Cada vez mais opções para conhecer melhor o cinema
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 16 de junho de 1991
Sem dúvida o jovem Horácio Temizawi De Benis, um nipo-brasileiro que veio para Curitiba e inaugura nos próximos dias uma original livraria e loja de dicos, voltada especialmente para a área de cinema, tem razão em acreditar no sofisticado mercado que pretende atingir. Afinal, com a era do vídeo e uma programação cada vez melhor em longas-metragens nas redes nacionais de televisão, há um renascer no interesse do público por cinema.
Uma nova geração de cinéfilos, com preocupações intelectuais de saber tudo o que se relaciona com o cinema e vídeo, faz com que revistas especializadas se esgotem nas bancas, publicações como o excelente "Jornal do Vídeo", que Oceano Vieira de Melo edita há seis anos em Campinas transforme-se cada vez mais numa Variety Tupiniquim e mesmo os caros livros importados, que saem às mão cheias no eixo EUA-França-Inglaterra, tenham cada vez maior procura nas livrarias que trabalham com obras importadas up to date.
Como já registramos inúmeras vezes, também cresce o número de edições de livros sobre cinema no Brasil. Paralelamente ao fértil campo das traduções, ampliam-se obras originais como o recém lançado livro da crítica Lúcia Nagib sobre o cinema de Werner Herzog entre outras publicações das mais interessantes.
Em Curitiba, o mais profundo e organizado dos entusiastas de cinemas, Lelio Sottomaior Junior, 46 anos, enquanto aguarda que saia pela Secretaria da Cultura o seu terceiro volume publicado com auxílio oficial - "Cinematographo", volta à fórmula antiga e, em edição xerocada, com apenas 30 exemplares, distribui a amigos, uma coleção de sete esplêndidos estudos de cinema. Em "Cineastral"(I) - a exemplo do que fez na série "Ci(S)ne", Lelio expõe em sua forma vanguardista, telegráfica e personalíssima de analisar filmes (& cineastas) que o impressionaram e assim disseca obras marcantes como "Cidadão Kane" (Welles) , "Farenheit 451" (Trufaut), "Oito e Meio" (Feline), "O Padre e a Moça" (Joaquim Pedro de Andrade), "Um Dia, um Gato", "A Ronda do Amor"(Roger Vadin) e "Vagas Estrelas da Ursa"(Visconti).
Enquanto Lelio Sottomaior Jr. mostra a importância destes filmes fascinantes cuja importância o tempo não levou, dois jovens alunos do curso de pós-graduação da Universidade Federal do Paraná, Maria Cristina Batista Pinto, 26 anos, e Vidal Antonio Costa, 27, trabalham como dissertação do mestrado num trabalho original: o estudo de todas as manifestações de cultura cinematográfica ocorridas no Paraná. Um campo com poucas referências e que vai comprovar, especialmente, a pobreza de nossa vida cinematográfica, mas que, de qualquer forma vale como um esforço de seus idealizadores. Maria Cristina, que já morou um ano (1984/1985) em Nova York como bolsista do American Field Service, hoje é [professora de inglês e trabalha num dos maiores videoclubes da cidade, o Vídeo Show, no qual é uma avisrara: realmente conhece cinema e pode dar boa orientação a clientela (ignorante, na maioria das vezes em termos de cinema) que busca apenas os sucessos comerciais do momento.
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