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Aramis

"Paradiso" cinematográfico: os bons filmes estão nas telas

Uma semana com quatro atraentes estréias - uma delas, com toda certeza, entre as melhores do ano - faz com que jogadas às Cinzas deste Carnaval melancólico e sem personalidade que se encerrou, o espectador que não se deixe imbecilizar pela videomania tenha opções de ver filmes no prazer da tela ampla. Pois, para quem ama o cinema, assistir a um filme em 35mm, numa sala especial - mesmo com todos os inconvenientes, é ainda um programa estimulante. Um filme que fala com o maior amor do cinema - "Cinema Paradiso", de Giuseppe Tornatore, prêmio especial do público em Cannes-89, Globo de Ouro da Associação de Crítica Cinematográfica de Nova York e indicado ao Oscar-90 como melhor filme estrangeiro, chegou já na quarta-feira no Cine Bristol. Com a mesma temática de outro belíssimo filme italiano - que também esteve em Cannes-89 - "Splendor" de Ettore Scola (já lançado no Rio/SP e que deveria ter sido programado simultaneamente em Curitiba), "Nuovo Cine Paradiso" é daquelas obras-primas do cinema, um filme emoção-sensibilidade, absolutamente indispensável. Em comentário na página "Tablóide", falamos mais detalhadamente a seu respeito. As novidades americanas Três produções americanas, todas de 1989, uma delas catipultuada [catapultada] por indicações ao Oscar, também estão em exibição. Duas são comédias: "O Tiro que não saiu pela Culatra", horrível título que algum "gênio" da UIP no Brasil deu para "Parenthood", de Ron Howard, 36 anos, ex-ator ("Crepúsculo Vermelho", "Vendedor de Ilusões", "Papai Precisa Casar", "Loucuras de Verão" etc.) e que nos últimos 14 anos tem feito também direção ("Corretores do Amor", "Splash, uma sereia em minha vida", "Cocoon", "Fábrica de Loucuras", "Willow"), teve duas indicações ao Oscar: a Dianne Wiest como melhor atriz coadjuvante e melhor canção original. Dianne Wiest, excelente atriz, já ganhou o Oscar, há 3 anos, por "Hannah e suas Irmãs", de Woody Allen, é só suas presenças neste "Parenthood" - um filme sobre problemas familiares, estrelado por Steve Martin, Tom Hulce, Rick Moranis (o pai abilolado de "Querida, encolhi as crianças", que continua em exibição no Cinema I), os veteranos Jason Robards e Mary Steenburgen, justifica a visão. Em exibição no Lido I. Al Pacino tem sido elogiadíssimo por sua atuação em "Vítima de Uma Paixão" (Condor, 5 sessões, em exibição). Além de ter sido indicado ao Globo de Ouro, por pouco não foi nominado ao Oscar. Um filme policial com um roteiro em que Richard Prince procura trazer elementos diferenciados, "Sea of Love" tem direção de Harold Becker, 40 anos, ex-designer e fotógrafo, que chegando à direção há 12 anos ("Ragman's Daughter", inédito no Brasil), se tornaria mais conhecido pelo tenso "Toque de Recolher" (Taps, 81). Além de Al Pacino, "Vítima de uma Paixão" tem em seu elenco, Eleen Barkin e John Goodman e a trilha sonora é do excelente Trevor Jones, uma das grandes revelações da música de cinema nos últimos anos. Tom Hanks, garotão good looking que tem agradado as adolescentes, precisa selecionar melhor os papéis que faz: "Meus Vizinhos são um Terror" (The Bubs), exibido na semana passada no Lido II, está, sem dúvida entre os 10 "abacaxis" do ano. "Uma Dupla Quase Perfeita" (Turnos & Hooch), de Roger Spottiswood, não deve ser tão medíocre, embora não possa se esperar muito desta comédia em que Scott Turner (Tom Hanks) está às voltas com um cachorro enorme, bagunceiro e mal educado, com quem precisa conviver porque é a única "testemunha" do assassinato de seu dono, Amos Reed (John McIntire), um velhinho simpático e que havia denunciado ações suspeitas numa casa no cais. O diretor, Spottiswood, 47 anos, ex-assistente e montador de Sam-Pekcinpah ("Sob o Domínio do Medo", "Os Implacáveis" e "Pat Garret e Billy the Kid"), começou a dirigir seus filmes nos anos 80 e seu terceiro longa, "Sob Fogo Cruzado" (Unter Fire), 83, sobre a guerra civil na Nicarágua, está entre os melhores filmes políticos dos últimos anos. Vamos checar como ele se saiu nesta comédia policial, emoldurada com trilha sonora de Charles Gross e que tem uma curiosidade: o produtor-executivo e co-roteirista é Daniel Petrie Júnior, filho do diretor de "O Fator Noturno". Depois de "O Segredo do Abismo" e "Abismo do Terror" (desperdiçado na semana passada em programa duplo no Morgenau, quando poderia ter feito carreira em outro cinema), "Leviathan", de George P. Cosmatos ("Rambo II", "Stallone/Cobra"), completa uma trilogia de terror submarino. O fantástico, a tensão e o suspense estão nestes três filmes, todos colocando corajosos mergulhadores as voltas com forças sobrenaturais. Muitos efeitos especiais e como Cosmatos é um diretor seguro em seqüências de ação, pode-se esperar um espetáculo ao menos tecnicamente bem realizado. Peter Weller, nome principal do elenco, esteve em "Robocop", uma das grandes bilheterias de 88 embora sua estréia date de "A Juventude de Butch Cassidy" é ainda um nome desconhecido no Brasil. Em compensação, Richard Crenna, veterano ator coadjuvante, popularizou-se com a série "Rambo", embora seu portfólio inclua filmes mais dignos como "A Estrela", musical com Julie Andrews e o thrilling "Corpos Ardentes". Amanda Pays, 22 anos, é o charme feminino, aparecendo mais do que nas rápidas presenças em "Criação Monstruosa" e "Saigon-Império da Violência", seus filmes anteriores. Em exibição no Cine São João. Trilogia Ana Carolina Uma das mais criativas cineastas brasileiras, Ana Carolina (Teixeira Soares), 43 anos, tem uma obra personalíssima. Depois de um documentário sobre Getúlio Vargas e alguns curtas, dedicou seus últimos 10 anos a uma trilogia-psicanalista-feminista, com uma doce/amarga ironia a partir dos próprios títulos escolhidos: "Mar de Rosas" (1917), "Das Tripas Coração"(1982) e "Sonho de Valsa" ((186/87). Inteligentemente, Ana Carolina soube reservar "Sonho de Valsa" para só ter sua primeira projeção no FestRio-87, após, inutilmente, os organizadores dos festivais de Gramado e Fortaleza, terem tentado, há três anos, mostrar o seu filme. Assessorada por uma das mais competentes profissionais da promoção, a cubana-paulistana Rose Carvalho, "Sonho de Valsa" ganhou a maior mídia no lançamento no Rio de Janeiro, ocorrido poucos dias após o término do FestRio. Entretanto, Ana não teve pressa em que o filme chegasse às outras cidades. Como o entendimento de "Sonho de Valsa" torna-se mais claro a partir da (re)visão de "Mar de Rosas" e "Das Tripas Coração", Ana Carolina exigiu da Embrafilme que os dois filmes anteriores fossem relançados. Com isto, a comercialização deste pacote sofreu atrasos e assim, só agora, três anos depois que "Sonho de Valsa" foi visto no FestRio, o filme chegará no próximo dia 8, no Cine Ritz. Ali, até hoje, está sendo apresentado "Mar de Rosas" - que trouxe Norma Benguel numa de suas (últimas) melhores atuações, numa personagem sofrida e dramática. De amanhã a quarta-feira, será reprisado "Das Tripas Coração", em cujo elenco - ao lado de muitos nomes hoje famosos - destaca-se Ary Fontoura, como diretor de um rígido colégio feminino, no qual se passa toda a ação. Quando lançado no Cine Condor, há 6 anos, "Das Tripas Coração" fracassou em termos de bilheteria, pois apesar de nomes famosos no elenco (Dina Sfat, Antonio Fagundes, Xuxa Lopes, Mirian Muniz, Ney Latorraca, Christiane Torloni, Othon Bastos, Patrício Bisso, Cristina Pereira, Nair Bello etc.) o público não se motivou. Vamos ver se agora haverá maior interesse - inclusive para possibilitar melhor apreciação de "Sonho de Valsa" que fecha esta trilogia e em cujo elenco, Ana Carolina tentou mostrar que Ney Matogrosso não é só cantor, mas também ator de recursos - e que Xuxa Lopes é uma grande atriz - tendo inclusive sido cogitada para a Gaivota de Prata no IV FestRio. Outras opções No Plaza, substituindo ao interessante "Sing - A Um Passo da Fama", de Richard Baskin (que mereceria uma segunda semana), estreou um filme sem maiores atrativos: "Fúria Cega" (Blind Fury), de Philip Neyce, que tem em Rutger Rauer ("Blade Runner") a maior atração. No Lido II, está agora em exibição "Escândalo - a história que abalou um império", de Michael Caton-Jones, sobre o caso Profumo, com John Hurt ("O Homem Elefante"), ao lado de 2 belas ninfetas - Joane Whalley-Kilmar e Bridget Fonda. A verificar. O melhor filme de 1989, o documentário "Que Bom Te Ver Viva", de Lúcia Murat, no qual os depoimentos de 7 mulheres presas e torturadas durante a Ditadura, são "costurados" por uma antológica atuação de Irene Ravache, volta a ser mostrado no Cine Groff (que apesar de estar caindo aos pedaços, continua funcionando). Outro bom filme nacional, "Anjos do Arrabalde", de Carlos Reichenbach, que valeu a Betty Faria o prêmio de melhor atriz coadjuvante no Festival de Gramado-87 (no qual também foi considerado melhor filme, fotografia e roteiro) volta desta vez no Guarany. Com toques de neo-realismo, uma crônica humana sobre três professores do subúrbio paulista, possibilitando excelentes atuações de Irene Stefania, Clarice Abujamra, Vanessa Alves, Emílio Di Biase e a premiada Betty Faria. Infelizmente, os mesmos elogios não se podem fazer a "Sonhos de Menina Moça", de Tereza Trautman, que apesar do elenco all star - capitaneado por Tonia Carrero - permanece no superficial. Em exibição no Cine Luz, 3ª semana. LEGENDA FOTO - Totó adolescente (Mario Leonardi) e Elena (Agnes Nazo), o par romântico de "Cine Paradiso", obra-prima em exibição no Bristol.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
8
02/03/1990

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