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Aramis

Um novo pacote com filmes imperdíveis

E eis que chegou um novo pacote de filmes importantes, imperdíveis, obrigando os cinéfilos a se programarem para assistir a todos - já que alguns, infelizmente, podem sair de cartaz na próxima semana. Dois lançamentos são os chamados "Oscarizáveis", o que significa que, pela mídia promocional alcançada, deverão permanecer mais tempo em exibição: o ecológico "Na Montanha dos Gorilas" (Gorilas in the mist), de Michael Aptd e "Uma Secretária de Futuro" (Working Girl), de Mike Nichols - que valeram indicações ao Oscar de melhor atriz e atriz coadjuvante, respectivamente, à interessantíssima Sigourney Weaver - mas que perdeu nas duas categorias. Dois outros filmes indispensáveis de serem vistos vêm de países europeus: "Gauguin - Um Lobo Atrás da Porta" (Wolf At The Door), de Henning Carlsen - com dois atores marcantes no elenco - Donald Sutherland (como o pintor Paul Gauguin, 1848-1903) e Max von Sydow, no Cine Luz. Já "O Homem da Linha", produção holandesa, de Joe Sterling (O Ilusionista) vai encantar aqueles que se entusiasmaram com seu primeiro filme - sem diálogos. Os dois filmes chegam aos circuitos comerciais (e em vídeo, pela Pole Vídeo) graças a Leon Kakof, coordenador da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, na qual Sterling foi premiado pelo júri popular. No Cinema I, desde ontem. "Maurice", de James Ivory ("Uma Janela Para o Amor"), é outro filme importante, em lançamento nesta semana (Bristol), mas que dificilmente ultrapassará uma semana em exibição - pois, infelizmente, o cinema da Rua Mateus Leme tem mesmo a triste sina de ser um cemitério de bons programas - apesar do conforto que oferece e da simpatia de seu gerente, o atencioso Wilson Loecho. Mamãe Gorila - Quando Dian Fossey foi assassinada, em Ruanda, África, em dezembro de 1985, nenhuma publicação brasileira fez o menor registro (nem mesmo a Veja, habitualmente tão atenta em sua seção "Datas"). Na verdade, só a comunidade ligada ao trabalho de preservação da vida animal é que se emocionou ao saber que a antropóloga (autodidata) americana, que dedicou 18 anos dos seus 53 anos à luta pela sobrevivência dos gorilas na África, havia sido assassinada nas vésperas do Natal. Um crime, em si, que tem muito para lembrar o assassinato de Chico Mendes - também ecólogo, assassinado nas vésperas do Natal do ano passado. E como ao que parece o que vai acontecer com os que mataram Chico Mendes, também os assassinos de Dian Fossey ficaram impunes. Só este aspecto faz com que "Na Montanha dos Gorilas" atraia um público especial, neste momento em que a ecologia está em moda. Mas não é só por isto que o filme merece ser visto: Michael Apted, 48 anos, cineasta que até agora não havia obtido maior projeção apesar de alguns filmes interessantíssimos ("O Destino Mudou sua Vida", "O Mistério de Ágata", "Quando se Perde a Ilusão"), realizou um filme linear, biográfico, extremamente bem cuidado e valorizado pela excelente interpretação de Sigourney Weaver e uma envelhecida Julie Harris, hoje aos 64 anos - longe daquela primaveril intérprete da inesquecível personagem Abra, amada por Cal (James Dean) no clássico "Vidas Amargas" (East of Eden, 1945, de Elia Kazan) - uma de suas melhores atuações no cinema. Julie aparece poucos minutos em "Nas Montanhas dos Gorilas", como Roz Carr, que ajuda Dian Fossey em seus momentos de dificuldades. O restante do elenco é de intérpretes desconhecidos: Bryan Brown como o fotógrafo da "National Geographic Magazine", que se envolve com Dian; o excelente ator negro John Omirah Miluvi como Sembagare. A música, excelente, é de Maurice Jarre. E quem quiser ver imagens da verdadeira Dian Fossey é só alugar no Disk-Vídeo o volume "Os Conquistadores", recém-lançado pela Vídeo Art, no pacote da "National Geographic Magazine". Comédia de Futuro - Se em "Nas Montanhas dos Gorilas", Sigourney Weaver compõe uma personagem dramática e irada (em sua defesa dos gorilas), em "Uma Secretária de Futuro" (Working Girl) extravasa seu lado de comediante, num filme suave e cuja inclusão entre os 5 nominados ao Oscar como melhor filme (entre outras categorias) irritou a muitos. Acabou não tendo nenhuma das premiações (concorria em seis), mas, em termos de bilheteria funciona, pois tem uma história atualíssima - a luta pelo poder a qualquer preço - e um elenco que traz além de Sigourney, Harrison "Indiana Jones" Ford e Melanie Griffith - que concorreu na categoria de melhor atriz. Mike Nichols, o diretor, aos 58 anos, 23 de cinema, é um diretor que divide suas atividades entre a Broadway e cinema - sempre bem sucedido. Tem um timing exato e é competente - tanto nas adaptações de peças de sucesso, como em obras mais profundas, como "Silkwood, Retrato de uma Coragem". Portanto, vale verificar "Uma Secretária de Futuro" - que deve permanecer, pelo menos, três semanas em exibição. Outras opções - Sofisticado e profundamente intelectual, o inglês James Ivory retoma mais uma vez a linhagem literária de E.M.Forster ("Passagem para a Índia", de David Lean; "Uma Janela Para o Amor", do próprio Ivory), para contar uma história, chocante na época, comum em nossos dias, sobre uma relação homossexual entre dois jovens ingleses - Maurice (James Wilby) e Clive (Hugh Grant). Tratado com elegância, emoldurado em bela fotografia de Pierre L'Homme e com música de Richard Robbins, "Maurice" (Cine Bristol) é programa indispensável. Aníbal Massaini Neto, produtor de "Forever" - sem a data de lançamento no Brasil - comentava conosco, terça-feira, na festa de entrega dos prêmios Sharp da Música (Copacabana Palace), que está surpreso com a bilheteria de "Mulher Objeto". Relançado em São Paulo, faturou mais do que em sua estréia, há cinco anos passados. Dirigido por Sílvio de Abreu (hoje só dedicando-se a telenovelas), com belas mulheres (Helena Ramos, Maria Lúcia Dahl, Kate Lyra e, num personagem dramático, a falecida Yara Amaral), esta produção, embora erótica ao extremo, foge do padrão pornô. O roteiro foi bem estruturado e a linguagem é inteligente. Em reprise no São João. Outro bom filme nacional, em reprise, é "Anjos da Noite", de Wilson Barros - a grande revelação no Festival de Cinema de Gramado, há dois anos. Com Marília Pera, numa atuação excelente, ao lado de Marco Nanini, Zezé Motta e Antônio Fagundes, um filme noir, criativo e que merece ser revisto, em reprise no Guarani. "As Filhas do Fogo", do sempre refinado Walter Hugo Khouri (que conclui agora em versão portuguesa de "Forever", uma produção de quase US$ 2 milhões), emplacou em seu relançamento no Groff e continua em exibição. Assim como "Ironweed", de Hector Babenco (Ritz) e o divertido "Irmãos Gêmeos", de Ivan Reitman, com a dupla Arnold Schwarzenegger e Danny De Vito (Itália e Lido). No Groff, amanhã à meia-noite e domingo às 10h30, "Os Demônios" (The Devils), 1972, do inglês Ken Russel - que ficou quase 10 anos proibido no Brasil. Vale pela interpretação de Vanessa Redgrave. LEGENDA FOTO - Sigourney Weaver em "Uma Secretária de Futuro" (cine Plaza). Bem menos glamourizada, ela é Dian Fossey em "Na Montanha dos Gorilas" (cine Astor).
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
28/04/1989

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