Afinal, o "Ci(S)ne" de Lélio em edição maior
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 25 de maio de 1989
Quando elogiou Jerry Lewis como um dos grandes inventores da comédia americana, em textos publicados no "Estado" ou "Diário do Paraná", no início dos anos 60, o então garoto Lélio Sotto Maior Júnior, provocou a ira de cinéfilos tradicionais que viam no comediante apenas o "birutade" - dupla então desfeita com o cantor Dean Martin. Nem mesmo a valorização que Lélio procurava dar aos filmes de Alfred Hitchcook, até então apenas reconhecido como um hábil diretor de filmes de suspense, foram então aceitas e quando começou a falar, com entusiasmo, de diretores como Samuel Fuller, realizador de filmes "b" que poucos aceitavam em sua dimensão ("Casa de Bambu", "Mortos que Caminham", "Paixões que Alucinam") ou um western chamado "Madrugada da Traição" (Naked Dawn, 1955), do diretor Edgar G. Ulmer (1904-1972), nascido em Viena, Lélio foi massacrado em debates que movimentavam o Cine Clube Pró-Arte, fundado por José Augusto Iwersen, no Colégio Santa Maria.
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Hoje, passadas duas décadas, os cineastas que Lélio valorizava em seus textos são cultuados em sua importância e os conceitos de arte cinematográfica se modificaram. Estudioso do cinema contemporâneo, especialmente do americano e europeu, com sua formação nas páginas de "Cahiers du Cinema", Lélio, hoje aos 42 anos, se mantém coerente em sua visão crítica de cinema. Afastado do trabalho regular como crítico (que, infelizmente, nunca chegou a ter condições de exercer em termos profissionais), mas mantendo-se atualizado - acompanhando a programação na cidade e, especialmente, pelo vídeo - Lélio é um pensador de cinema, desenvolvendo solitariamente um trabalho de grande validade.
Por sua conta, há quase dez anos vem reunindo seus textos numa série de publicações mimeografadas, com circulação reduzidíssima, apenas entre amigos - e a qual deu o título de "Ci(S)ne". Agora, pela primeira vez, obteve um reconhecimento oficial: Valêncio Xavier, diretor do Museu da Imagem e do Som, incluiu a reedição do último volume da série "Ci(S)ne" como um dos "Cadernos do MIS", que terá lançamento oficial no próximo dia 6, quinta-feira, na recém inaugurada Livraria Ipê Amarelo. Uma tiragem reduzida, sem comercialização, e que será distribuída a bibliotecas, jornalistas, cinéfilos de todo o Brasil. No pequeno volume, também edição xerocada, longe da sofisticação que normalmente marca livros de cinema, estão vários ensaios de Lélio - desenvolvidos em uma linguagem telegráfica, enxuta, sem modismos e portanto, agradáveis de serem lidos - sobre diferentes cineastas.
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Entusiasmado com o apoio espontâneo que encontrou por parte de Valêncio para a reedição deste volume - que tive a honra de prefaciar - Lélio já foi encarregado de um novo projeto: selecionar críticas de Armando Ribeiro Pinto ("Diário do Paraná") e Francisco Bettega Neto ("Última Hora") para futuros "Cadernos" do Museu da Imagem e do Som que, organizadamente e graças a visão de Valêncio, já está chegando ao décimo título, na série de publicações econômicas, objetivas e que traduzem diferentes aspectos de nossa vida cultural.
A edição do "Ci(S)ne" de Lélio Sotto Maior Júnior e as futuras reuniões de algumas críticas de Armando, nos anos 50, e de Bettega Neto, no período 1962/64, quando a sucursal do Paraná da "Última Hora" tinha uma excelente edição regional, representarão fosfato em nossa pobre (e infelizmente inexpressiva) memória crítica cinematográfica.
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