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Aramis

Marcelo em escalada no teatro paulista

Como ensina a filosofia popular: há males que vêm para bem! Convidado para ocupar a diretoria de arte e programação na Fundação Teatro Guaíra há um ano, Marcelo Marchioro - que havia dignificado e valorizado aquele cargo na administração de Luís Roberto Soares, na Cultura - sofreu um cruel processo de "queimação" por parte de forças medíocres e invejosas e acabou perdendo não só a indicação mas até sendo atingido no seu cargo, como técnico do Banco de Desenvolvimento do Paraná. Deu a volta por cima! Está fazendo teatro da melhor qualidade e "Do Outro Lado da Paixão", que escreveu, produziu e dirigiu após ter sido reconhecido como o melhor espetáculo encenado em Curitiba em 1987, acaba de cumprir temporada em São Paulo (Teatro Markanti, Rua 14 de Julho, 114). Na montagem paulista, dois artistas do Paraná: Carlos Daitschmann (que já havia participado da encenação feita do Teatro do Sesi, em agosto) e Antonia Chagas, a querida Tonica, tão boa atriz quanto jornalista, repórter da revista "Afinal", há 3 anos em São Paulo - mas que promete retornar a Curitiba e reintegrar-se à equipe de "O Estado do Paraná", onde começou sua carreira profissional há mais de uma década. xxx Sem dúvida, o paranaense mais bem informado sobre teatro, acompanhando up to date tudo o que é realizado não só no Brasil, mas, especialmente na Europa e Estados Unidos, Marcelo Marchioro desenvolveu nos três anos em que dirigiu a programação da Fundação Teatro Guaíra uma abertura valiosa em termos artísticos. Foi responsável executivamente pela montagem dos dois grandes espetáculos do Ballet Guaíra - "Jogo de Danças" (Edu Lobo) e "O Grande Circo Místico" (Edu Lobo / Chico Buarque / Naum Alves), que deram o reconhecimento nacional ao grupo de danças do Paraná. Com uma grande carga de informação teórica e uma visão prática de teatro, Marcelo dirigiu várias peças (apesar de ser perseguido pelo Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos, por não possuir a "carteirinha" de associado) e, no ano passado, após mais de um ano de pesquisa, sacudiu o marasmo e a mediocridade da arte cênica local com o vigoroso "Do Outro Lado da Paixão", visão inteligente do mundo de Lewis Carrol (Charles Lutwidge Dodgson, 1832-1898). xxx A convite de seu amigo Emílio Di Biasi, Marcelo foi para São Paulo ainda em agosto do ano passado, fazendo a assistência de direção num dos espetáculos do ano: "Tempo e Vida de Carlos e Carlos". Um reencontro com Antônio Abujamra valeu o convite para trabalhar no projeto do Teatro de Repertório (TREP), que era o antigo Núcleo de Repertório do TBC. Com a venda do TBC, o grupo passou a se chamar TREP e marcou esta nova fase com uma encenação em torno de um núcleo de poemas de Fernando Pessoa ("A Lua Começa a Ser Real"). Paralelamente, veio a possibilidade de fazer uma montagem paulista da peça "Do Outro Lado da Paixão", que havia escrito em colaboração com João Marcelo Soares - que após uma primeira temporada, encerrada no final do ano, voltará a cartaz possivelmente em março. A recepção é simpática, no mínimo, como diz o autor: - "Tem sido muito bem aceita e o público um pouco se assusta, um pouco curte". xxx Agora, Marcelo está desenvolvendo outro importante trabalho: faz a assistência de direção de "A Margem da Vida" (The Glass Managerie, 1944) de Tenneessee Williams (1911-1933), que a família Bruno está ensaiando (estréia dia 15) para comemorar os 40 anos de vida profissional de Nicete Bruno. Na peça trabalha sua mãe, Bárbara, e seu filho, Paulinho, 24 anos - que por sinal é curitibano. Quanto Nicete e Paulo Goulart moravam em Curitiba (entre 1962/1964) trabalharam nas duas primeiras grandes produções do TCP - "Do Tamanho de um Elefante", de Milôr Fernandes e "A Megera Domada", de Shakespeare, dirigidas por Cláudio Corrêa e Castro. Em menos de cinco meses, Marcelo faz o quarto trabalho profissional no teatro em São Paulo, e, com franqueza, admite, "coisa que em Curitiba seria difícil de acontecer". Embora ainda não tenha se decidido a se fixar definitivamente em São Paulo, Marcelo é mais um criador cultural que tem que buscar fora do Paraná as chances de fazer um trabalho que lhe dê o (merecido) reconhecimento. Assim como fizeram Denise Stocklos, Airto Moreira, Norton Morozowicz e tantos outros que, hoje são homenageados como "Bicho do Paraná" mas que tiveram que fugir da antropofagia paranaense para terem oportunidade de desenvolverem suas atividades artísticas. LEGENDA FOTO - Carlos Daitschmann e Tonica na montagem paulista de "Do Outro Lado da Paixão", peça escrita e dirigida por Marcelo Marchioro.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
09/01/1988

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