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Aramis

Com a falta de dinheiro, os nossos curtas estão parados

No ano passado o Paraná esteve totalmente ausente no circuito dos festivais de cinema. Se em 1988, Fernando Severo conseguiu com seu curta, 16 mm, algumas premiações em Gramado, Brasília e Salvador - principalmente porque "O Mundo Perdido de Kozák" focava, com bom gosto e cuidados de realização, um tema muito simpático (o resgate de um pioneiro da cinematografia, com preocupações ecológicas já nos anos 40/50), no ano passado nenhum realizador paranaense conseguiu ingressar sequer na parte seletiva dos festivais. Para 1990, há esperaças de que, entre os quatro curtas rodados no ano passado, algum(ns) consiga(m) ao menos competir em Gramado, no Rio Cine e Brasília (já que a Jornada da Bahia continua, até o momento, suspensa). Só que para isto acontecer, há necessidade dos filmes ficarem prontos. O que não acontecerá se a Fundação do Cinema Brasileiro não liberar, nos próximos dias, a quota de NCz$ 45 mil a três dos quatro realizadores: Severo ("Longas Sombras no Fim da Tarde"), Fernanda Morini ("A Loira Fantasma") e Palito ("Lápis"). As irmãs Wagner já conseguiram receber a subvenção da Fundação e estão terminando "A Flor", que é um filme de animação. xxx Em dezembro, após uma reunião com os realizadores, o secretário René Dotti foi diretamente ao ministro José Aparecido, da Cultura, pedindo que a Fundação Nacional de Cinema honrasse a sua parte no convênio assinado há quase dois anos. José Aparecido ligou para Ruy Solberg, presidente da FNC e acertou: até o final do ano, a quota que faltava - NCz$ 45 mil para cada realizador - seria depositada em banco. Passados 17 dias, a espera continua! - "Em cada dia perdemos NCz$ 2 mil com a inflação", diz, deseperada, Fernanda Morini, com as despesas a serem pagas para que seu curta fique concluído: gravação de som ótico, trucagem, gravação da trilha sonora e a primeira cópia com correlação de luz. O Centro Técnico Audiovisual da própria Fundação dispõe de equipamentos para a mixagem e filmagem dos letreiros. - As demais despesas correm por nossa conta. E na proporção que a inflação acelera, dentro de uma semana os NCz$ 45 mil a serem recebidos nada significarão, acrescenta a videomaker e cineasta, que, para sobreviver, vem fazendo vídeos publicitários e educativos. xxx Para agilizar a produção cinematográfica no Paraná, a Secretaria da Cultura firmou um convênio, com a Fundação Nacional de Cinema, no qual cada um garantiria 30% do orçamento de quatro curtas, cujos roteiros foram selecionados através de concurso. Os realizadores teriam que, com recursos próprios, completar o orçamento - ou seja levantar mais 40%. Palito (Nivaldo Lopes), que trabalha rápido - mas de forma econômica - foi o primeiro a completar as filmagens, mas ficou até agora com o copião sem finalização. Fernando Severo, que fazendo jus ao nome é severíssimo no julgamento dos trabalhos dos colegas, exigentíssimo em detalhes e que faz questão de trabalhar da forma mais sofisticada possível, trouxe o ator e técnicos de São Paulo para rodar seu filme no litoral. Levantou recursos com uma amigo arquimilionário, da área da arquitetura, convenceu - através de seu amigo Valêncio Xavier, diretor do MIS-PR, ao padre Penalva a compor a trilha sonora, mas apesar de tudo ainda não conseguiu concluir o filme. xxx Cada um a sua maneira, está colocando energia, competência e dedicação na conclusão dos curtas - que hoje, não custariam menos de NCz$ 500 mil. Só que se continuar o jogo de empurra junto à Fundação do Cinema Brasileiro, o dinheiro se esvai e os filmes não saem. xxx P.S.: - há 5 anos, um cineasta do Paraná ocupa o cargo na FCB - antes da Embrafilme: o montador Homero de Carvalho. Será que o moço não poderia ajudar a serem liberados os recursos para os seus colegas.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
23/01/1990

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