A última sessão do mais antigo cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 12 de janeiro de 1984
Inúmeras vezes dedicamos o espaço desta coluna a registrar a resistência do Cine Central, de Irati, como o mais antigo cinema brasileiro nas mãos de um único exibidor, João Wasileski.
Há pouco mais de um ano, com tristeza, registramos o falecimento do velho exibidor, que chegando ao Brasil ainda garoto, estebeleceu-se em Irati, onde a 28 de agosto de 1920, inaugurou o seu cinema.
Dia 2 de fevereiro, segunda-feira, aconteceu a sua última sessão! "Tessa, A Gata", que apesar do apelo erótico, atraiu apenas 12 minguados espectadores, o último dos quais a comprar o ingresso - no 747-983-995, na indicação da padronização da Embrafilmes - foi Helio Van Der Neut.
xxx
O Cine Theatro Central, razão social da empresa que João Wasileski fundou em sua juventude, resistiu por 63 anos - um recorde considerado o número de casas de exibição que tem cerrado portas nestes últimos 15 anos. Alguns meses antes, o Cine-Theatro Rio Azul, também fundado peo velho Wasileski, havia encerrado suas atividades. O amor pelo cinema, fazia com que João mantivesse as sessões, se esforçasse em atrair um público, embora a televisão lhe roubasse cada vez mais os espectadores. Seus herdeiros - o filho Julio, o neto Pedro, o genro Alcides Almeida - não possuem, naturalmente, tal idealismo.
Para eles, o Cine Central era apenas um prejuízo e com o inventário dos bens deixados pelo patriarca da família, a grande mercearia que João Wasileski havia construído há muitos anos, vizinha ao cinema - na Rua 15 de Novembro, 436 - já tinha sido arrendada. O prédio em que o Cine Central funcionou por tantos anos possivelmente será negociado com um banco ou um supermercado. Suas velhas máquinas de projeção, suas poltronas, os quadros nos quais tantos cartazes anunciaram as programações cinematográficas, serão vendidas por quem fizer a melhor oferta - embor a seja difícil conseguir preços razoáveis para este material, tal o número de cinema que tem fechado.
xxx
Em inúmeras reportagens e anotações nesta (e outras) colunas, temos procurado chamar a atenção para o fim dos cinemas, tanto nas grandes cidades como nas pequenas comunidades. Um fato que não é específico do Brasil, mas que apenas aqui se repete após ter acontecido em outros países, especialmente nos Estados Unidos, a partir da década de 50 - quando a televisão se consolidando provocou o esvaziamento em escala dos velhos cinemas e obrigou, nas cidades maiores a transformação das salas maiores em cinemas geminados, com diversificação de atividades - aproveitando as empresas os espaços amplos dos antigos hall de entadas, em lojas comerciais. O que a antiga Condor Filmes fez ao construir, há 12 anos, o seu cinema na Rua Cruz Machado e que agora a multinacional United International Pictures, repete no Lido. O cinema construído há 25 anos pelo pioneiro Henrique Oliva, através de um inteligente projeto do arquiteto Oscar Mueller, transformou-se em duas salas e mais uma pequena galeria comercial. Dezenas de homens de várias firmas especializadas, sob coordenação de Egon Prim, gerente-local da UIP, trabalham noite e dia, para que a inauguração das novas salas possa acontecer ainda na segunda quinzena. Os filmes para a abertura dos dois cinemas estão escolhidos: "Os Embalos de Sábado Continuam", no Lido I e "O Cristal Encantado", no Lido II.
xxx
No Interior, alguns cine como os que Isidoro Lassalvia possui em Toledo, Cascavel e Guarapuava. Mas em proporção aos que deixam de funcionar, o resultado é negativo. Com o fechamento definitivo do cine Central, de Irati, após 63 anos de existência repete-se mais uma nostálgica confirmação daquilo que, há 13 anos, Peter Bogdanovich, contava no nostálgico "A Última Sessão de Cinema".
Enviar novo comentário