O verdadeiro Eddy Duchin que o cinema americano eternizou
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 10 de março de 1991
Podem acreditar: Eddy Duchin existiu. Na segunda metade dos anos 50, apaixonadas donzelas e românticas adolescentes achavam que o pianista era mesmo o galã Tyrone Power (1914-1958), que teve em "Melodia Imortal" uma de suas últimas aparições no cinema (faleceria dois anos após, durante a rodagem de "Salomão e a Rainha de Sabá"). Interpretando o pianista Eddy Duchin (Cambrigde, 01/04/1900 - Nova Iorque, 09/02/1951), Power, um dos mais bem sucedidos galãs dos anos 40/50, criou um personagem inesquecível: o jovem interiorano que com seu talento de pianista conquista Nova Iorque nos anos 20, casa-se com uma belíssima herdeira - Margie Oelrichs (1918-1937), que morre de peritonite e complicações pós-maternidade (interpretada por Kim Novak, no auge de seus 23 anos) - e, desiludido, vai para a II Guerra Mundial. Ao voltar, tenta reconquistar seu único filho, Peter (hoje também um pianista de relativo sucesso), apaixona-se novamente mas morre de leucemia aos 51 anos.
George Sidney, então aos 45 anos, ativíssimo diretor de filmes dos mais diferentes gêneros, vindo do mais kitsch dos musicais estrelados por Esther Willians ("A Noiva de Netuno"), soube, habilidosamente, costurar um roteiro que fez de "Melodia Imortal" (The Eddy Duchin Story) um dos maiores sucessos de bilheteria entre 1956/57 - até hoje com sua trilha sonora (interpretada ao piano por Carmen Cavalaro) mantida em catálogo.
Apesar de todo este sucesso na tela, nenhuma gravadora no Brasil havia se animado a editar discos com o verdadeiro Duchin ao piano regendo sua orquestra. Talvez por receio de frustrar o público que aliava-o aos açucarados arranjos de Cavalaro, mostrados no filme. Na verdade, não havia motivo de temor: sem ter sido nenhum gênio, Duchin foi um pianista de bom gosto, escolhendo sempre repertório de primeiro nível e que encontrava grande empatia para com o público. Ary Barroso (1903-1964) deve, inclusive, a Duchin, grande parte da popularização de seu "Aquarela do Brasil" (com "z" foi levado por Duchin e sua orquestra nos tours que fez durante a II Guerra Mundial na qual serviu como tenente-músico ao lado de tantos outros nomes famosos que foram integrados às Forças Armadas americanas (James Stewart, por exemplo, chegou a brigadeiro na Usaf). Naturalmente, Duchin veio ao Brasil e por US$ 5 mil apresentou-se por uma semana no Copacabana Palace, na época o melhor hotel da América do Sul, com seu Golden Room com as maiores atrações do mundo.
Duchin apareceu em filmes (um deles foi "Navy Blues", ao lado de Jack Haley, Jack Carson e Ann Sheridan) e atuou em muitos "shorts" - documentários musicais que complementavam as sessões cinematográficas. Curiosamente, em sua orquestra as crooners se sucediam com uma notável rapidez e com isto só experts é que são capazes de identificar as diferentes vozes que passaram pela sua banda. Uma das melhores foi Patrícia Nornam, que com ele gravou "Old Man Mose", em setembro de 1938 - uma das 16 faixas incluídas agora neste álbum excelente em termos de documentação. Mary Martin, grande nome dos musicais da Broadway (e alguns filmes) também esteve entre os "canários" da banda Duchin, aqui podendo ser ouvida em "My Heart Belongs to Daddy", clássico de Cole Porter (1891-1964), que Elba daria a interpretação definitiva mas que sempre será associada à sacana "leitura" que Marilyn Monroe (1926-1962) dela fez no filme "Adorável Pecado" (Let's Make Love, 1960, de George Cukor).
Outras vocalistas que passaram pela banda de Duchin também aparecem - June Robbins (em duo com Johnny Drake em "Our Love Affair" e "Jenny" de Gershwim / Weill), ao lado das vozes masculinas - Stanley Worth ("September Song"), Frank Munn ("The Song is You"), Dick Robertson ("My Cousin in Mdwaukee") e, especialmente, Lee Sherwood, privilegiado em cinco momentos. Há ainda a chance de um trio vocal - "The Three Earbenders" - se fazerem ouvir no tema que Gordon / Harry Warren criaram para o filme "Minha Secretária Favorita" (Down Argentine Way), que tinha Carmen Miranda em destaque.
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