"Talk Radio", o melhor filme desperdiçado no Cine Guarani
Artigo de Aramis Millarch originalmente publicado em 24 de outubro de 1991
Numa semana com cinco estréias, o lançamento politicamente mais atual e oportuno - "Talk Radio - Verdades que Matam" - está sendo criminosamente desperdiçado no distante e pouquíssimo procurado cine Guarani, no Centro Cultural do Portão. Nem o fato do diretor Oliver Stone ser o consagrado diretor de "El Salvador - Martírio de um Povo", "Plattoon", "Wall Street" e "Nascido a 4 de Julho", nem os dois prêmios dados a Eric Bogosian (Urso de Prata, Festival de Berlim-1988) fizeram com que os "programadores" (sic) da Fucucu colocassem este filme num dos cinemas centrais mantidos pela Prefeitura.
Inspirado em fato real - o assassinato do radialista Alan Berg, em 1984, - a denúncia sobre a violência contra um animador de "Talk Shows" numa rádio do Texas tem extrema atualidade - e no mesmo ano em que Stone fazia este filme (antes de rodar "Born on the Fourth July"), outro cineasta corajoso, o grego Costa Gravas, também citava a morte de Berg em seu "Betraved" ("Atraiçoados", a disposição em vídeo).
Assim, para se ver "Radio Talk" em tela ampla (a Look Vídeo lançou há mais de um ano o vídeo, mas com imagens deficientes) será necessário "viajar" ao Portão e esperar que a sessão não seja suspensa - pois a falta de público faz com que muitas vezes aquele cinema nem chegue a funcionar.
Já Bertrand Blier - é uma recomendação para assistir "Linda Demais Para Você" (Trop Belle Pour Toi), que há dois anos disputou o Festival de Cannes - obtendo o prêmio de melhor roteiro. Com o mais popular ator do cinema francês - Gérard Depardieu - ao lado de Carole Bouquet e Josiana Balasko, "Trop Belle Pour Toi" tem a sensibilidade no trato de um triângulo amoroso, uma colocação inversa e que faz deste programa em cartaz no cine Luz merecer atenção.
John Landis, cineasta bem sucedido por uma série de filmes de grande empatia ("Um Lobisomem Americano em Londres", "Três Amigos", "Trocando as Bolas") credencia a comédia "Minha Filha quer Casar" (Oscar), que traz o ex-Rambo Sylvester Stallone em um papel suave: uma comédia tamanho família, na qual contracena com a veteraníssima Yvone DeCarlo (que em abril de 1961 apresentou-se como cantora no então em obras Guairão, alguém se recorda?) e também de outro galã dos anos 40, Don Ameche. Mas entre estes nomes conhecidos, estão muito jovens ainda desconhecidos no Brasil. Atenção para a trilha sonora do mestre Elmer Bernstein e, entre os assistentes de direção, nada menos que um ilustre neto do grande Frank Capra, falecido há poucas semanas. Em exibição no Astor.
Espião por engano é outra comédia digestiva, capaz de surpreender: Michel Corben (Richard Frieco) é um garotão em férias em Paris que acaba sendo confundido com um agente da CIA e se envolve em muitas confusões. Também com gente moça - além de Grieco, Linda Hunt, Roger Rees, Carole Davis - "Teen Agent" tem direção de William Dear. Em exibição no São João.
Milionário num instante - estréia do Itália - completa o quadro de digestivas comédias para este verão que inicia. Dirigido por Arthur Hiller - 68 anos, um veterano de altos ("Não Podes Comprar Meu Amor", "A Deliciosa Viuvinha", "O Homem de La Mancha") e baixos ("Love Story", "Plaza Suite", "Hospital" etc). Como uma das roteiristas é Jill Mazursky, seu marido, o cineasta Paul, produziu esta comédia sobre a troca de identidade entre um criminoso (James Belushi) e um executivo certinho (Charles Grodin) - temática que ("O Príncipe e o Mendigo" a "Trocando as Bolas") tem sido exaustivamente explorada. De qualquer forma, "Taking Care of Business" vale ser conferido.
"Ghost" entra em sua 52ª semana em cartaz. Um ano de exibição, três cópias já consumidas e um público recorde de todos os tempos - num fenômeno de comunicação. Para o atlético Egom Prim, o lançamento em vídeo não prejudicou a bilheteria. "Ao contrário, as filas aumentaram no Lido I".
No Ritz, neste final de semana, dá tempo para matar as saudades com o kitsch dos anos dourados do cinema brasileiro: "O Homem do Sputnik", que Oscarito e a estreante Norma Benguel fizeram em 1959, é o programa de hoje e manhã e domingo, uma antologia na linha "That's Entertainment" que o astuto Carlos Manga montou em 1974; "Assim Era a Atlântida". Segunda-feira, estréia no Ritz, outra comédia: "Romuald e Julieta".
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