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Silas descobre o ouro musical para que o Brasil ouça o som das bandas

Existe um brasileiro que merece receber uma premiação condigna a importância da obra que vem realizando. Trata-se do mineiro José Silas Xavier, 47 anos, funcionário de carreira do Banco do Brasil e que reside há muitos anos em Brasília. Sabendo cultivar a arte de fazer amigos e encantar pessoas, Silas se tornou uma das pessoas mais importantes para todos aqueles que amam a nossa música. Como associado - e posteriormente assessor da Federação das Associações do Banco do Brasil, Silas foi quem teve a iniciativa de propor, a partir de 1978, que a entidade abrigasse entre suas promoções culturais a edição de discos com obras da maior importância mas que não encontram o apoio necessário junto as gravadoras comerciais. Com uma estrutura nacional de milhares de associados, estruturada em sólido patrimônio e chegando a um público alvo no qual já existe milhares de apreciadores da MPB (prova disto é que há anos as AABB deixaram de ser apenas atléticas para funcionarem como verdadeiros centros culturais(*). Assim, graças a sensibilidade de sucessivas diretorias, Silas Xavier encontrou respaldo para produzir com bons discos que têm preservado o que há de mais importante em nossa arte musical. A cada ano. Initerruptamente, é proposta uma idéia que Silas, com ampla liberdade e buscando sempre valorizar os melhores instrumentistas e intérpretes dentro do programa que traça, viabiliza. Dos modestos trabalhos iniciais até o álbum triplo "Banda de Música de ontem e sempre", que acaba de ter agora também a edição em CD, há toda uma coleção que se constituem em obras referenciais. Com vendas feitas antecipadamente, através das Associações Atléticas do Banco do Brasil (em Curitiba, Avenida Victor Ferreira do Amaral, 771, Tarumã, fone 262-5254), estes discos têm distribuição garantida - com uma auto-sustentação financeira que possibilita a continuidade do projeto independente de subvenções oficiais. Embora a Fundação Banco do Brasil venha desenvolvendo ótimos projetos, inclusive a manutenção do exemplar Centro Cultural no rio de Janeiro, já tenha associado-se, o próprio esquema da Federação das Associações Atléticas do Banco do Brasil, sediada em Brasília, trouxe a tranqüilidade financeira para este programa. Esta introdução torna-se necessária para explicar como é que se torna possível a produção de um álbum culturalmente tão importante como "Banda de Música de Ontem e de Sempre", que após ter absolvida uma primeira edição mostrou a existência de um público (não só entre os bancários, mas também dos colecionadores de MPB) que justifica a sua reedição agora na perfeição do som digital. PARA OUVIR A BANDA FICAR - Em 1983, um primeiro volume de "Bandas de Música de Ontem e de Sempre", em 2 Lps, já trazia um repertório expressivo da autêntica música feita pelas bandas brasileiras. Num programa de retreta bastante diversificado, com uma hora e dezoito minutos de duração, 20 peças de 18 compositores eram apresentadas. Nos seis aos seguintes, Silas recebeu inúmeras solicitações para voltar a esta temática e assim a Fenab produziu em 1990 um novo álbum,desta vez em três discos, com repertório inteiramente novo, reunindo 35 peças, 25 autores e 4 de autoria não identificada - num programa pesquisado com o mesmo critério da diversificação de gêneros e de autores, bem como o da maior abrangência do espaço brasileiro. Vicente Salles, professor e pesquisador de música, radicado em Brasília, autor de importantíssimos trabalhos e que em todas as edições da Fenab contrubui com preciosos textos em longo encarte ("Retreta brasileira: caixa de surpresas") explica a importância da música de banda que, hoje, vive em estado de latência. Importantíssima na formação cívica, cultural e de lazer em todo o país, a banda de música ainda é a mais antiga e menos estudada instituição ligada à criação e divulgação da música popular. Historicamente, suas raízes voltam ao século XVIII, com a multiplicação das irmandades cecilianas (de Santa Cecília, padroeira da música), as quais os músicos geralmente se filiavam, mantendo forte vínculo com as instituições religiosas. Com a chegada ao Brasil de D. João VI e a corte, em27/03/1810 era criado em cada regimento militar um corpo de música de 12 a 16 executantes. A difusão militar da banda evoluiria estimulando também a formação de civis, apaixonados pela música e que, em suas horas de folga, principalmente em pequenas cidades, passavam a reunir-se para fazer aquilo que gostava: música. Os aperfeiçoamentos em instrumentos de sopro - bases harmônicas das bandas - como os criados pelo flautista alemão Theobald Bohm (1794 - 1881) e o belga Adolfo Sax (1841 - 1894), criador do saxofone em 1840, permitiram que as bandas alcançassem faixas mais amplas. Infelizmente, ao contrário das bandas de músicas militares que deixaram razoável documentação (**), as bandas civis nunca tiveram dados mais precisos. Toda uma literatura precisa ser desenvolvida para explicar os vários estilos das bandas - palavra que hoje identifica qualquer grupo musical, especialmente os de rock - do Norte / Nordeste - com as bandas em sua forma mais tradicional, com instrumentos de metal, oferecem excelente campo para pesquisas e estudos, de duas formações e especialmente o repertório. Na impossibilidade de sintetizar uma história das bandas no Brasil, basta dizer que é difícil encontrar alguém com mais de 40 anos que não guarde lembranças de ter ouvido as furiosas apresentarem-se, fosse em nostálgicos coretos nas praças das cidades (em Curitiba, até os anos 50, as bandas apresentavam-se regularmente no antigo coreto na Praça Osório), ou nas datas cívicas, em concertos ufanistas ou desfilando, garbosamente, nas ruas da cidade. NOTAS: (*) A Associação Atlética do Banco do Brasil, em Curitiba, tem hoje na presidência em ex-cantor e compositor amador, homem de muita sensibilidade e que vem procurando dinamizar culturalmente a entidade. Além de estar montando uma orquestra sinfônica, com recursos da Fundação Banco do Brasil, a AABB em sua magnífica sede à Avenida Victor do Amaral, dispõe de um amplo espaço para apresentações artísticas que deverá, inclusive, abrir para o público daquele bairro em espetáculos especiais. (**) O pesquisador Alceu Schwaab tem programado um estudo sobre a Banda da Polícia Militar do Paraná, que já teve grandes regentes e músicos em seus quadros. LEGENDA FOTO1: Franck Justo Acker, responsável pela gravação técnica e o produtor Silas Xavier. LEGENDA FOTO 2: Maestro Vavá (Osvaldo Pinto Barbosa) , arranjador das músicas que compõem o álbum triplo "Banda de Música de Ontem e de Sempre".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
16/06/1991

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