O nosso cinema vigoroso, atuante sempre presente entre os melhores
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 02 de janeiro de 1988
Os espectadores (e mesmo críticos e pesquisadores) mais xenófobos sonham com o dia em que a página dos Melhores do Cinema possa ser elaborada somente com filmes brasileiros. Afinal, apesar de todos os problemas que existem há 90 anos para quem tenta fazer cinema no Brasil, a nossa produção cresce em quantidade e qualidade.
Há 22 anos, quando, pela primeira vez, publicamos o referendum na edição de 31 de dezembro de 1965, em "O Estado do Paraná", o filme com maior número de pontos era "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha (1938-1981) - o grande impacto daquele ano. Somente 16 anos depois, outro filme nacional voltaria a encabeçar a lista - "Eles não Usam Black Tie", de Leon Hirzman (1938-1987), da peça de Gianfrancesco Guarnieri. Mas, ao longo destas duas décadas, outros filmes brasileiros figuraram entre os melhores do ano - "São Paulo Sociedade Anônima", de Luiz Sérgio Person (1936-1976), "A Hora e a Voz de Augusto Matraga", de Roberto Santos (1928-1987), "O Padre e a Moça", de Joaquim Pedro de Andrade e "Os Fuzis", de Ruy Guerra , em 1966; "Terra em Transe", de Glauber Rocha, em 1967; "Macunaíma", de Joaquim Pedro, em 1970; "O Capitão Bandeira Contra o Dr. Moura Brasil", de Antônio Calmon, em 1971; "Lúcio Flávio, O Passageiro da Agonia", de Hector Babenco, em 1977; "Tudo Bem", de Arnaldo Jabor, em 1979; "Eles não Usam Black Tie", de Leon Hirzman; "O Homem que Virou Suco", de João Batista de Andrade e "Pixote, A Lei do mais Fraco", de Hector Babenco, em 1981; "Jango", de Silvio Tendler, em 1984; "Cabra Marcado para Morrer", de Eduardo Coutinho em 1985 (também classificado na listagem, "Erendira", de Ruy Guerra, mas rodado no Exterior); "O Beijo da Mulher Aranha", de Hector Babenco; "Eu Sei que Vou te Amar", de Arnaldo Jabor e "A Hora da Estrela", de Suzana Amaral, em 1986.
No democrático e amplo critério da indicação dos melhores, ouvindo-se críticos, pesquisadores, estudiosos e cinéfilos, que acompanham o cinema sem radicalismos, voltados ao que cada um considera mais importante, obviamente acontecem ausências lamentáveis - o que é normal em qualquer seleção, seja no Oscar, nos festivais de Cannes, Gramado ou Brasília.
Este ano, quando procuramos ampliar o leque de forma mais abrangente, buscando opiniões de críticos de sete Estados (e esperamos no futuro, ter todas as capitais brasileiras aqui representadas), 12 filmes nacionais, da produção de 1986/87 estão entre os 70 lembrados nas diferentes relações - infelizmente nenhum atingindo o volume de pontos que possibilitasse sua inclusão entre os 10 melhores.
Acompanhando os principais festivais de cinema realizados no Brasil (Gramado, Brasília, Fortaleza, FestRio), sentimos paralelamente ao fortalecimento dos filmes em longa-metragem, uma crescente melhoria nos curtas e média-metragem, o que, pode também justificar, futuramente, quadros especiais para estas categorias. Dos filmes brasileiros, inéditos comercialmente, mas mostrados em festivais em 1987, as duas produções mais importantes foram, em nosso entendimento, os documentários "Memória Viva", de Octávio Bezerra (representando o Brasil no IV FestRio, ali obtendo prêmio especial do júri oficial e mais duas menções) e "Terra para Rose", de Tetê de Moraes (grande premiado na categoria 16mm no XIX Festival de Cinema de Brasília e obtendo o "Coral dos Corais" - a láurea máxima - do recém encerrado 9o Festival do Novo Cinema Latino-Americano em Havana). Entre os média-metragens, a proposta mais avançada foi a de Adilson Ruiz que após o belo documentário "Infinita Tropicália" (sobre a música dos anos 60/70), mergulhou no intelectualismo do Goethe ("Werther" e nas teorias de Roland Barthes, para realizar o inquieto e profundo "Carlota Amorosidades", também premiado em Brasília. Chegando aos circuitos comerciais (espera-se), de "Memória Viva" e "Terra para Rose", por certo, terão grandes condições de figurarem entre os melhores filmes de 1988 - que promete muito, com filmes como "Luiza Homem", de Fábio Barreto; "A Bela Palomeira", de Ruy Guerra; "Pagu", de Norma Benguel; "Banana Split", de Paulo Sérgio Almeida e "A Menina do Lado", de Alberto Salvá, cinco filmes inéditos comercialmente - e cujos realizadores sonham em ver representando o Brasil nos festivais de Berlim, Cannes, Veneza e outros - e que poderão estar na próxima edição do Festival de Gramado, que abre, em abril, a temporada dos grandes eventos cinematográficos no Brasil.
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Sem pretensões, apenas como indicação pessoal, relacionamos a seguir os dez melhores filmes brasileiros lançados em 1987.
1. "Anjos do Arrabalde", de Carlos Reichenbach.
2. "Besame Mucho", de Francisco Ramalho Jr.
3. "Anjos da Noite", de Wilson de Barros.
4. "Fronteira das Almas", de Hermano Penna.
5. "O País dos Tenentes", de João Batista de Andrade.
6. "A Cor do Seu Destino", de Jorge Duran.
7. "Leila Diniz", de Antônio Carlos Lacerda ("Bigode").
8. "Um Trem para as Estrelas", de Cacá Diegues.
9. "Urubus e Papagaios", de José Joffily, filho.
10. "Tigipió", de Pedro Jorge de Castro.
LEGENDA FOTO - Dois filmes sobre o Brasil: em "O País dos Tenentes", a crônica das revoluções frustradas e em "Fronteira das Almas", a denúncia da posse da terra na Amazônia.
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