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A morte de Paulo Sá Pinto, o que modernizou nossos cinemas

A morte de Paulo Barreto de Sá Pinto, às 4h10 da última quinta-feira, 24, no Hospital Sírio Libanês, levou um dos maiores empresários da área cinematográfica - não só em São Paulo, mas também em Curitiba, onde, a partir de 1948, modificou sensivelmente o setor de cinema como espetáculo. Com sua morte - sem ter gravado um depoimento que há tempos vínhamos tentando colher - a história da cinematografia no Brasil - e no Paraná - perde uma de suas testemunhas vivas - e com ele desaparecem detalhes importantes sobre os cinemas de Curitiba. Paulo Sá Pinto, mineiro de Santos Dumont, morreu vítima de insuficiência respiratória, ocasionada por um câncer que tinha no pulmão. Apesar de gravemente doente - em outubro de 1990 já havia sofrido uma crise e sido internado - manteve-se rijo, no comando de suas empresas - a Cinematográfica Sul e a Paulista Cinematográfica, além de associado a vários outros empreendimentos e a Art Filmes - despachando em seu gabinete na Avenida São João, com sua fiel secretária, dona Lourdes Peixoto, que o acompanhou por mais de 30 anos. Homem refinado, culto, elegante - cabelos brancos, sempre bem trajado, falando várias línguas - Paulo Sá Pinto sempre foi líder da cinematografia nos tempos em que o cinema era o melhor negócio. E ele soube fazê-lo. Veio ainda criança para o Rio e seu primeiro emprego foi como conferente de Alfândega, no cais do porto. Mais tarde (e não há precisão das datas, justamente pela ausência do depoimento que tanto havíamos solicitado) ele se transferiu para Porto Alegre, onde teria trabalhado em publicidade e começando a se interessar pela área de exibição. Seria, entretanto, em São Paulo, que fundaria a Empresa Cinematográfica Paulista, cujo primeiro cinema chamou-se Ritz (embora algumas fontes digam que teria sido Marabá), nomes que posteriormente, traria para os cinemas que assumiria em Curitiba. No final dos anos 40, expandiria seus circuitos para Porto Alegre, e, em Curitiba, arrendaria o Cine Avenida, que se encontrava então, sob a direção de dois filhos de Ferez Mehry (1879-1946), o construtor do Palácio Avenida. Inaugurado em 1º de maio de 1929 com "Moulin Rouge", o luxuosíssimo cine-theatro Avenida - a primeira casa de espetáculos construída especialmente como cinema no Paraná - teve como primeiro arrendatário a firma F. Muzzillo & Cia. Problemas familiares que se refletiram na empresa, levaram Muzzillo a transferir, posteriormente, o cinema a Antônio de Mattos Azeredo (1880-1949) que foi, por muitos anos, o mais rico e poderoso exibidor do Estado. Mas Azeredo também sofreu reveses econômicos e acabou entregando a sala para os filhos de Ferez Mehry, quando os irmãos Aristides e José o administraram por alguns meses. Apesar de ser um excelente ramo comercial - o cinema estava em sua época dourada e inexistia a televisão - os Mehry entenderam que não eram do ramo de exibição e aceitaram a proposta de Paulo Sá Pinto para explorar o Cine Avenida, quando a Empresa Cinematográfica Sul iniciou - possivelmente em 1948 - suas atividades no Paraná. Apesar de pesquisas que temos realizado sobre esta transferência na administração do Avenida, não nos foi possível, até hoje, localizar com exatidão os detalhes - que só Paulo Sá Pinto poderia ter esclarecido. Dois de seus executivos que por anos aqui residiram - Geraldo Pontes e José Cajado, já faleceram, e os velhos funcionários de suas empresas - poucos ainda sobrevivem - não conhecem detalhes mais específicos dos negócios. O fato é que Paulo Sá Pinto assumiu o Cine Avenida e, em seu espírito inovador, trouxe várias inovações, fez reformas e, em pouco tempo, ampliou o circuito - assumindo o antigo Cine América, do pioneiro João Baptista Groff, na Rua Voluntários da Pátria; o antigo Theatro Hauer reaberto como Cine Marabá e o antigo Cine Imperial, que rebatizou como Ritz. Na década de 60, construiria o Rívoli, inaugurado com "La Violetera", com Sarita Montiel.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
30/01/1991

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