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Aramis

"Uma Janela Para O Amor", requinte visual de Ivory

Exibido na sessão de encerramento do II FestRio, em novembro do ano passado, "Uma Janela Para O Amor" arrancou aplausos entusiásticos do público. Um filme de rara beleza e profundidade, aclamado internacionalmente e que tem seus méritos reconhecidos pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas de Hollywood ao ponto de merecer oito indicações ao Oscar: melhor filme, direção, atriz coadjuvante - Maggie Smith; ator coadjuvante - Denholm Elliot; roteiro adaptado (Ruth Prawer Jhabvala), fotografia, figurino, direção de arte. Uma obra requintada, belíssima - diferente, em temática e realização, dos demais competidores do Oscar. Para quem assistiu a "Os Bostonianos", que permaneceu várias semanas no Luz (e que valeu, em 1984, também a indicação ao Oscar da atriz Vanessa Redgrave), o estilo requintado, fino e sofisticado do diretor James Ivory não causa surpresa. Afinal, para este americano de grande vivência na Índia - onde realizou vários filmes ("Guabar", 1963; "Shakespeare Wallah", 1964; "A Magia Do Guru", 1968; "Bombay Talkie", 1970), a sofisticação de imagens e a profundidade dos conflitos humanos/amorosos é um campo para vastas especulações, como mostrou em "Quarteto" (visto há 3 anos, no Itália), ou, especialmente "Os Bostonianos", adaptado de uma novela de Henry James. Agora, trabalhando sobre um romance de E. M. Foster, de quem pretendia filmar "Passagem Para A Índia" (que acabou sendo realizado pelo inglês David Lean), James Ivory voltou-se a outra de suas novelas, com a ação dividida entre Florença e os arredores de Londres. Ivory, 59 anos - a serem completados no próximo dia 7 de junho - explica porque se interessou por "A Room With A View": - "Eu sentia que daria um filme interessante e vivo. Gostei dos personagens, gostei das cenas. Menos vagamente eu queria, simplesmente, voltar à Itália. Não tinha estado lá há mais de vinte anos. Gostei da atmosfera do livro. Foster escreveu quando tinha seus 20 anos e estava cheio de exuberantes impressões de um jovem em sua primeira viagem ao Exterior. Estava também cheio de observações divertidas sobre as pessoas de casa, na Inglaterra. A Itália foi o primeiro amor de Foster, antes dele se aventurar mais longe para a Índia, assim como foi o meu antes de ter ido lá". "Uma Janela Para O Amor" é daqueles filmes de um requinte que chega quase ao exagero de qualidade. Não é sem razão que tem indicações aos Oscars de direção de arte (Gianni Quaranta/Brian Ackland), figurinos (Jenny Beava/John Bright), fotografia (Tony Pierce-Roberts), nas categorias técnicas. É um deslumbramento da primeira a última seqüência. Vincent Canby, o lendário crítico do "The New York Times", entusiasmado com o filme escreveu: - "Como tem feito nesses últimos 20 anos, Ruth Prawer Jhabvala, que escreveu o roteiro de 'A Room With A View', James Ivory, o diretor e Ismail Merchant, o produtor, criaram com uma fidelidade excepcional uma exuberante obra cinematográfica equivalente a um trabalho literário que poucos talentos seriam capazes de forjar. O filme é como um feriado inesperado. É uma aventura em outra dimensão a medida que ela vai desde os perigosos e sedutores cenários de Florença, cheios de aromas e glórias da Renascença, para as mais serenas paisagens da Inglaterra, onde guerras não declaradas são travadas sobre as xícaras de chá". O filme está repleto de bons papéis, com atuações esplendorosas de atores, tanto iniciantes como veteranos, tais como Maggie Smith e Denholm Elliot, que parecem estar ficando cada vez melhores com o tempo - como diz Canby. Maggie Smith (que já ganhou duas vezes o Oscar) faz o papel de Charlotte, a prima de Lucy (Helena Bonham Carter): nobre e orgulhosa mas impertinente, é o tipo da mulher cuja pior fraqueza é bisbilhotar e não, como ela proclama, "estabelecer a exata posição das coisas". Muito parecido com ela, o Sr. Elliot, um jornalista socialista aposentado, o único personagem do filme que é capaz de expressar seus sentimentos diretamente. Diz Canby: "Mas a verdadeira estrela do filme é a bela Helena Bonham Carter. Como Lucy Honeychurch, ela nos dá uma notável e complexa atuação no papel da jovem mulher que é simultaneamente racional e romântica, generosa e egoísta, e tímida até o ponto de dar um incauto mergulho no desconhecido". Um ator que merece ser observado: Daniel Lewis, como o pitoresco Cecil Vyse - astro de "My Beautiful Laundrette" (Minha Querida Lavanderia), o filme inglês que venceu o FestRio. Julian Sands, que em "Os Gritos Do Silêncio" (The Killing Fields) fazia um jovem fotógrafo está ótimo como George Emerson. Um filme de primeira categoria, de visão indispensável nesta sua estréia - às vésperas da festa do Oscar. LEGENDA FOTO - Requinte, sofisticação e beleza: "Uma Janela Para O Amor", candidato a 8 Oscars, em exibição no Astor. Um filme de visão indispensável.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
14
27/03/1987

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