Aristides e França, ausências sentidas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 04 de maio de 1991
A bruxa está no ar!
Morre Gonzaguinha numa estrada do Sudoeste. Curitiba vive um caos cultural. Duas pessoas que muito deram pela nossa cultura e arte também faleceram nos últimos dias, praticamente sem que a comunidade fosse lembrada de suas contribuições à música e ao cinema.
Em Curitiba, dia 19 de abril, faleceu Aristides Severo Athayde, professor da Universidade Federal do Paraná, principalmente apaixonado pelos clássicos, um dos idealizadores e fundadores do Pró Música de Curitiba, em março de 1963 - e seu presidente por muitos anos.
No Rio de Janeiro, dia 26 morreu o jornalista e cineasta Sebastião Fogaça de França.
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Curitibano do dia 6 de novembro de 1963, filho de duas famílias ilustres - a senhora Olivia Almeida Athayde e do médico Amaury Athayde, Aristides Severo Athayde - e o fato de pela tradição familiar os primogênitos conservarem o mesmo nome sempre provocou muitos enganos - se formaria em Direito pela Universidade Federal do Paraná em 1959. Quatro anos depois já era professor na cadeira de Direito Internacional Público onde substituiria outro advogado apaixonado pelas artes, o professor, pintor e músico amador Nelson Luz. Preocupado em reunir os apreciadores da boa música, foi, ao lado da pianista Henriqueta Penido Duarte, engenheiro Eduardo Garcez, padre José Penalva, a pianista Maria Leonor de Mello, professora Clotilde Branco Geminiam entre outros, um dos idealizadores da Pró-Música, que a partir de 1965 promoveria os festivais internacionais de música de Curitiba.
Casado com a sra. Eglecy Graciano Athayde, também advogada, deixou três filhos - Pretextato, Paulina e Thays. Mesmo com uma grave moléstia, Aristides sempre acompanhava os eventos artísticos, tendo concluido a Aliança Francesa no final do ano passado, preparando-se para o exame Nancy III.
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Jornalista de muitas estórias, tendo passado por redações de revistas e jornais que marcaram época - "Senhor", "Manchete", "Jornal do Brasil", o curitibano Sebastião de França, nascido em Curitiba em 1931, filho do maestro e compositor Antonio Mililo, foi um dos primeiros jornalistas do Paraná a viver na Europa. Durante anos baseado em Paris, fez grandes coberturas - inclusive uma famosa entrevista com Charles Chaplin.
Apaixonado pelo cinema, realizou - quase sempre com recursos próprios - vários documentários, buscando registrar, especialmente, os artistas populares, anônimos, aqueles que não deram certo em termos comerciais mas que mantinham sua integridade - como o saxofonista do subúrbio, o artista plástico da praça entre outros. Funcionário da Embrafilme, ocupou várias e importantes funções - a últlima dos quais foi a assessoria da presidência.
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Amigo de infância do advogado René Dotti, voltou a Curitiba em 1988 para assessorá-lo na Secretaria da Cultura. Coordenando vários projetos, Sebastião tentou, infelizmente sem melhores condições, revitalizar a área de cinema, idealizando e promovendo um concurso de roteiros para curta-metragens que premiou Fernando Severo ("Longas Sombras no Fim da Tarde"), as irmãs Wagner ("Flor", filme de animação), Fernando Montani, ("A Loira Fantasma"), e Nivaldo Lopes, o Palito ("Lápis, de cor e salteador"). Passados quase três anos, só Palito conseguiu concluir, rudimentarmente, o seu filme. Os outros três curtas, embora rodados não foram ainda finalizados.
Generosamente, Sebastião de França, antes de retornar ao Rio de Janeiro para reassumir seu cargo na Embrafilme, doou cópias em 35mm e 16mm de todos seus documentários para o acervo do Museu da Imagem e do Som, na época dirigido por um de seus bons amigos, Valêncio Xavier.
A morte de Sebastião de França justifica não apenas homenagens póstumas mas - o que será a maior homenagem - que se dê condições para que os filmes curtas que ele desejava ver concluídos sejam afinal finalizados e exibidos.
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