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Aramis

Festival de Gramado inicia no dia dos 90 anos do cinema brasileiro

Gramado - O frio e a chuva fina que cai na serra não diminuiu o interesse pelo festival do cinema brasileiro que há 16 anos se realiza nesta paradisíaca cidade turística, hoje conhecida internacionalmente pela mais importante mostra competitiva do cinema brasileiro promovida desde 1972 - e que funciona como um grande termômetro da produção cinematográfica. O adiamento no festival deste ano - devido às obras de reforma e ampliação do Cine Embaixador, agora com 1.100 lugares e belíssimo em sua fachada ao estilo de construção bávara, de acordo com a arquitetura alemã desta zona do Rio Grande do Sul - fez com que a abertura do evento, na noite de domingo, com a primeira projeção pública de "Feliz Ano Velho" fosse a melhor maneira de se homenagear os 90 anos do cinema brasileiro. Pois foi no dia 19 de junho de 1898, também no domingo, que chegava no Rio de Janeiro o navio francês Bresil, trazendo entre seus passageiros encantados pela beleza da baía de Guanabara, Affonso Segreto, italiano, que viajara à Europa em busca de atrações para o salão de novidades que seu irmão mais velho Paschoal instalara em 1897 na rua do Ouvidor, 141. Entre as novidades, estava uma câmara de filmar, com a qual fez, a bordo, as primeiras tomadas da baía de Guanabara. Com a ironia que lhe é peculiar, Edmar Pereira, do Jornal da Tarde, observava que "sem se dar conta, Affonso Segreto estava inaugurando o cinema brasileiro. Nascido a bordo de um navio francês, pelas mãos de um italiano. O que, no mínimo, torna compreensíveis as muitas crises de identidade que esse cinema tem vivido em suas nove décadas". No sábado, na reinauguração do Cine Embaixador, ouviram-se muitos discursos sobre Gramado a ganhar um "palácio dos festivais" à altura de sua importância turística - e permitir que maior número de espectadores assista os filmes em competição. E os 90 anos do cinema brasileiro, naturalmente, marcarão a tônica do festival, numa época de crise de espectadores, com muitos cineastas e poucos recursos para desenvolver novos projetos. Apesar da queda impressionante do público das salas que exibem os filmes brasileiros (dez anos atrás, 62 milhões de espectadores para 81 filmes lançados em 1978; em 1988, nem os otimistas acreditam que se passe dos 20 milhões de espectadores para pouco mais de 40 filmes previstos para serem exibidos neste ano). Os cinemas continuam a fechar e, em 74 chegavam a 3.600, hoje não passam de 1.200. No Paraná, no chamado "território" atendido por Curitiba, há cinemas em apenas 22 cidades e só em três - Curitiba, Paranaguá e Ponta Grossa, há mais de um cinema. São dados preocupantes, mas que nem por isto esquentam a cabeça de centenas de pessoas ligadas ao cinema que, desde a tarde de sábado, chegam em levas ao aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre e, conduzidos em ônibus a Gramado, espalham-se pelos hotéis da cidade. Nomes famosos - artistas, cineastas, produtores, jornalistas, técnicos, disputam, cada vez mais, o privilégio de virem a Gramado, não só para assistir aos longas, curtas e médias em competição mas, principalmente, pelos atrativos que esta cidade, a 105 quilômetros da capital gaúcha, oferece, com seu estilo europeu, restaurantes que servem o melhor fondue do país, fábricas de chocolate, malharias - num artesanato multifacetado, e que tem, a cada ano maiores lucros, com os milhões de cruzados que os convidados aqui deixam durante os sete dias do festival. O movimento é intenso no Hotel Serrano, desde o ano passado transformado em QG do festival (graças ao esplêndido centro de convenções que o empresário Celso Bertolucci, previdentemente, fez edificar ao lado do hotel - e que tem intensa movimentação durante todo o ano). Isto estimulou que o Serra Azul, que até 1986 era o QG dos festivais, também reagisse e apresentasse a sua reforma e edificação de um centro de convenções. Mercado existe, pois nem só de cinema vive Gramado. Ao contrário, centenas de convenções, encontros e congressos aqui são realizados anualmente - afora um turismo que garante a lotação a mais de 60 hotéis existentes no município (sem contar Canela, com o Lage de Pedra, um dos melhores hotéis da América do Sul) e movimentar um comércio intenso - que faz sentir, nesta cidade, uma sensação de um país diferente, em termos de lazer e cultura.
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Almanaque
Tablóide
3
21/06/1988

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