Um sentido político, contra o appartheid na África do Sul, marcará na noite de 19 de novembro a abertura do IV Festival Internacional do Cinema, Televisão e Vídeo do Rio de Janeiro. Uma personalidade negra, desprestígio mundial - e cujo nome será mantido em segredo até a hora do evento - entregará uma manifestação de apoio a um representante do líder Nelson Mandella, seguindo-se a pré-estréia mundial do último filme de Sir Richard Attenborough que tem como tema justamente o conflito racial na África do Sul; "Cry Freedom". Com a participação de filmes inéditos mundialmente de cerca de 20 países e mais dezenas de eventos paralelos que trarão mais de 400 programas diferentes em múltiplas salas de exibição, o IV FestRio deverá superar as três edições anteriores - consolidado que está hoje como um dos principais festivais de cinema e o único da América do Sul na categoria A - a mesma que estão Cannes, Veneza, Montreau e Berlim. xxx Nesta etapa final de preparativos, os executivos da maior promoção cinematográfica do Hemisfério Sul - Nei Sroulevich, Cosme Alves e Jean-Gabriel Albicoco, ultimam os detalhes, definindo os filmes e os convidados finais. A programação de abertura e encerramento já está acertada com as primeiras exibições mundiais, hors concours, de duas das maiores produções recém-finalizadas. No dia 19, "Cry Freedom", de Richard Attenborough - o mesmo diretor de "Ghandi". No encerramento, no dia 28, "O Último Imperador", de Bernardo Bertolucci, cuja estréia em Paris só acontecerá no final de novembro. Rodado na China Continental, esta superprodução é a biografia de Pu Yi (1906-1967), último imperador da China. As primeiras fotos deste filme estão saindo no número 8 da luxuosa "Studio Magazine", edição de novembro, que somente hoje irá para as bancas na França - mas cujos assinantes no Brasil já receberam. Na grande reportagem dedicada a este filme, Christopher d'Yvoire, o classifica como "uma nova obra prima do mesmo diretor de "O Último Tango em Paris", e "Novecentto". Portanto, a sua escolha para encerrar o IV FestRio não poderia ser mais oportuna - confirmando o prestígio que o evento possui hoje ao ponto de Bertolucci concordar em que sua primeira exibição pública aconteça no Rio de Janeiro. Há dez dias, durante a reunião do Diretório dos organizadores de Eventos Cinematográficos no Brasil, que aconteceu paralelo ao XX Festival de Cinema de Brasília, Cosme Alves, 50 anos, conservador da Cinemateca do Museu de Arte Moderna e um dos executivos do FestRio, confirmava alguns detalhes em relação a esta quarta edição do maior festival da América do Sul. Uma curiosidade, nos dizia Cosme - que junto com Nei Sroulevich esteve recentemente na China Continental, numa grande reunião de executivos cinematográficos, - é o fato daquele país comunista ter escolhido como seu representante no FestRio um filme que tem como tema, justamente, a história da última Imperatriz da China - a esposa de Pu Yi, realização de Cheu Sealin. Assim, numa oportunidade única, será possível ver uma história em duas versões diferentes: na ótima do italiano Bertolucci e na do realizador chinês. xxx A exemplo dos anos anteriores, o FestRio terá uma série de eventos paralelos. Três seminários trarão personalidades e dezenas de filmes relacionados aos temas: "A Droga e o Cinema" - com a possível participação dos atores Ernest Borgnine e Paul Newman (que dirigem movimentos antitóxicos nos EUA), "Religião e o Cinema" - o crescimento do misticismo no cinema mundial, com palestras, entre outros de Miguel Deslutos, da Nicarágua e do brasileiro Leonardo Boff, e "O Futuro das Telas" - uma ampla discussão do cinema neste final de século, as novas técnicas e formas de comunicação. Cada um destes seminários se desdobrará em ciclos informativos, com filmes antigos e inéditos, fazendo, assim, com que as opções para o público se ampliem ainda mais. A mostra "Um Olhar Feminino", a exemplo das anteriores, reunirá realizações de mulheres cineastas de todo o mundo, preferencialmente com produções inéditas. O Brasil, estará presente com "Pagu", de Norma Benguell - em fase de finalização, "Mar de Rosas", de Ana Carolina - que poderia também entrar nesta mostra - é um dos filmes brasileiros que disputam a representação de nosso País na competição oficial - e cuja decisão deve estar acontecendo neste final de semana por parte da comissão de seleção. xxx Outra atração especial do FestRio: como é o último dos festivais de categoria A, no ano, haverá a grande amostragem "Os Melhores do Mundo", com os filmes premiados em Cannes, Berlim, Veneza, Moscou e outros grandes eventos cinematográficos. Uma oportunidade de se conhecer os filmes que foram reconhecidos como os melhores nos grandes festivais - muitos deles sem chances maiores de lançamento comercial no Brasil ou, caso venham a serem adquiridos por distribuidores, com estréia nos circuitos comerciais somente a partir do segundo semestre de 1988. A mostra de vídeo, organizada pelo experiente Hamilton Costa Pinto, também terá atrações internacionais, tanto na sua parte informativa como competitiva. Reuniões de inúmeras entidades ligadas ao cinema acontecerão durante o Festival, cuja listagem de convidados é grande - incluindo desde gente jovem, começando agora - até veteranos como Jack Palance, Arlene Dahl, Cyd Charisse, Jane Powell e - pasmem! - Nino Sevilla. - "Será a área geriátrica do FestRio!" - brinca um jornalista, amigo de Cosme Alves ao ouvir os nomes destes artistas que marcaram o cinema dos anos 40/50. João Luiz Albuquerque, jornalista de experiência internacional, coordena a parte de imprensa - com pedidos de credenciamento de várias partes do mundo, e a preocupação de quem ama o cinema é só uma: como se programar para assistir tantos filmes imperdíveis que estarão em exibição nas telas do Rio de Janeiro dentro de três semanas?

Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:

Veiculo: Estado do Paraná

Caderno ou Suplemento: Almanaque

Coluna ou Seção: Tablóide

Página: 3

Data: 29/10/1987

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