Filme sobre Maria Bueno começa no dia de Finados
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 28 de outubro de 1989
No dia de Finados, Valêncio Xavier, cineasta entre outras atividades, inicia as filmagens de sua versão muito particular do mito Maria Bueno. Com equipamento e filme virgem fornecidos pelo fotógrafo Sérgio Sandeman, de Cascavel - que também participará da realização - Valêncio optou em começar pela parte documental: vai registrar a movimentação imensa no túmulo daquela que é considerada santa por milhares de curitibanos e que diariamente fazem romaria ao Cemitério Municipal. No dia 2 de novembro, como acontece desde o início do século, a romaria aumenta com milhares de pessoas, de diferentes segmentos sociais, fazendo preces, pagando promessas e pedindo graças.
A idéia de Valêncio é entrevistar três das fiéis de Maria Bueno, que neste dia de Finados estejam fazendo solicitações de sua intervenção divina. Dentro de 90 dias, as mesmas serão procuradas para dizerem o que mudou em suas vidas, se obtiveram ou não as graças solicitadas.
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A produção de Maria Bueno - inicialmente planejada para um vídeo que seria realizado através do Museu da Imagem e do Som, da qual Valêncio é diretor - acaba de ganhar mais um associado: é o fotógrafo Sérgio Sade. Ex-O Estado do Paraná, ex-"Veja", profissional com larga quilometragem internacional, hoje com estabilidade financeira, Sade poderá realizar um antigo sonho: integrar-se ao cinema, que foi sempre uma de suas paixões.
Ao voltar-se para o mito Maria Bueno, Valêncio acredita que o material a ser levantado e filmado - tanto na área documental como na ficção (que será produzido numa segunda etapa) oferece condições para múltiplas interpretações. Até hoje, Maria Bueno já inspirou duas peças de teatro - uma delas de autoria do jornalista Walmor Marcelino; um bailado do Guaíra e uma telenovela, dirigida por Roberto Menghini, com o cantor Agnaldo Rayol, gravada em Morretes e que representou o último suspiro da TV-Paraná na tentativa de realizar, em termos regionais, uma grande produção artística.
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Principalmente por falta de recursos para finalização, nenhum dos quatro curta-metragens co-financiados pela Secretaria da Cultura ficou pronto a tempo para concorrer aos festivais de cinema brasileiro realizados neste ano - o último dos quais, o de Brasília, em sua 22ª edição, inicia no dia 1º.
Agora, só resta o VI FestRio - que acontecerá em Fortaleza, a partir de 27 de novembro. Entretanto, a seleção é mais rigorosa e no máximo serão escolhidos três curtas para representarem o Brasil - e podendo concorrer internacionalmente mesmo os filmes que já obtiveram premiações em outros festivais. Se "A Ilha das Flores", do gaúcho Jorge Goulart - reconhecido como o mais criativo curta realizado no Brasil nos últimos anos - foi inscrito, o Brasil terá grandes chances de ficar com o Tucano de Ouro nesta categoria.
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Dos quatro curtas de realizadores paranaenses, dois deles estão em fase de montagem: "A Loira Fantasma", de Fernanda Morini (que teve algumas seqüências rodadas na redação de O Estado do Paraná) e "Sombras no Fim da Tarde", de Fernando Severo - que, em 1988, com seu documentário em 16mm, "O Mundo Perdido de Kozak" abocanhou as principais premiações de quase todos os festivais realizados no Brasil. O padre Penalva, numa experiência inédita (para ele), está criando a trilha sonora do filme de Fernando, que em sua personalidade reservada, discreto, tem mantido praticamente em segredo as primeiras edições do filme. Afinal, com a responsabilidade das premiações obtidas com "Kozak" - e seus projetos de passar para um longa, "quando houver condições", Severo trabalha mineiramente e sem pressa. Possivelmente, só na XVIII edição do Festival de Cinema Brasileiro de Gramado, em maio de 1990, é que seu filme será visto publicamente.
Quem começa a reaparecer nos meios cinematográficos, otimista e acreditando que em 1990 poderá afinal fazer o seu sonhado longa-metragem é Berenice Mendes. Aproveitou o recolhimento pessoal dos últimos meses para retrabalhar no roteiro de "O Drama da Fazenda Fortaleza", cujo primeiro tratamento sobre o romance de David Carneiro, foi realizado por Valêncio Xavier. Berenice chegou a contatar com o experiente Jorge Duran ("A Cor de seu Destino") que, generosamente, se propôs a também dar uma colaboração no script. Só que por um extravio postal, acabou nunca recebendo o texto original e assim, até hoje, desconhece a história.
Lu Rufalco, braço direito de Berenice em suas produções, de volta a Curitiba, começa a reativar, discretamente, os detalhes da pré-produção, interrompida no primeiro semestre deste ano pela total falta de recursos. E embora faltem ainda muitos milhares de dólares para chegar aos US$ 500 mil necessários a produção, não deixam de serem feitos contatos para formar a equipe. Por exemplo, deslumbrada com os figurinos criados pela paulista Leda Senise para a ópera "Tosca", Berenice a convidou para fazer também os trajes que os personagens de "Fazenda Fortaleza" usarão. Marcelo Marchioro, mesmo com perspectivas de desenvolver vários e importantes projetos no eixo curitiba-São Paulo-Rio em 1990 - após seu retorno de Berlim (para onde embarca no final do ano), já jurou a Berenice que suspenderá qualquer compromisso para cumprir o compromisso assumido anteriormente: ser o seu assistente e preparador do elenco. Afinal, Marchioro sempre foi também um cinemaníaco feroz...
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Valêncio Xavier não se limita ao projeto Maria Bueno. Nesta semana começou um documentário de 12 minutos, em 16mm, sobre um terrível caso policial ocorrido em abril último e cujo assassino só foi preso há poucas semanas. Inicialmente programa para ser feito em preto & branco, as imagens ganharão cores: seu amigo Silvio Tendler (que na próxima semana vem a Curitiba, fazer uma palestra) lhe cedeu alguns rolos de filme colorido.
LEGENDA FOTO - Leda Senise: depois da "Tosca", figurinos para o filme "Drama da Fazenda Fortaleza".
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