Login do usuário

Aramis

Palácio Avenida, uma história e a busca dos que já se foram

Não é só quem busca os jornais para pesquisas que encontra grandes dificuldades. Se na imprensa, bem ou mal, é ainda possível localizar informações sobre os assuntos que estão sendo estudados, quando se depende apenas da informação oral há barreiras (quase) intransponíveis. São dados esparsos, que no perigoso terreno da memória, correm o risco de terem sua autenticidade contestada - ou ao menos com erros quando se fala em datas e nomes. A ampla pesquisa que a Fundação Avelino Vieira está fazendo para recuperar a história do Palácio Avenida, construído entre 1927/1929 pelo empresário Ferez Mehry (1879-1946), adquirido em 1968 pelo Bamerindus - e agora na rota final da construção do prédio (que sediará a direção do conglomerado), vem sendo feita utilizando-se de várias fontes. Entretanto, de muitos aspectos relacionados ao Palácio Avenida - primeiro grande edifício residencial e de escritórios construído em Curitiba (o edifício Garcez, da mesma época, era, a princípio, apenas destinados a escritórios), não restaram informações precisas. Inquilinos que ocuparam muitas de suas lojas no térreo, tiveram escritórios ou apartamentos residenciais nos três pavimentos, praticamente desapareceram sem deixarem herdeiros ou pessoas amigas capazes de, agora, 60 anos depois, prestarem informações precisas. xxx Há casos curiosos - e para cujo esclarecimento está se solicitando ajuda de pessoas idosas que, eventualmente, tenham conhecido as pessoas e os estabelecimentos sobre os quais se pesquisa (qualquer informação poderá ser dada pelo fone 352-1122, a Alexandra ou Tatiana). Por exemplo, após a Casa do Mate ter ocupado uma das principais lojas na Avenida Luiz Xavier - entre a floricultura de Bruno Schidzig (de quem também não se encontraram descendentes) e a confeitaria da família Leal, transformou-se numa confeitaria-restaurante (a partir de 1940, chamada "Guairacá"), que teve no alemão William Winkel seu principal sócio. Mais tarde, Winkel seria o pioneiro na noite curitibana ao instalar a primeira casa de "taxi-girls" (dançarinas que ganhavam comissões pelo tempo em que dançavam com os fregueses), na "Caverna Curitibana", no subsolo do Edifício do Clube Curitibano. Embora fosse uma pessoa popular na cidade até os anos 50, não se encontrou quem pudesse prestar informações detalhadas sobre Winkel e o período em que foi proprietário da confeitaria-restaurante que antecedeu a Guairacá. Solteirão, morreu sem deixar filhos e nem o cemitério em que teria sido sepultado foi localizado. xxx Outro alemão ligado a história comercial do Palácio Avenida foi o que ali instalou no início dos anos 30, a "Casa do Tio Paulo". Ao que consta, teria sido o primeiro a trazer o sistema de crediário para a cidade, vendendo rádios, geladeiras ("Frigidaires") e "artigos electricos". Durante a II Guerra Mundial, fechou a loja e desapareceu sem deixar pistas. Para alguns, seria um espião do III Reich, que devido ao rompimento do Brasil com a Alemanha decidiu voltar ao seu país. Para outros, era apenas um comerciante que tendo dificuldades econômicas achou melhor desaparecer sem saldar seus compromissos. Mas qual seria o sobrenome do "Tio Paulo"? Como era a sua loja? Raros são os curitibanos, na faixa etária dos 70/90 anos, que se lembram da mesma. Se alguém souber algo, ligue para o número 352-1122. xxx No Palácio Avenida, com entrada pelo número 16 da travessa Oliveira Bello, nos anos 1935/39, conforme o "Livro Azul de Curytiba", funcionavam escritórios do Lloyd Brasileiro-Americano (?), de vários advogados - desde nomes conhecidos como Salvador de Maio, Alfredo Ferrante e Serafim França - até outros cujos herdeiros se procura agora, como o Dr. Afonso Brauner ou "G. Ghilardi". Quem conheceu Sylvio Costa Rodrigues ou o capitão Herculano Cunha que ali também tinham endereço em 1938 - mesma época em que um oficial do Exército, que viria a fazer história, também teria residido no prédio, o então tenente-coronel Oswaldo Cordeiro de Farias. xxx Construído há mais de 60 anos, o Palácio Avenida reúne histórias que fazem parte da cidade. O cine-teatro, primeiro a ser especialmente projetado e edificado para servir a encenações teatrais e projeções de filmes (inaugurado, como teatro, com a revista "Tro-Ló-Ló", com Jardem Jercolis, pai do também já falecido Jardel Filho), funcionou até princípios dos anos 80. Inaugurado com uma sofisticada produção alemã ("Moulin Rouge"), encerraria, melancolicamente como sala-poeira, projetando "A Dama da Zona", num capítulo (já levantado) importantíssimo dentro da vida cultural de Curitiba - pois ali foram apresentados muitos espetáculos teatrais, recitais e, especialmente, exibidos milhares de filmes. xxx Com 30 amplos apartamentos, distribuídos em seus pavimentos, cada um com quatro grande janelões, os inquilinos do Palácio Avenida foram, durante décadas, moradores de uma área privilegiadíssima. De camarote domiciliar, assistiram os grandes desfiles cívicos, carnavais de rua, manifestações políticas, trotes aos universitários (defronte, na mesma avenida, seria instalada num antigo hotel a Casa do Estudante Universitário, que funcionou até ser transferida para a sua ampla sede própria, ao lado do Passeio Público). Milhares de pessoas, centenas de famílias, várias lojas (Combate, Princesa, Flora Paraná, Guairacá, etc.) se sucederam na esquina da avenida com a travessa Oliveira Belo, fazendo parte desta Curitiba tão necessária de ser estudada em seu passado. LEGENDA FOTO - Marquise do Avenida, nos anos 50, quando da exibição do filme "Ambição de Mulher", com Susan Hayward. O cinema foi inaugurado em maio de 1929 com "Moulin Rouge" e funcionou até princípios de 1980.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
08/07/1990

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br