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Aramis

Aquelas "big bands" que fizeram o mundo dançar por muito tempo

Durante pelo menos três décadas, eles reinaram absolutamente. Amparados em exercícios de fulgurantes metais dourados, em contraponto a ajustadíssimas secções de cordas e discreta percussão, com harmonias perfeitas, as big bands eram absolutas em sua popularidade. Mesmo sem chegar a inventividade dos negros gênios jazzísticos - como os angustiados Charlie Parker, ou Lester Young - que se debatiam entre o álcool e drogas, músicos-maestros menos famosos junto aos círculos cult eram, entretanto, muito bem sucedidos financeiramente. Às vezes também amorosamente, pois ao menos dois deles conquistaram estrelas hollywoodianas quando estavam em seus apogeus: Harry James (1916-1983) foi apaixonado por Betty Grable (1916-1973), uma loira que se dizia ter as mais belas pernas do cinema depois de Marlene Dietrich, e Artie Shaw, ainda vigoroso aos 80 anos, amargou chifres e dores de cotovelo durante o período (1945-47) em que foi o segundo marido de Ava Gardner (1922-1990), cuja autobiografia, recém lançada pela L&PM, lembra esta fase. Mas se Harry James (que chegou a vir a Curitiba, já na última fase de sua carreira, apresentando-se com sua big band no Auditório Bento Munhoz da Rocha Neto) e Artie Shaw se tornaram famosos, aparecendo, inclusive em filmes, já dezenas de outros líderes de big bands que embora tivessem tido grande sucesso nos Estados Unidos até hoje permanecem esquecidos no Brasil. Afinal, até há pouco as poucas gravadoras que investiam no catálogo jazzístico só privilegiavam em termos de grandes orquestras, nomes como os de Duke Ellington, Glenn Miller (que se tornou consumido após "Moonlight Serenade" ter sido utilizada na trilha sonora da novela "Escalada"), Les Elgart e algumas outras. Felizmente, existe na fonografia brasileira um homem da competência de Maurício Quadrio, 60 anos - 41 dos quais dedicados a fazer com que a melhor música - dos clássicos ao popular - chegue ao público. Como executivo da área de clássicos & jazz da Sony Music (ex-CBS), Quadrio tem sabido organizar excelentes fornadas do que existe de melhor nos amplos catálogos daquela multinacional, agora sobre controle dos japoneses. Assim, após um primeiro pacote que mostrou dez exemplos de big bands mais famosas, Maurício inicia 1991 com um segundo volume de "Best of Big Bands", no qual inclui pelo menos seis orquestras que não tinham, ainda, discos no mercado. O panorama das big bands é imenso e prova disto é que uma notável entidade, o "Institut of Jazz Studies Oficial Archive Colection", ligado a Franklin Mint Record Society, na Pensilvânia, EUA, iniciou em 1981 um projeto notável: em caixas com 4 elepês e um livro, passou a reunir o fundamental de todas as big bands que, em diferentes partes dos Estados Unidos, tiveram trabalhos gravados. Enquanto pudemos acompanhar a coleção, mais de 50 orquestras já haviam sido incluídas - e isto representava apenas uma parte do acervo pesquisado. Portanto, embora o consumidor menos informado estranhe nomes como de Lester Lanin, Will Bradley e Ray McKinley, Hall Kemp, Kay Keyser e mesmo Claude Thornhil - que ao lado de Artie Shaw, Harry James, Les Brown (com a então jovial Doris Day como crooner) e o mitológico Eddy Duchin, formam o pacote da Sony Music, não se surpreendam! São apenas alguns dos muitos nomes de músicos (brancos, em sua maioria) que fizeram os americanos - e parte do mundo - dançar nas décadas de 30 a 50. Quando a música tinha harmonia, cores e sonhos.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Música
4
10/03/1991

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