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Aramis

Da doce Marianne ao pop dos Doors

Três estréias auspiciosas e a reprise de um dos melhores filmes do ano ("Sonhos", de Akira Kurosawa, no distante Guarani) constituem alternativas interessantes nesta semana que oferece ainda, aos que se interessam pelo cinema italiano, a chance de (re)ver um dos primeiros filmes de Marco Bellochio, "I pugni in tasca" (De Punhos Cerrados, 1965) e o lírico "Amarcord" (Fellini, 1973), em versões originais, que o consulado da Itália/Circolo Emília-Romagna di Curitiba apresentam na Cinemateca do Museu Guido Viaro. "I pugni in tasca", é bom lembrar, foi um filme polêmico na época e poucos o viram pois teve apenas uma modesta semana de exibição do saudoso cine de arte Riviera. Percy Adlen tornou-se conhecido no Brasil depois que seu "Bagdá Café" levantou a Gaivota de Ouro no FestRio-86. Com a simpática roliça Marianne Sagebrecht, este filme levou três anos para chegar ao circuito comercial - mas confirmou a aceitação do público. Antes, Adlen já havia feito outro filme com Marianne, "Estação Doçura" (Sugar Baby), que a partir de hoje poderá ser visto no Groff. A terna história de amor entre duas pessoas humildes, contada com emoção num filme que chega ao coração. John Schlessinger, cineasta inglês da chamada geração angry young men, ficou famoso com "Midnight Cowboy" e sua filmografia é hoje respeitabilíssima. Portanto, atenção para seu novo filme, "Morando com o Perigo" (cine Astor) - cujo título no Brasil pode provocar confusões com o recente "Dormindo com o Inimigo" e outros assemelhados. A trama de Daniel Pyne é interessante: as relações de um sociopata, Carter Hayes (Michael Keaton, ator em "Batman" entre outros), com um jovem casal, Parry Palmer (Melaine Griffith, de "Uma secretária de futuro", "Fogueira das vaidades") e Drake Goodman (Matthew Modine, de "Nascido para Matar"). Os três passam a dividir uma enorme casa vitoriana em San Francisco e o inquilino Hayes mostra um comportamento estranho, ameaçando o indefeso casal. Uma trama que resulta num filme psicológico, com toques de suspense, fotografado por Amir Mokri numa das cidades que mais tem servido de cenário a produções americanas - a chamada Frisco. A casa vitoriana na qual foi feita a maioria das seqüências (rodadas em locação a partir de 23 de janeiro de 1990) é uma construção histórica erguida em 1886 e que pertenceu a mesma família durante quatro gerações. No elenco, em papel secundário, a loira Tippi Hedren - lançada por Alfred Hitchcok em "Os Pássaros" (e que fez posteriormente "Marnie"), que é a mãe na vida real de Melaine Griffith. A trilha sonora é de Hans Zimmer, compositor que se firmou bastante nos últimos anos. Oliver Stone após ter voltado seu olhar para a guerra do Vietnã ("Platoon" e "Nascido em 4 de Julho"), o mercado de capitais ("Wall Street"), os perigos da comunicação ("Verdades que matam/Rádio Talk"), e a tragédia da América Latina ("Salvador, martírio de um povo") decidiu biografar o poeta pop Jim Morrison (James Douglas Morrison, 1943-1971) e o grupo "The Doors" (cine Plaza). Ao invés de fazer apenas uma cinebiografia sobre a curta vida de Morrison ou caricaturar o mito como fez Jim McBride em "A Fera do Rock" (1989, biografia de Jerry Lee Lewis) escolheu o mito que, na visão de Stone, transformou-se "numa fantasia do diretor", como escreveu Hervê Muller ("Premiére" francesa). O roteiro e Randal Johnson e Stone foi baseado no livro No one here gets our alive de Danny Sugerman e Jerry Hopkins (1980). A trilha, selecionada pelo próprio Stone, reúne as músicas convencionais do grupo (Ray Manzarek, tecladista do grupo, negou-se a participar do projeto) e além de sua edição em CD, o sucesso do filme provocou o reaparecimento da maioria dos discos do The Doors - em laser, naturalmente.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Cinema
02/08/1991

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