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Aramis

As muitas artes de Sebastião Tapajós

Poucos artistas brasileiros se identificaram tanto com o Paraná quanto Sebatião Tapajós. Há 10 anos, quando pela primeira vez veia Curitiba, para um concerto no auditório Bento Munhoz da Rocha Neto, ao terminar a apresentação recebeu muitos aplausos mas não reconheceu uma só pessoa. Afinal, era a primeira vez que pisava em Curitiba e sua carreira havia sido desenvolvida mais na Argentina e Alemanha, do que em nosso País. Hoje a noite, a Sala Scabi (Solar do Barão) será pequena para as centenas de pessoas que ali estarão para aplaudi-lo. xxx Sebastião Tapajós - ou simplesmente "Tião" para os amigos - é o tipo do talento verdadeiro, de cem quilates, que não precisa de subterfúgios e atitudes esnobes. É simples como simples são as pessoas de sua terra - Santarém . Caboclo da palavra, disposto sempre a ajudar os outros, Tião acabou se tornando quase curitibano, tão longas foram as temporadas que aqui passou. Entre suas viagens anuais `a República Federal da Alemanha , onde tem um público dos mais fiéis e nas quais sempre se apresenta levando outros instrumentistas brasileiros - Sebastião vinha descansar em Curitiba. Ocupando um apartamento no Guaíra Palace acabava ficando pouco tempo no hotel: dezenas de amigos e discípulos - Gil e Cupertino Amaral, Gerson Fisbein, Gerson Badep, Heitor Valente e tantos outros o levavam a serenatas, etílicas reuniões e uma infinidade de outros programas, onde sempre o seu violão pintava como atração maior. Parcerias cresceram - especialmente com Gersinho Fisbein, um dos grandes talentos da nova geração paranaense e que chegou a fazer uma bela fita-demonstração, com músicas em parceria com Tião, gravação de nível profissional e que há muito já mereceria ter sido editada (ah! que falta faz no Paraná um empresário de sensibilidade que poderia transformar este tape num excelente brinde de fim-de-ano!) xxx A presença de Sebastião Tapajós não se restringiu a Curitiba. Em Londrina e Cascavel fez numerosas apresentações e deixou inúmeros amigos. Inclusive um de seus discos feitos na Alemanha e que no Brasil a RCA deixou de editar, acabou sendo lançado pela Universidade Estadual de Londrina dentro de um projeto denominado "Capricórnio", que deveria ter sequência para uma integração musical latino-americana. Infelizmente, ficou apenas neste disco. xxx O próprio Sebastião Tapajós não sabe precisar o número de discos que já gravou. Afora "pecados" de começo de carreira - com um bailavel lp prensado pela CBS, nos tempos em que tinha um conjunto de baile em Santarém (dia destes, uma cópia apareceu na Savarim Discos), a partir do momento em que começou a viajar ao Exterior, Sebastião tem feito inúmeros registros fonográficos. Em Buenos Aires, por exemplo, gravou dois álbuns com um percussionista brasileiro tão importante quanto, imerecidamente, esquecido: Pedro Sorongo. Na Alemanha, a cada ano, faz de um a dois álbuns , lançados pela RCA em vários países, inclusive no Japão. No Brasil, infelizmente, poucos de seus discos estão em catálogo, quando, ao contrário, todos deveriam estar editados. Quem escuta Sebastião uma vez, não só deixa de voltar sempre em suas novas apresentações como deseja ter sua obra gravada. Aliás, um conselho: ele não se importa que gravem seus recitais (afinal, o disco pirata é ainda algo fora da realidade no Brasil) e ao menos assim, se perpetua o calor de suas audições. xxx Sebastião Tapajós toca tão bem o clássico como o popular. Não tem preconceitos contra escolas, gêneros e estilos e por isto sua música flue natural, cristalina, maravilhosa. É um virtuose do violão - um de nossos 2 ou 3 maiores instrumentistas (ao lado de um Turíbio Santos, ou Baden Powell) e não se sabe o que é mais admirável: sua arte de instrumentista, sua sensibilidade de compositor (tem dezenas de músicas, com muitos parceiros que são antes de tudo amigos) ou, sobretudo, a sua presença amiga e sincera. Enfim, uma pessoa admirável e que hoje a noite, apresentando-se na Sala Scabi, merece todos os aplausos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Tablóide
13
10/12/1985

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