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Aramis

Entre 43 livros sobre cinema, 22 brasileiros

Ao menos dois escritores brasileiros abordaram aspectos do cinema estrangeiro entre os 43 títulos da gorda bibliografia cinematográfica lançada no Brasil no ano passado. O jornalista Argemiro Ferreira, em "Caça às Bruxas - MacCarthismo, uma Tragédia Americana" (L&PM Editores, 272 páginas) fez uma introdução e análise do período de perseguição macartista nos Estados Unidos, com destaque para o caso dos roteiristas, diretores e atores. Por coincidência, o mesmo tema é abordado agora por Fernando Peixoto em "Hollywood, Episódios da Histeria Comunista", lançado há poucos dias pela Paz & Terra. O ex-cineasta e hoje crítico Alfredo Sterheim, associado à Márcia Kupstas, escreveu "Nosso Amigo Charles Chaplin", bibliografia sintética do mais famoso ator-diretor de todos os tempos. A introdução é do curitibano José Augusto Iwersen, que em 1962 aqui fundou o Cineclube Pró Arte e hoje, radicado em São Paulo, edita várias publicações de cinema (Nova Sampa Diretriz Editora, 106 páginas). xxx O pensamento de vários cineastas pode agora ser melhor conhecido graças a algumas das 21 obras de cinema, em traduções, que chegaram às livrarias do Brasil no ano passado. Em "Introdução à Verdadeira História do Cinema", Jean Luc Godard faz uma análise sobre o que entende como o significado do cinema e a impossibilidade de se contar uma história única sobre as imagens criadas através do cinema desde os irmãos Lumiére (tradução de Antônio de Pádua Danesi, Livraria Martins Fontes, 311 páginas). Depois de "Os Filmes de Minha Vida" - traduzido no Brasil há 2 anos - a mesma editora Nova Fronteira lançou "O Cinema Segundo François Truffaut", reunindo novos depoimentos do diretor de "Jules et Jim" através de entrevistas e críticas escritas pelo cineasta (tradução de Dau Bastos, 450 páginas). A mesma editora publicou dois outros importantíssimos livros: "Escritos sobre Cinema" (1926-1971), de Jean Renoir (1894-1979), com reflexões autobiográficas do editor de "A Grande Ilusão", compilação de Janine Bazi e François Truffaut, tradução de Pinheiro de Lemos. Já "Luchino Visconti - O Fogo da Paixão", de Laurence Schifano (tradução de Maria Helena Franco Martins, 488 páginas) é a mais completa biografia do diretor de "La Terra Tremma". O mais famoso cineasta japonês, Akira Kurosawa, pode ser melhor conhecido pelo seu "Retrato Autobiográfico", lançado pela Estação Liberdade. Só que o relato do diretor de "Os Sete Samurais", se encerram em 1950, quando realizou "Rashmoon". Em compensação, outro notável cineasta nipônico, Yasujiro Ozu, mereceu uma obra coletiva organizada por Lúcia Nagib e André Parente, da Fundação Cinemateca Brasileira: "Ozu, o Extraordinário Cineasta do Cotidiano" (Editora Marco Zero, 204 páginas). A retrospectiva de Kenji Mizoguchi (1898-1956) - que na semana passada foi apresentada no Cine Luz - motivou a outra antologia, igualmente editada graças ao entusiasmo de Carlos Augusto Calil, da Cinemateca Brasileira e organizada por Lúcia Nagib - "Mestre Mizoguchi - Uma Lição de Cinema", que reúne 13 depoimentos, incluindo Godard e Giles Deleuze (Navegar Edições, Rua Galvão Bueno, 450, São Paulo, 189 páginas). Andrei Tarkovski (1932-1986) teve uma coletânea de seus ensaios reunidas em "Esculpir o Tempo" (Editora Martins Fontes, tradução de Jefferson Luiz Camargo e Luís Carlos Borges, 305 páginas). Giles Deleuze, um dos mais notáveis ensaístas de cinema na França, finalmente pode ter suas idéias conhecidas no Brasil. Em tradução de Eloísa de Araújo Ribeiro, aqui saiu "A Imagem do Tempo" (Brasiliense, 310 páginas), com sua interpretação filosófica da imagem fotográfica a partir de teorias de Bergson e das concepções semióticas. Dois outros livros-textos, em profundidade, que foram lançados no Brasil: "A Forma do Filme" e "O Sentido do Filme", de Sergei Eisenstein (1898-1948) (traduções de Teresa Ottoni, Jorge Zahar Editor, 228 e 146 páginas respectivamente). No primeiro, ensaios escritos pelo realizador de "O Encouraçado Potemkim", entre 1929/40, desenvolvendo sua teoria da montagem, com apresentação, notas e revisão técnica de José Carlos Avellar, um de nossos mais competentes ensaístas de cinema. Já em "O Sentido do Filme", Eisenstein faz uma revisão das teorias de montagem da época do cinema mudo, feitas a partir da experiência na preparação de "Alexandre Nevsky" (1938). Ainda na linha de obras profundas sobre cinema inclui-se "Antropologia do Cinema", de Massimo Canevacci (Brasiliense, tradução de Carlos Nelson Coutinho, 176 páginas). É um ensaio analítico sobre as teorias cinematográficas da primeira metade do século (reedição revista e ampliada da primeira edição publicada em 1984). Ainda para quem gosta de pensar em profundidade o cinema saiu "A Linguagem Cinematográfica", de Marcel Martin (tradução de Paulo Neves, Brasiliense, 284 páginas), um ensaio de filmologia.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
23
28/02/1991

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