A estranha política dos lançamentos nos cinemas
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 07 de junho de 1990
Os números caminham para uma progressão geométrica: do solitários 114 espectadores registrados no barderaux na estréia (31 de maio), no domingo, já passavam de 900 e a tendência é aumentar - já que com o ingresso mais reduzido (Cr$ 100,00) de segunda a quinta-feira, o hábito de frequentar os cinemas se encontra no meio da semana - e não mais nos finais, como acontecia antes.
Portanto, o atlético Egom Prim, executivo local da UIP, está esperançoso de que no boca-a-boca, o interesse por "Um Toque de Infidelidade" (Condor, 5 sessões) cresça e possibilite que esta comédia romântica, sofisticada e inteligente repita em termos locais o mesmo sucesso alcançado em São Paulo: há 17 semanas com casas lotadas.
Entretanto o público curitibano é incompreensível e assim como elege "Sociedade dos Poetas Mortos", de Peter Weir, como um filme-sensação - levando-o, inclusive a retornar amanhã no Cinema I, em substituição ao excelente "Crimes e Pecados" de Woody Allen, também despreza "Splendore" de Ettore Scola, após ter consagrado "Cinema Paradiso", de Giusepe Tornatore. Um jogo difícil de se entender, mesmo para quem tenha muita experiência em termos de lançamentos.
Hoje, quando o Groff reabre após 60 dias (estava em reformas e o último filme ali exibido havia sido a reprise de "Memórias do Cárcere") com o belo (mas vazio) "O Trovador Karib", de Serguei Paradjanov e David Abachidzé, os demais cinemas da cidade - com exceção da rede oficial da fucucu - passam a inverter suas datas de estréia. Agora, será na sexta-feira que acontecerão os lançamentos, estendendo-se, em mais um dia a oferta de ingressos a preços reduzidos e trazendo para o fim-de-semana o interesse imediato dos que desejam conhecer logo as estréias. Não deixa de ser uma política de marketing para melhorar a renda nas salas exibidoras, cada vez mais esvaziadas nos últimos anos.
A tradição de fazer as estréias cinematográficas nas quintas-feiras vem desde o início dos anos 50, quando os antigos cinemas lançadores - Avenida, Ópera, Palácio, Arlequim, Marabá, (hoje Bristol), entre outros, introduziram, timidamente, o hábito das matinês na tranqüila Curitiba com pouco mais de 100 mil habitantes. As sessões noturnas, geralmente com programas longuíssimos - dois filmes, mais cine-jornal (que traziam as novidades do mundo numa época em que inexistia a televisão), desenhos animados, shorts e 2 a 3 traillers das próximas atrações, faziam do comparecimento as elegantes sessões nas salas da nossa Cinelândia, um ritual que as famílias curtiam muito. Nos cinemas populares, como o Curitiba (ex-República) e América, na rua Voluntários da Pátria, sem falar naqueles que só os que têm mais de 50 anos lembram-se - Broodway, Odeon, Smart etc. - as sessões também eram longas e o cinema era então, numa época em que ninguém sonhava com a televisão e o rádio não chegava ainda a segurar os curitibanos em casa (embora desde 1924, a pioneira PRB-2 já estivesse no ar), a grande diversão.
Numa coincidência que merece também um registro - talvez para algum dia servir de informação a algum pesquisador de nossa cidade - lembre-se que hoje, nesta quinta-feira, o Plaza, na praça Osório, inaugurado há 26 anos, em prédio da Associação dos Servidores Públicos do Estado, traz uma tradição que também parecia desaparecida: festivais de filmes inéditos. Lançando três filmes importantes da Columbia Pictures, mas que na briga-de-foice por datas não encontraram por parte dos exibidores maior receptividade, estarão, cada um, sendo exibidos apenas em poucas sessões. O que nos remete à época dos festivais MGM ou festivais Fox que aconteciam nos antigos cines Ópera e Avenida, respectivamente, trazem um toque de tristeza. Naquela época, os festivais eram organizados pelas então poderosas produtoras distribuidoras, para antecipar, em apenas um dia, o melhor da produção do ano - que depois chegava em lançamentos normais permanecendo uma duas ou mais semanas em cartaz.
No caso deste festival da Columbia, são três filmes que mesmo tendo obtido relativa repercussão em outros países, acabaram ficando relegados a um segundo plano dentro do pacote crescente de títulos inéditos. Com as rendas das salas cada vez mais reduzidas - e faltando aos exibidores uma visão de marketing capaz de fazer reverter um quadro dramático (há quantos anos o cinema não faz nada em termos de promoção maior, capaz de atrair novas faixas de espectadores?), filmes como os que estarão sendo apresentados de hoje a quarta-feira no Plaza poderiam, normalmente, terem carreiras normais pois méritos não lhes faltam.
O primeiro deles - "Complô contra a Liberdade" (To Kill a Priest), a questão de um assassinato de um padre na Polônia. No sábado estréia uma superprodução rodada no Quênia - "Incontrolável Paixão" (White Mischef), de Michael Redford (o mesmo diretor de "1934"), que há 3 anos representou a Inglaterra no FestRio, com boa aceitação. E nos dias 12 e 13 será apresentado "Tap - A Dança de Duas Vidas", de Nick Castle, um musical que enaltecendo a dança foi um relativo sucesso nos Estados Unidos, com Gregory Hines ("Cotton Club", "O Sol da Meia Noite") e trazendo, numa pequena mas marcante atuação o recém-falecido Sammy Davis Junior, "Tap" poderia ter um marketing especial. Bastaria ser feito uma promoção com academias de dança da cidade - especialmente as que mantém cursos de sapateado - para que ao invés de magros 2 dias, "A Dança de Duas Vidas" permanecesse 2 semanas em cartaz. Afinal, há 12 anos, um filme sobre ballet - "Momentos de Decisão" (Turning Point, 77, de Herbert Ross) esteve entre as maiores bilheterias. Será que de lá para cá, diminuiu o interesse pela dança?
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