Até os mestres checos estão chegando ...
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 03 de julho de 1977
Até há poucos anos a chamada [música] clássica, em termos de marketing fonográfico, não era estimulante [às] gravadoras: apesar de séculos de cultura erudita, sociedades musicais e um público de alto poder aquisitivo, pelo menos nas maiores capitais, as vendas de qualquer disco de [música] clássica nunca passavam das duas mil cópias. Coube, mais uma vez, ao admirável Maurício Quadrio, hoje na Odeon, mas na época diretor de projetos especiais da Phonogram, provar que o brasileiro não tem [medo] de música clássica, com lançamentos maciços em várias coleções, produzidas de maneiras didática e atraente, até chegar a consolidar um mercado que possibilita hoje o lançamento de coleções sofisticadas, como as caixas de 40 a 80 lps contendo as obras de autores como Beethoven, Mozart, Vivaldi, Bach e mesmo Ricard Wagner, cujo "Ciclo dos Niberlungos", obra operística de maior importância acaba de ser editada pela Phonogram. Hoje, praticamente todas as gravadoras estão dando especial atenção aos catálogos de música erudita, cujo mercado vem crescendo. Além de surgirem etiquetas dedicadas exclusivamente, a esse [gênero] como a Academia Santa Cecília de Discos Ltda, pertencente a uma ordem religiosa e que instalada na rua das Laranjeiras, 519, no Rio de Janeiro, já dispõe de um catálogo de quase 100 excelentes elepes, distribuídos em canto gregoriano, música sacra e música clássica, além daquilo que pode chamar-se de "música especial", como os cantos ucranianos, [clássicos] adaptados para os jovens, etc. Três dos mais recentes lançamentos da Santa Cecília foram os discos com os Corais da Paixão Segundo Mateus, de John Sebastian Bach (1985-1750), com o coro de meninos Humnus, de Sttutgart, sob a regência de Gehard Kaufmann (ASC 156), a Serenata opus 25, para flauta, violino e viola de Ludwig Van Beethoven (1770-1827), na execução de Niolaus Delius (flauta), Wolfgang Marchnser (violino) e Ulrich Koch (viola) (ASC 144) e "[Jóia] Musica do Barroco Brasileiro" (ASC 140). Esta última é uma produção nacional, o que, em termos de música clássica é raro ocorrer no Brasil. No caso, o Coral da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro e orquestra interpreta a "Missa Festiva em si bemol maior" do padre José Maurício Nunes Garcia (1767-1831). Quadrio sempre afirma que toda chance que há de [se] produzir um disco de música clássica no Brasil deve ser [destinada] a autores brasileiros. E Quadro tem dado mostras desse seu nacionalismo, produzindo excelentes discos. Pouco antes de deixar a Phonogram, ali possibilitou que o pianista Roberto Szidon, hoje um dos maiores virtuoses brasileiros, de prestígio mundial, gravasse o lp "Roberto Szidon Interpreta Marlos Nobre" (Deutsche Grammophon/Phonogram, 2584016, [abril]/77), que oferece ao ouvinte a chance de se ter uma visão panorâmica da obra de Nobre, que além de notável criador musical é hoje o operoso presidente do Instituto Nacional de Música, onde vem desenvolvendo um excelente trabalho. Szidon gravou obras de Nobra que cobrem 13 anos de composição: "Nazarethiana" e "1º Ciclo Nordestino" (1960), "Temas e Variações" (1961), "Variações sobre um tema de Fructuoso Vianna (1962), "2º Ciclo Nordestino", "Tocatina, Ponteio e Final" (1963), "3º Ciclo Nordestino" (66) e "Homenagem a Arthur Rubinstein". Também a paulista Belkiss Carneiro de Mendonça no volume 2 do "Panorama da Música Brasileira Para Piano" (Copacabana, 22078, 1977 / gravou a "Homenagem a Arthur Rubinstein" de Nobre, ao lado de outras peças de autores nacionais: Lorenzo Fernandes, Claudio Santoro, Heitor Villa Lobos, Mignone, Edino Krieger e Camargo Guarnieri. A Copacabana, hoje uma gravadora em franca expansão, com excelentes representações internacionais, não só está produzindo discos clássicos com intérpretes brasileiros, como vem revelando aos colecionadores os melhores intérpretes e orquestras da [Checoslováquia], através de acordo internacional firmado com a Supraphon, em Praga. Aliás, os lançamentos de música erudita dos países comunistas vem acontecendo [há algum] tempo pela pequena mas brava Imagem, de Jonas Silva. A Continental, com a edição do lp em que a Osquestra Sinfônica da Rádio de Moscou, sob a regência de Maxim Shostakovich, filho do autor da peça, iniciou a distribuição do catálogo clássico do selo "Melodya". O selo "Melodya" é editado pela empresa estatal soviética Mezoduranodnaya Kniga, de Moscou, com gravações antológicas de grandes virtuoses e orquestras filarmônicas - Leningrado, Rádio de Moscou, Estadual da URSS e sinfônica do Teatro Bolshoi - que a Continental vai, agora, colocar ao alcance do público brasileiro. A Copacabana, em menos de seis meses já lançou 17 elepes de música erudita na Supraphon, todos do mais alto nível, com intérpretes e regentes ainda desconhecidos no Brasil, mas que por certo merecerão a atenção de nossos colecionadores e expertes. Temos, por exemplo, obras de Claudio Monteverdi, com o Madrigal de Praga, regido por Miroslau Venhoda; "Canções e Danças de Morte" de Modest Petrovich Musosrgsky, na execução da Orquestra Nacional do Teatro de Praga, sob regência de Zdeneck Chalabalg, elepe que em 1963 recebeu o "Orphie D'or" da Academia Du Disque Lyrique, Prix Charles Panzera, por sua qualidade. Com as duas principais orquestras checoslovacas - a Sinfônica Nacional a Brno State, regidas por Báclav Smetacek, Jiri Pinkas, Kerel Acerl, Jiri Waldhans, Nedda Casei, Martin Turnovsky e até um com o latino nome de Antonio de Almeida, tempos elepes com obras de Beethoven ("Concerto para piano nº 3", com Jan Panenka como solista), Tchaikovsky ("Concerto nº 1, com o pianista Valentina Kammeniková), Johannes Brahms ("Concerto para Violino e Cello", com Josef Suk e André Navarra como solistas), Leos Janacek; Martinu Spalicek ("Duas Suites para Ballet") Darius Milhaud ("Concertos para Celos nºs 1 e 2", com Stanislau Apolin como solista), Ravel e Chausson, Cesar Frank (obras sinfônicas) e Paul Dukas ("O Aprendiz de Feiticeiro" , "La Péri" e "Polyeucte"). Experiência fascinante e digna de registro é da Orquestra de Camera de Praga, que sem [regência], executa as sinfonias "Haffner", "Prague" e mais danças [germânicas] de Mozart. Com o Suk Trio (Joef Suk, Josef Chucro e Jan Panenka) ouvimos o Trio para Piano de Beethoven, já com a pianista Bela Bartok. Mais [romântico] é o pianista Fratisek Rauch que executa valsas de Chopin. O mais conhecido dos autores checos, Antonin Dvrok (184101904) tem naturalmente também discos com suas obras incluídas nesta jornada da Supraphon: com a contralto Vera Soukupová o pianista Ivan Moravec as "Canções Bíblicas" e já com os Devorak Quarteto, temos o "Sexteto" e "Miniaturas". O organista Jiri Reinberger, no [órgão] da igreja de San Michaelis, executa uma tocata do [gênio] maior de Bach. Todas as gravações datam de 10 ou mesmo 15 anos passados, mas como a música dos grandes mestres não tem idade, se constituem em lançamentos da maior validade, os quais, esperamos, tenham [seqüência] nos próximos meses.
A Continental, que acima nos referimos pelo contrato que firmou com a estatal "Melodya", da URSS, tem outras representações de música erudita. Como A ABC Wetsminster Mid, pela qual, através do sêlo Phonodisc, tem feito excelentes lançamentos de música erudita, como um belo lp do violonista espanhol Manuel Cubedo, acompanhado pela Sinfônica de Barcelona, sob regência de Rafael Ferrer, executando o "Concerto para violão" de Salvador Bacarisse (1898-1963), tendo no outro lado a já conhecida mas sempre admirável obra-prima de Joaquim Rodrigo (Valência, 22/11/1902), "Concerto de Aranjuez", para violão e orquestra.
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