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Aramis

Marcelo, a arte maior como ampla realização

Passados três meses de vacas magríssimas em termos de espetáculos, a temporada artística abre com opções a diferentes predileções. Marcelo Marchioro, 38 anos, o mais importante nome do teatro paranaense - de projeção nacional pela seriedade e competência de seu trabalho, tem nesta semana, o revival de duas excelentes montagens que fez no ano passado para a Fundação Teatro Guaíra: a peça "As Bruxas de Salém", de Arthur Miller (Auditório Salvador de Ferrante - até o dia 4 de abril), e a ópera "O Barbeiro de Sevilha", de Rossini (Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto - 14 a 17). Pela importância do texto, inteligência na forma com que a encenação foi construída, elenco rendendo o máximo e atualidade das idéias em relação a intolerância, preconceito e hipocrisia, fazem de "As Bruxas de Salém" um espetáculo classe A. Longe de descartáveis "sucessos" comerciais capazes de deliciar apenas platéias menos exigentes em termos culturais - o mesmo tipo de público que faz de um filme-bobagem como "Ghost - Do outro Lado da Vida" um êxito de bilheteria - o trabalho de Marchioro é reconhecidamente o mais importante que aqui acontece. Afinal, chegou ao status que hoje desfruta a custa de anos de estudos, mergulhado em leitura das mais amplas, viagens ao Exterior, que foram, passo a passo, lhe dando uma condição muito especial de realizador - o que o credencia a projetos mais amplos, inclusive em escala nacional. Prova é que já tem compromissos para dirigir importantes encenações no Eixo Rio-São Paulo nos próximos meses. Pela estrutura artística que atingiu - e pelo muito que tem contribuído para o nosso teatro - Marcelo há muito pode dispensar premiações de província, atribuídas a espetáculos menores e que mesmo fazendo "sucesso" de público nada acrescentam culturalmente ao Estado - muito pelo contrário. A oportunidade de se aplaudir novamente dois espetáculos da dimensão de "As Bruxas de Salém" e "O Barbeiro de Sevilha", é uma dupla premiação oferecida ao público - da parte de quem sabe fazer Arte com letra maíscula, valorizando talentos e sedimentando um trabalho que justamente por ter subvenção oficial deve ser encarado com seriedade. Aliás, na administração Roberto Requião - um homem de sólida formação intelectual, que pessoalmente se dispôs a supervisionar a programação cultural a ser patrocinada pelo Estado - espetáculos como os que Marchioro realiza continuarão a ter, por certo, apoio. Quanto às brincadeiras juvenis, que consomem, inutilmente, recursos públicos, devem ficar restritas no amadorismo de onde jamais deveriam ter saído.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
20
13/03/1991

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