Artigo em 17.01.1982
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 17 de janeiro de 1982
Surpreendentemente, foi um frevo ("Muito Prazer", João Paraná/Panchito Arabé) que venceu o Abre-Alas – Festival de Música de Carnaval, em sua 2a edição, encerrada na semana passada. Para os paranaenses, o frevo é um gênero praticamente desconhecido – apesar de seu calor e vibração, o que pode explicar o engano que Paraná/Panchito cometem na primeira fase de sua música ("O frevo nasceu na Bahia)
Como os discos da Rozemblit/Mocambo, de Recife, não são distribuídos no Sul, deixamos de ter chance de conhecer os excelentes frevos pernambucanos, que fazem Carnaval de Recife competir com o de Bahia em ritmo e animação. Por estas e outras razões, é dos mais salutares que a série Asas da América, idealizada pelo pernambucano Carlos Fernando[,]tenha seqüência. Após os dois primeiros discos feitos na CBS em 1980/81, Fernando passou para a Ariola por onde temos ema nova edição deste álbum antologia. Ao invés de um simples álbum-montagem, feito com frevos de destaque, a produção de Carlos Fernando é cuidadosa e original: mostra frevos inéditos, nas melhores interpretações com isto um disco de garra e entusiasmo. Por exemplo, para esta terceira seleção houve a participação de nomes do maior prestígio nas interpretações dos frevos do próprio Carlos Fernando> o MPB-4m acompanhado de Novelli (baixo), Robertinho Silva (bateria), Paulo Rafael (guitarra), mais uma excelente secções de metais (com arranjos de Sivuca) – Netinho, Macaé, Aurino, Maciel, Norato, Formiga e Amilton, em "Batalha", Alceu Valença, com um coral de vozes formada por Regininha, Viviane, Solange, Suzana e Nair, embala Massa Real Madrid - enquanto Geraldo Azevedo tem nada menos que o veterano mestre Juarez Araújo no arranjo a "Cala a Boca Menina" do mestre Capiba, que comemora seus 50 anos de frevo. Outras homenagens marcantes: Zé da Flauta reverenciando a família que segura a peteca da banda pifanos de Caruaru em "Bianos no frevo" e Juarez Araújo, sax-tenor solista, com seu efervescente " Saxofrevando prá Mabel ". Igualmente estimulante a seleção do lado B: "Século XXI", com um refrão de Caetano Veloso, teve a interpretação de Elba Ramalho; enquanto Fgeraldinho Azevedo retorna em "Menina Prnambucana". Tadeu Mathias é o novo vocalista que aparece em "Cine Marconi", enquanto o próprio Carlos Fernando ataca também de vocalista em seu Cara Caruaru, que tem um refrão de Jacaré, figura popular das ruas de Caruaru" O pulo do Passo", de Robertinho do Recife – que sola na guitarra, encerra este disco vibrante e que se constitui, até o momento, no primeiro bom registro carnavalesco de 1982. Afinal, a Top Tape, cerrando suas portas, nem se preocupou em divulgar os dois álbuns com os sambas-enredo das Escolas de Samba do Rio de Janeiro e a Polygram, que tenta entrar na área, é uma fábrica que deixou de ter promoção em Curitiba devido a inabilidade de seu representante comercial – atritado com os principais veículos de divulgação.
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A imagem de Pedrinho Mattar (São Paulo, 19/8/1936) é a do pianista de smoking, sofisticado, tocando um repertório internacional nas mais luxuosas boates paulistas. Realmente, este pianista tem uma extrema sofisticação em suas apresentações e repertório, o que faz ser disputado a peso de ouro para animar as noites e ambientes como o Galley, e outras casas onde não se faz um programa por menos de dois salários mínimos. Mas Mattar é um bom pianista, que há 16 anos fazia, por exemplo, um histórico disco ("Rapsodia", RCA, 1965) e em todas suas gravações oferece um som suave e harmonioso. Agora, em "Brasileirinho" (RGE, 308.6013), Mattar volta-se a música brasileira, com arranjos muito pessoais para clássicos como "Jura" (Sinhô), "Travessia" (Milton/Brandt), "Aquarela do Brasil" (Ary Barroso), "A Noite do Meu Bem" (Dolores Duran), "Garota de Ipanema" (Tom/Vinicius) "Arranhei-te. Cavaquinho" (Ernesto Nazareth), "Tico-Tico no Fubá" (Zequinha de Abreu), "Brasileirinho" e "Delicado" (Waldir Azevedo); "Modinha" (Sérgio Bittencourt); "Na Baixa do Sapateiro" (Ary Barroso) e "Boa noite, Amor" (José Maria de Abreu/Francisco Mattoso). Embora Pedrinho Mattar seja, basicamente, um instrumentista-solo – obtendo o máximo rendimento de seu instrumento, no caso deste elepê com repertório sensivelmente verde-amarelo, houve uma harmoniosa distribuição também entre o baixo de Gabriel (Jorge Bahilis) e a percussão de Augusto Arid.
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O Gallery, uma super-boite paulista que reúne os boêmios e fãs de boa música co maior renda – capaz de suportar altíssimos preços, tem, obviamente, condições de promover, em sua discotheque, os hits internacionais. Por isto, é natural que Mister Sam (?), produtor da Copacabana, reunisse fonogramas de várias marcas – inclusive da Full Moon, da Austrália, para um elepê selecionado por Carlos Alberto Pagotto, o elegante disc-jockey da Gallery. Assim, num elepê descartável – mas de grande embalo – desfilam temas como "Shadadap Your Face" (Joe Dolce); "Gonna Get Over You" (France Jolli); "Body Music" e "Inch by Inch" (The Strikers), "Love Is In The Air" (Jonh Paul Young), "You Got My Love" (Sharon Redd) e Food Lovi" (J. R. Funk & The Love Machine).
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Na faixa de discos-montagens, uma fórmula econômica e prática que sempre garante bom retorno financeiro, a Sigla/Som Livre, especialista nesta fórmula, terminou 1981 com dois lançamentos apropriados. "Music is Present", com capa pensada por Vera Roesler especialmente para os festejos de Natal, o produtor Toninho Paladino reuniu intérpretes jovens como Carl Carlton ("She´s A Bad Mama Jama"), Ray Parker Jr. & The Radyo (That Old Song"); Gary Wright ("Really, Wanna Know You"), Danny Rush ("Is It Ok If I Call You Mine"), Kim Wild ("Ids In América" e Biff Williams (Takin Care Of Business"), ao lado de grupos - The Korgs ("All The Love In The World"), The Afternoon Delights (General Hospitale"). The Love Unlimited Orchestra (‘Bayou"), Oatawan ("Hands Up"), Balance ("Breakin Away") e Hot Shot ("Fire In The Night").
A música italiana, na faixa mais romântica, já proporcionou a Sigla Som Livre, várias e rendosas edições e por isto é natural que "Ritorna" esteja merecendo uma especial cobertura. O produtor Sérgio Motta reuniu neste disco-marketing especialmente temas conhecidos, como "Zingara" (Bobby Solo), "Teresa" (Sérgio Endrigo), "Fortíssimo" (Rita Pavone), "Per te Amore" (Alberto Lupo), "Cia amore, ciao" (Luigi Tenco), "No no l´eta per amarti" (Gigliola Cinquetti) e "O mio signore" (Edoardo Vianello). Mas o lado B de "Ritorna" traz interpretes italianos ainda não consagrados, mas igualmente suaves em seus estilos; Guido Renzi ("Tanto cara"), Carmelo Pagano (L´amore se ne va"), Michele ("Se mi vuoi lasciare"), Tony Renis ("Anonimo veneziano"), Memo Remigi ("Torna a casa mama"), Noi Giovani ("Noi ci amiamo") e I Santo California ("Un angelo").
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Uma nova dupla vocal aparece na praça, com um repertório bem escolhido, ótimas harmonizações e condições de conquistar seu espaço. Ao contrário de Jane & Herondy, especialista em versões comerciais, Edson e Terezinha mostram em "Que outro dia amanheça" (RGE, 308.6012, dezembro/81) um repertório de músicas inéditas, com momentos de grande ternura – como "Luzes e Estrelas" (Guilherme – Edson), "Não é Mais Preciso" (Edson – Terezinha), "Ciranda", "A Lua" e " Avenida do Contorno", estas só de Edson – incluindo ainda "Ciência e Natureza" (Sérgio Luiz). De Dory Caymmi – Paulo Cesar Pinheiro, a belíssima "Desenredo" é um momento especial e a própria participação especial de Dory e Toninho Horta, mais os arranjos e regências de Alberto Arantes/Marcos de Castro, valorizam a estréia desta nova (e promissora) dupla.
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