Produtores discutem a pirataria do vídeo+
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 06 de dezembro de 1988
O papel da crítica cinematográfica não foi o único tema discutido paralelamente no FestRio. No dia 21 de novembro, no auditório do rio Palace Hotel, aconteceram dois outros seminários, organizados por Cláudia Furiatti - que teve no entusiasmo de seus assistentes, Helena Perli e Adolfo Lachtermarcher, uma das razões do êxito que os mesmos obtiveram. "Com estes seminários o FestRio deixa de ser apenas notícia para o segundo caderno e passa a ocupar espaço nos primeiros" nos dizia, satisfeita, Claudia - ao verificar a atenção que até páginas econômicas deram ao encontro sobre "a conversão da dívida estrangeira para o investimento da produção de cinema no Brasil".
Assim, se o cinema é entretenimento e cultura, é também um importante segmento da economia - e neste sentido uma reunião de mais de três horas, com a participação do vice-presidente do Concine, Roberto Farias, executivos como Arnin Lorc (diretor da área externa do Banco Central), Ken Baxter (diretor do Banco Bozano Simonsen) e tendo como moderador o produtor Luis Carlos Barreto abordou um assunto que começa a se incorporar na discussão do futuro de nosso cinema: a conversão da dívida externa no Brasil como forma de representar não só uma nova e importante fonte de investimentos, mas também na produção de filmes em infra-estrutura. O Ministério da Cultura estima que a conversão poderá carrear por ano até US$ 100 milhões para o cinema nacional: cada filme realizado sob regime de conversão de dívida pode incluir várias formas de participação de empresas nacionais e estrangeiras.
Assim, foi discutido o atual mecanismo de conversão em suas diversas formas e aplicações no setor cinematográfico.
Também no dia 21, uma questão ainda mais abrangente ocupou várias horas de debates: o mercado internacional de homevídeo e a pirataria de vídeo e cassetes. Com a participação de executivos ligados ao vídeo no México e Espanha, o diretor da MPEAA, Steve Solot, além de dezenas de brasileiros, o assunto foi analisado em vários aspectos aprofundando-se, aliás, debates que, em edições anteriores do FestRio, já haviam sido realizados.
A questão é ampla: dos filmes vistos no FestRio, por exemplo, alguns só estão chegando via vídeo - ou antes, através do vídeo. É o caso de "Minha Querida Lavanderia" (My Beautiful Laundrette), do inglês Stephen Frears - Tucano de Ouro como melhor filme em 1986. Este ano, o primeiro filme a ser negociado foi a produção espanhola "No Hagas Planes con Marga", um dramalhão kitsch, com Miguel Molina, Nina Ferrer e Angel de Andres Lopez, que apesar da unanimidade de bolas pretas recebidas do Júri B do Jornal do Brasil, era negociada, na manhã de sexta-feira, 26, pelo seu diretor-produtor Rafael Alcazar, com o paulista Raul Rocha, durante o café da manhã no Othon Palace Hotel.
Muitos outros títulos, entre os que vieram para o FestRio não só nas mostras competitivas, mas também paralelas - talvez só cheguem em vídeo para a platéia brasileira. Assim, é natural que para os produtores, a venda dos direitos para homevídeo seja a fonte imediata para recuperar ao menos a parte dos gastos - e poder investir em novas produções. Naturalmente, a pirataria constitui a maior ameaça para o crescimento do mercado de vídeo - e um exemplo disto é o fato que "Stranger Than Paradise", o cult-movie de Jim Jamurschi, apresentado no II FestRio, foi tão pirateado que só agora, cinco anos depois, a Skylight o está lançando nos cinemas.
LEGENDA FOTO - Rafael Alcazar, diretor do filme "No Hagas Planes con Marga", que representou a Espanha no FestRio: bolas pretas mas o filme foi vendido para o Brasil.
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