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Aramis

Com a internacionalização, filmes melhores virão para o Festgramado

Gramado Se a função de um festival é refletir diversos caminhos, estilos temáticos de um país, esta 19ª edição encerrada ontem à noite cumpriu seus objetivos. Num momento em que pensavam que não existisse sequer títulos suficientes para preencher um programa competitivo - o que levou o diretor Esdras Rubin a, prudentemente, garantir a mostra internacional realizada com apoio da Distribuidora Belas Artes - apareceram longas, curtas e médias que, de uma forma ou outra, refletem a realidade brasileira em termos do que se consegue fazer em cinema. Longe de qualidade planejada, muitos pontos abaixo do que tivemos há 10 ou 15 anos, pessimista numa apreciação crítica mais rigorosa - como a que os críticos mais rigorosos fizeram em seus rápidos comentários publicados em jornais de vários Estados. Gramado, provou, entretanto, que seu festival não pode morrer. Consolidado dentro do calendário turístico-cultural da Região das Hortênsias - município de Gramado, Canela, Nova Petrópolis e São Francisco o festival é um empreendimento justificável economicamente e os Cr$ 120 milhões investidos pela Prefeitura, Secretaria Estadual da Cultura do Rio Grande do Sul, Fundação do Banco do Brasil e mais o apoio da Kodak, hotéis Serra e Serra Azul, CRTUR, Embratur e Assembléia Legislativa e a Varig (transportadora oficial) compensaram a sua realização. Naturalmente, olhos postos no futuro aproveitando a brecha deixada com a desativação do FestRio - e num segmento o Paraná poderia ter consolidado se a I Mostra do Cinema Latino-Americano (Curitiba, 3 a 10 de dezembro de 1987) não tivesse morrido em sua primeira edição, no início da administração Álvaro Dias, Gramado assume a internacionalização. Embora com algumas opiniões discordantes, a partir de 1992 - coincidindo com o seu 20º aniversário e as comemorações dos 500 anos de descoberta da América - será aberto a participação em até 70% de filmes vindos de países com cinematografia em consolidação ou consolidada (Chile, México, Venezuela, Colômbia, Argentina, Espanha, Portugal e tendo 30% a 40% de filmes nacionais, convidados pela sua comissão organizadora. Com isto, garante-se que caso não haja um ressurgimento da cinematografia brasileira - o que só será possível com sólido apoio oficial e resultados reais da recém-parida Lei Rouanet - não haverá necessidade de se repetir a generosidade deste ano: a tentativa de esvaziá-lo feita pela Fundação Cultural do Distrito Federal, que antecipou o seu 23º festival e inflacionou premiações graças ao orçamento de Cr$ 200 milhões - somada a falta de maior número de filmes em condições de competir, fez com que viessem disputar os Kikitos longas (e mesmo alguns curtas) que, em outras circunstâncias, não teriam chance. Foi o caso de "Manobra Radical", simpática comédia jovem de Elisa Tolomelli, sobre um grupo de surfistas em imagens turísticas (Florianópolis, Salvador, Recife, Ilha de Fernando de Noronha etc.) numa produção bem cuidada mas que não resiste, obviamente, a exames mais rigorosos. Três dos seis longas que disputaram Brasília - o odiado e polêmico "Rádio Auriverde" (aqui recebido friamente, sem maiores discussões mas com rigorosas críticas na imprensa), "Matou a Família e foi ao Cinema" (que valeu ao diretor Neville de Almeida, ao receber o prêmio de melhor direção em Brasília, violentas vaias) e o comunicativo, alegre e de bom astral "Vai Trabalhar, Vagabundo II - A Volta" de Hugo Carvana, voltaram a competir. A eles somaram-se produções esforçadas como "A República dos Anjos", de Carlos Del Pino - rodada em Goiás, há dois anos (mostrado hors concours no encerramento do Festival de Brasília) e sobre o qual já publicamos duas grandes reportagens em O Estado, uma delas ainda em novembro de 1989, quando o filme tinha sido apenas rodado). Nos dois últimos dias da competição, vieram longas que foram finalizados apenas há alguns dias (e que, assim como "O Filme de Minha Vida" para o júri de seleção foram apresentados em cópias sem fita em vídeo) - "Não Quero Falar Sobre Isso Agora" e "Sampaku" - que analisaremos mais demoradamente na próxima semana. Depois de Roberto Faria, um dos gurus do cinema brasileiro, ex-presidente da Embrafilme, uma obra consistente, ter praticamente abdicado da direção em favor dos filhos, o terceiro herdeiro, Marcos, estréia com "Não Quero Falar Sobre Isso Agora", sobre Daniel (Evandro Mesquita, ex-Blitz), um otimista incorrigível, que vive no Rio dos anos 90, tem como projeto de vida ser escritor, mas que descobre que isso lha vai custar muito esforço e substitui a máquina de escrever por uma guitarra. Também buscando a faixa jovem - o diretor tem pouco mais de 20 anos, reuniu um elenco em que estão Eliana Fonseca, Marisa Orth (vista aqui também no curta mais confuso e medíocre da mostra de 16mm, "Três por Quatro"), Sandro Soviar e, em participações especiais, duas belas mulheres - Monique Lafond e Sílvia Pfeiffer. LEGENDA FOTO - Inspirado na vida de uma mística personagem de Goiânia, "A República dos Anjos" é uma co-produção com a TV Espanhola e que custou ao redor de um milhão de dólares.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
11/08/1991

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