterias. Com um roteiro bem construído, introspectivo, belas atrizes e grande dignidade de realização, este filme não atingiu o público que consome as pornoproduções. Apesar de ser um dos produtores do filme, Lassalvia concordou que o mesmo saísse de cartaz do Condor, onde hoje estréia o apelativo "Mulher Objeto", de Sílvio de Abreu, com Helena Ramos e Nuno Leal Maia a frente do elenco. Kate Lyra - esposa do compositor Carlos Lyra, e uma das mais desejadas atrizes do cinema nacional, também aparece - só que, pudicamente, é uma das poucas a não participar das cenas de sexo explícito, no qual esta cara e pretensiosa produção de Anibal Massaini Neto, é pródiga. Massaini Neto, aliás, chega sábado a Curitiba, para catituar o filme que está tendo lançamento nacional nesta semana.
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Falando em cinema, uma última dica: "Rogopag", filme em episódios, dirigidos por Rosselini, Godard Passoline e Orson Welles, em exibição a partir de hoje no Groff. Até hoje, este elogiado filme-de-arte teve uma única exibição, numa sessão da meia-noite do Astor, há 3 anos. Agora, a oportunidade de conhecer melhor este filme que teve um dos episódios ("La Ricota", de Pasquine), interditada pela censura italiana devido aos protestos do Vaticano.
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