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Aramis

A organização que faz de Gramado o grande festival

Definitivamente consagrado nesta sua 14ª edição como o mais importante Festival do Cinema Brasileiro, Gramado prepara-se para saltos maiores. O cine Embaixador, pertencente à comunidade e que com seus 600 lugares tornou-se acanhado para as disputadas sessões, vai ser ampliado em mais 500 lugares, conforme promessa do vice-prefeito Eloir Zorzanello, que também preside a comissão organizadora do evento. Um histórico imóvel da cidade já foi adquirido pela Prefeitura para ser transformado num misto de Museu-Cinemateca, preservando tudo que se relaciona aos 14 festivais até agora realizados: filmes, posters, catálogos, fotos,, etc. - além de cópias de curtas e longas rodados em Gramado, como "Gaudêncio, Centauro dos Pampas", que Fernando Amaral rodou em 1971, ou "As Filhas do Fogo", de Walter Hugo Khouri - entusiasta de Gramado, ao qual comparece todos os anos. O projeto mais ambicioso é desmembrar o festival em dois eventos: entre maio/junho, o Festival do Cinema Brasileiro. Dois ou três meses depois, uma mostra do cinema latino-americano - na qual o filme vencedor do festival nacional representaria o Brasil. A latinização de Gramado já começou. No ano passado (25 a 30 de março), a I Mostra do Cinema Latino-Americano, trouxe filmes da Colômbia ("Canaguaro", de Dunay Kutzmanich), Cuba ("Los Pajaros Tirandole De La Escopeta", de Rolando Diaz); Venezuela ("Carmen, La Que Contaba 16 Anos", de Romam Chalbaud); Argentina ("Los Ultimos Dias de La Victima", de Adolfo Aristarain) e México ("Maria de Mi Corazón", de Jaime Humberto Hermosillo). Este ano, como houve o encontro de mulheres cineastas, com a presença inclusive de realizadoras do Canadá, Venezuela, Colômbia e Argentina, a mostra se restringiu a filmes realizados por diretoras: da Argentina, ...), Colômbia ("Com Sumúsica a Otra Parte"), Peru ("Nora Izoue, "El Viento Del Ahyauasca"), México (Manuela Fernandez Violante, "Mistério") e Cuba. xxx Cidades turísticas por excelência, Gramado e Canela têm seus hotéis superlotados por ocasião do festival de cinema. Embora os eventos se concentrem nos hotéis Serra Azul e Serrano, toda a rede hoteleira é beneficiada com a promoção - pois além das centenas de convidados do Festival, milhares de porto-alegrenses aproveitam o Festival e vão passar ali o fim de semana. Até casas são alugadas - a preços altíssimos durante o Festival. O movimento só tende a aumentar - pois somando a um já intenso calendário de atrações turísticas montado pelo secretário de Turismo de Gramado, Luciano Peccin, a Embratur afinal decidiu-se pela construção de um Centro de Convenção, associando-se ao Hotel Serrano - com conclusão prevista para julho próximo. Com 3 mil metros quadrados de área construída a capacidade para mil pessoas disporá de completa infra-estrutura - com duas salas de projeção. O engenheiro Celso Bertolucci, 46 anos, presidente do Hotel Serrano, é um dos mais entusiastas por este espaço que, a partir de 1987, abrigará grande parte dos eventos não só ligados à música e cinema - mas também outros que movimentam a cidade durante quase todo o ano. xxx Durante toda esta semana, a imprensa nacional - afinal, mais de 150 jornalistas ali estiveram, num esquema perfeito de atendimento comandado pela profissional Arlete Andreazza - reconheceram que Gramado consolidou-se como o grande impulsionador do cinema brasileiro. Mais de 100 filmes em exibição, quase 50 concorrendo a uma intensa cobertura. Quando começarão a ser vistos os filmes que estiveram em Gramado? Eis uma boa pergunta para Marco Aurélio Marcondes, o grandalhão e ativíssimo diretor de comercialização da Embrafilmes, que voltou a estatal com plenos poderes para dinamizar a distribuidora: Os filmes mais importantes - como "O Homem da Capa Preta", de Sérgio Rezende, o grando premiado em Gramado (júri oficial, júri popular; trilha sonora - David Tygel; ator - José Wilker; atriz - Marieta Severo) só estreará após a Copa do Mundo, provavelmente em setembro - coincidindo, aliás, com o aniversário de Tenório Cavalcanti. Que fará 77 anos e não 80, como consta da biografia oficial. O próprio filme, desfaz o equívoco do ano errado em que nasceu o político de Caxias. "Eu Sei Que Vou Te Amar", de Arnaldo Jabor - exibido hors concours em Gramado, concorrente em Cannes, estreou nacionalmente na semana passada e deve chegar a Curitiba nos próximos dias. Oportunidade de começar a ver na tela o talento de Fernandinha Torres, que virá também em "Com Licença, Eu Vou à Luta", de Lui Faria, "Sonho Sem Fim", de Lauro Escorel e "Marvada Carne", do paulista André Klotzel - premiado (inclusive o Kikito de melhor atriz) em 1985, mas até hoje inédito. Fora do esquema da Embrafilmes, dois dos mais interessantes filmes levados a Gramado talvez cheguem logo, dependendo da disposição de datas do circuito da Fama Filmes: "Filme Demência", que ganhou os prêmios de imprensa, direção (Carlos Reichenbach), montagen (Éder Mazini) e ator coadjuvante - Emílio Di Biasi (dividindo o troféu com Flávio São Thiago, por "Fulaninha", de David Nevex). Também "Jogo Duro", de Ugo Giorgetti - um filme interessantíssimo, mas sem qualquer premiação - pode chegar logo, já que foi realizado sem qualquer participação da Embrafilmes. Espera-se, ao menos que tenha lançamento digno, não entrando em programa duplo, como se fosse filmes pornôs - o que não é. Enfim, há muitos - e bons - filmes nacionais para serem lançados. Haja espaço e boa vontade. LEGENDA FOTO 1 - Emilio Di Biase, como Mefistofeles, recebe o seu Kikito. LEGENDA FOTO 2 - José Wilker e Guilherme Karam em "O Homem da Capa Preta".
Texto de Aramis Millarch, publicado originalmente em:
Estado do Paraná
Nenhum
Seção de Cinema
20/03/1986

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