Login do usuário

Aramis

Conheça melhor outros mestres da época da música orquestral

A música das Big Bands era feita para dançar. Mesmo no caso de criadores da maior voltagem como Duke Ellington (1899-1974) a meta era produzir um som bailável, que fizesse os americanos esquecerem os problemas do crack de Wall Street (1929) e a grande depressão econômica que se seguiu - pois foi nos anos 30 que o swing fez multiplicarem-se as orquestras. Um fenômeno musical que se internacionalizaria e refletiria-se em milhares de orquestras que, buscariam aquele estilo redondo, colorido e saboroso de arranjos - fosse na Paraíba, onde nasceu a Tabajara - até hoje ainda sob a batuta de Severino Araújo - fosse em Curitiba, com o veterano baterista e band leader Genésio Ramalho, com sua orquestra que nos bons tempos do "Chá Dançante de Engenharia" na antiga sede da Sociedade Duque de Caxias (hoje lojas Muricy) embalava romances de casais que hoje vêm seus netos, infelizmente, ensurdecerem com um som elétrico e que nada possui daquele estilo marcante dos anos 30/40. Portanto, o pacote da CBS/Sony Music, lançado há 40 dias, traz o som de músicos e band-leaders que marcaram época - embora em alguns casos não tivessem seus discos chegado ao Brasil na época. Por exemplo, Mal Kemp (1900-1940), começou tocando piano e clarinete. Em 1922 já tinha sua banda na Universidade da Carolina do Norte (onde formou-se em 1926) e logo fazia sucesso na Europa. Já Lester Lanin (1911-1985) veio de uma família de músicos e sua big band tornou-se a favorita da alta sociedade nova-iorquina. Uma de suas glórias era ser requisitado para tocar na Casa Branca - dançarem ao seu som. Já Kay Kyser (1906-1985) foi um maestro diferente: não tocava nenhum instrumento - e ao substituir Hal Kamp na orquestra da Carolina do Norte - criou o show "Kollege Musical Knowlegde", onde simulava "saratinas" com questões estúpidas. De certa forma, fez aquilo que outro maestro, Spike Jones, desenvolveria nos anos 50: o humor com grandes orquestras. Em Hollywood, apareceu em muitas produções da RKO - como "That's Right, You're Wrong" (Está Certo, Você está Errado), inspirado em suas brincadeiras, numa comédia em que os astros eram o francês Adolph Menjou e Lucille Ball. Gente famosa aparecia nos filmes que fez - Boris Karloff, Bela Lugosi e Peter Lorre em "You'll Find Out" (1940) - uma das raras tentativas de unir o musical ao terror; John Barrymore em "Playmates" (1941); Jane Wyman (que foi a primeira mulher de Ronald Reagan) em "My Favorite Spy" (1942); Lena Horne em "Swing Gever" e Ann Miller em "Carolina Blues" (1944). Artie Shaw (Arthur Arshawsky), 81 anos a serem completados no próximo dia 23 de maio, clarinetista, regente e compositor - além de saxofonista (seu primeiro instrumento) fez várias experiências e trabalhos até que em 1937 criou sua primeira big band. Entre inúmeros crooners, teve uma muito especial: Billie Holiday. Nas 16 faixas selecionadas para este seu álbum com registros inéditos (no Brasil), pode-se ouvir uma cantora marcante - Peg La Centra, ao lado de dois crooners que também nunca antes haviam chegado em registros editados no Brasil: Wes Vaughn (valorizando um belíssimo tema de Gershwin, "I Used to be Above Love"), e Tony Pastor. Ao contrário dos outros grandes band-leaders - que se mantiveram em atividades até morrer - Shaw preferiu uma tranqüila aposentadoria, afastando-se da vida musical para escrever sua autobiografia [citando as mulheres] com quem foi casado, entre as quais Ava Gardner, Lana Turner e Katheel Winson (famosa romancista). Foi como pianista e arranjador na banda de Shaw, que Claude Thornill (1909-1965), conseguiu uma de suas melhores chances profissionais, embora, anteriormente, já tivesse trabalhado com as orquestras de Paul Whiteman e Benny Goodman. Em 1937, acompanhava a cantora Máxime Sullivan (1911-1987) - (que até hoje está inédita fonograficamente no Brasil) - em suas primeiras gravações. Ao longo de sua vida, Thornill trabalharia com outros músicos notáveis - Gil Evans, Woody Herman, e, mostrando entender os novos tempos, se entrosaria com músicos mais jovens como Gerry Mulligan e Miles Davis (participando do histórico "Birth of the Cool"). Sua primeira banda existiu durante apenas dois anos (1940/42), mas posteriormente formaria outra, em 1946, e foi um precursor no uso de trompas no jazz - influenciando inclusive Miles Davies. No elepê que reúne 16 temas, há uma surpresa especial: o vozeirão de Fran Warren, que em faixas como "Early Autumm" e "A Sunday Kind of Love" lembra, inclusive, Sarah Vaughan (em início de carreira), conforme observou o crítico Carlos Callado. Harry James (1916-1983), trompetista, é de todos os músicos reunidos neste pacote o mais conhecido - e que tem muitos discos editados no Brasil. Músico desde os 14 anos, passou por bandas marcantes - como a de Benny Goodman - até fundar a sua primeira em 1939. Colecionou prêmios, sucesso e mulheres, aparecendo em filmes (em 1955, "A Música Irresistível de Benny Goodman", que deu um novo impulso a sua carreira), e até morrer manteve-se em atividade. No elepê que agora chega pode-se ouvir como crooner o então quase estreante Dick Haymes (1930-1980) em alguns momentos inesquecíveis ("I'll Get By", "As Long as I Have You", "The Devil Sat Down and Cried"), enquanto Betty Grable - com quem Harry se casaria, mostra sua voz em "I Can't Begin to Tell You" e outra crooner, Kitty Kallen, vem em "It's Beginning to See the Light", "It's Been a Long, Long it". Além de "Ciriribin" - o prefixo da banda - um standard de James que não poderia faltar: "Sleepy Lagoon".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
07/04/1991

Enviar novo comentário

O conteúdo deste campo é privado não será exibido publicamente.
CAPTCHA
Esta questão é para verificar se você é um humano e para prevenir dos spams automáticos.
Image CAPTCHA
Digite os caracteres que aparecem na imagem.
© 1996-2016. tabloide digital - 35 anos de jornalismo sob a ótica de Aramis Millarch - Todos os direitos reservados.
Desenvolvido por Altermedia.com.br